Localizada no município de Tururu, a 119 km de Fortaleza, Conceição
dos Negros ou Conceição dos Caetanos é um dos poucos redutos de negros
existentes no Ceará. Quase todos os moradores pertencem a uma mesma família, a de
Caetano José da Costa, seu fundador. Proveniente do município de Pacoti-Ceará, ele comprou um pedaço de terra em 1887 por 200 mil réis, três anos depois da
abolição da escravatura no Ceará.
Comunidade Quilombola Conceição dos caetanos
(foto do site http://patrimonioparatodos.wordpress.com
No documento do registro das terras consta o seguinte termo:
“confrontações e características do imóvel:
uma posse de terra no lugar Conceição, deste termo, extremando para o
sul, no oitão da casa de José Martins com terras de João Germano da Silva. Pelo
norte com Francisco Gonçalves Marinho em um salgadinho rumo direito a uma
imburana que tem a vista da lagoa Timbaúba, pelo nascente o mesmo vendedor e
poente com o Rio Mandahú”.
Caetano trabalhou a terra juntamente com a família dentro
dos moldes rurais nordestinos. Possuía como únicos bens a terra, a casa, um
coqueiro, um tear e um caixão de madeira que comportava 16 alqueires de
farinha.
Comunidade Quilombola em Quixadá (foto Diário do Nordeste)
Como fundador do lugarejo, sendo o mais velho do clã,
exercia o poder de um patriarca, com ele eram discutidos os problemas e a ele
cabiam as decisões. Não permitia que os negros casassem com brancos. No Ceará,
é singular um reduto ter resistido por uma geração ao entrosamento com outras
comunidades.
Talvez, por ter sido esta discriminação de uma minoria, por
originar-se de um clã e pelo fato do Ceará ter sido o primeiro Estado
brasileiro a libertar os escravos, o tempo se encarregou de revelar infrutífera
tal atitude.
Assim também nas tradições, danças, canções,
costumes, ritos e crenças ensinadas pelo velho Caetano José, praticamente nada
mais existe, por não guardarem mais nenhum traço da cultura africana.
Desconhecem sua origem, fato que nos surpreende, já que nos revela o mestre
Luís Câmara Cascudo: “ em qualquer agrupamento a memória coletiva tem duas
ordens de conhecimento: o oficial e o não oficial que é o tradicional, oral,
anônimo, independente do ensino sistemático”.
fonte:
O Ceará dos anos 90 - Censo Cultural
Nenhum comentário:
Postar um comentário