sexta-feira, 25 de março de 2016

A Libertação dos Escravos e a Corrupção na Província

130 anos após a abolição da escravidão no Ceará, pesquisa no acervo do jornal Libertador revela senhores de escravos corruptos e se beneficiando do dinheiro público destinado à compra de alforrias.

Jornal Libertador edição de 25 de março de 1884

O escravocrata Antônio Benício Saraiva libertou seus escravos cinco anos antes da princesa Isabel assinar a Lei Áurea. Fazendeiro e político, Saraiva concedeu alforria em troca de indenização paga pelo Governo Provincial. Segundo o jornal abolicionista Libertador, o escravista fez da “liberdade” um negócio lucrativo. Inicialmente soltando “seus negros” no município de Baturité, o fazendeiro levou-os para Quixeramobim e alforriou novamente os mesmos escravos – ganhando, assim, indenização em dobro.
 
A denúncia sobre o episódio envolvendo Antônio Benício Saraiva (1823–1920) foi publicada, em outubro de 1883, no jornal Libertador. A história do fazendeiro e outras irregularidades que antecederam a abolição no Ceará foram noticiadas pelo periódico oficial da Sociedade Cearense Libertadora, mais destacada agremiação abolicionista que atuou no Ceará.

Sociedade Cearense Libertadora, composta por Isaac Amaral, Papi Júnior, William Ayres, João Cordeiro, Antônio Bezerra, Dragão do Mar, Alfredo Salgado, Oliveira Paiva, João Lopes, José Amaral, e Antônio Martins. 

Debruçando-se sobre o conteúdo do jornal, o historiador cearense Américo Souza tem encontrado denúncias como: libertação dos mesmos escravos mais de uma vez, histórias de cativos vendidos por preços exorbitantes e relatos de negros “livres” que continuaram sob o domínio dos senhores. Américo é professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab) e, junto dos orientandos Ellen Jardani e George Cavalcante, tem atualizado discussão sobre os processos que levaram ao fim do regime escravocrata.
 
“A abolição da escravidão no Ceará foi, em última instância, um grande negócio, no qual os proprietários foram os que mais lucraram; o povo, especialmente os escravizados, os que mais perderam e o Estado foi quem pagou a conta”, afirma Américo. O historiador ressalta: a “esmagadora maioria” das alforrias foram obtidas por meio de indenização paga pelo Governo Provincial.
 
Criado em 1881 e tendo circulado até 1892, o jornal Libertador cobriu os bastidores da abolição cearense, ocorrida com quatro anos de antecedência em relação ao resto do País. Naquele 25 de março de 1884, Sátiro de Oliveira Dias, presidente da província do Ceará, decretou liberação de todos os escravos dessas terras. Passados 130 anos, o feito é agora analisado para muito além da obra de uma “elite branca, humanista e modernizadora que quis por fim ao regime”, como pontua Américo.

“A quota do fundo de emancipação, agora distribuída ao Ceará, será aproveitada para arranjos e outros fins inconfessáveis, como tem sucedido, se as juntas respectivas não se acautelarem contra esses negreiros infames”, publicou o jornal Libertador em 17 de Agosto de 1883. O fundo monetário estabelecido pelo Governo Imperial era destinado à libertação de escravos e distribuía recursos para a indenização dos senhores.

Sede da Assembleia Provincial do Ceará

Além do dinheiro advindo do Governo Imperial, entre 1868 e 1883, a Assembleia Provincial do Ceará, composta em sua maioria por deputados proprietários de escravizados, aprovou um conjunto de leis que autorizava o Governo Provincial a destinar grande soma de recursos para a compra de alforrias. Assim, os próprios escravocratas criaram leis para conseguir libertar seus escravos em troca de altas quantias de dinheiro.
 
“As denúncias do Libertador revelam a fragilidade do poder público em fiscalizar o cumprimento da libertação dos cativos após o pagamento das indenizações, bem como o caráter clientelista do processo de abolição que foi, em grande medida, um negócio lucrativo”, afirma Américo. Segundo o historiador, os escravocratas encontraram com a liberação dos escravos uma forma de se recuperar dos prejuízos advindos de crise econômica pela qual a Província passava desde o declínio da exportação de algodão, no final da década de 1860.

 
 
Antiga Fazenda escravocrata em Redenção, Ceará
 
Os escravos recém-libertos, por sua vez, não tiveram acesso a recursos do poder público que lhes possibilitassem uma reinserção social. Após a abolição, os ex-escravos se tornaram homens e mulheres livres, mas sem acesso a direitos como moradia e educação. A falta desses direitos, muitas vezes, lhes obrigavam a se tornar empregados de seus antigos senhores e seguir trabalhando em condições equivalentes à escravidão.
 
Outro episódio encontrado no jornal Libertador relata a batalha judicial entre escravistas da cidade de Russas e o Governo Provincial. Visando lucrar ainda mais com a libertação dos cativos, um grupo de senhores acionou o Poder Judiciário para “obrigar” o Governo a pagar quantias mais elevadas pelas alforrias. “Classificados 23 escravos, que estavam nas condições de obterem liberdade, os senhores não quiseram convencionar preço com o coletor esperando coisa melhor perante o juiz municipal”, publicou o periódico 18 de em outubro de 1883.
 
O episódio foi julgado pelo juiz de Russas – chamado na matéria por Dr. Guedes –, que concedeu ganho de causa aos escravistas. O Libertador relata que a decisão dobrou o valor da indenização para a alforria de alguns escravos e denuncia: o pai do juiz estava entre os fazendeiros beneficiados.
Segundo levantamento realizado pelo pesquisador Américo Souza e seus orientandos, o jornal Libertador denunciou – entre 1883 e 1884 – outras 17 ocorrências, além dos casos de Antônio Benício Saraiva e dos fazendeiros de Russas.
 
transcrito do Jornal O Povo

quarta-feira, 2 de março de 2016

Acopiara

O povoamento da região compreendida entre os limites do atual Município de Acopiara, começou em 4 de julho de 1719, nas primeiras décadas do século XVIII, quando foi concedida, ao Alferes Antonio Vieira Pita, pelo Capitão-mor Salvador Alves da Silva, uma sesmaria no riacho Quincoê, medindo três léguas de terra pelo dito acima. 

Com o tempo foram chegando inúmeras famílias que se fixaram na terra, visto tratar-se de excelentes terrenos de ribeira, propícios à agricultura. Os primeiros habitantes eram da família Pereira Silva, clã que ali passou a ser cognominado de "O Lajes", apelido oriundo da natureza do terreno que se apresentava muito pedregoso. 

Mais tarde, o povoado ficou sendo chamado simplesmente de Lajes, bem como a estação de Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 10 de julho de 1910, também assim denominada. 

Rua Manoel Deodoro

O Município foi criado, desmembrando-se do então distrito de Iguatu, pela Lei nº 1875, de 28 de setembro de 1921, com sede núcleo de Lages, então elevado a vila, e inaugurou-se a 14 de janeiro de 1922. 

A estação de Lajes foi inaugurada em 1910 no povoado do mesmo nome, que passou a crescer exatamente por causa da implantação da estação ferroviária. Nos anos 1920, o então já distrito e a estação passaram a se chamar Afonso Pena e, em 1943 passou a ser chamada de Acopiara.

Elevada a sede à categoria de cidade, pelo Decreto nº 448, de 20 de dezembro de 1938. Foi seu primeiro Prefeito Celso de Oliveira Castro, que ali fixando residência e juntamente com o Monsenhor José Coelho da Rocha, vigário de Iguatu, muito trabalhou pelo desenvolvimento da nova comuna. 


Criada por D. Quintino Rodrigues de Oliveira, 1º Bispo de Crato, a Freguesia data de 12 de outubro de 1921, desmembrada da de Iguatu, tendo sido seu primeiro vigário o Pe. Leopoldo Rolim. A padroeira é N. S. do Perpétuo Socorro. A igreja matriz foi fundada por Monsenhor José Coelho da Rocha, cujo nome é homenageado numa das praças da cidade. 

Lages era a primitiva denominação que um Decreto de 4 de dezembro de 1933, mudou para Afonso Pena. Mais tarde, novo Decreto, de 30 de dezembro de 1943, denominou a cidade de Acopiara. 
 
O município é constituído de 10 Distritos: Acopiara(sede), Barra do Ingá, Ebron, Isidoro, Quincoe, Santa Felicia, Santo Antonio, São Paulinho, Solidão, Trussu.


 
Praça da Matriz
Na década de 1970, Acopiara foi o segundo produtor de algodão do estado do Ceará, mas as constantes secas, bem como a inserção do bicudo em suas lavouras, contribuíram para que sua produção fosse bastante reduzida. Contudo, o ramo algodoeiro ainda tem contribuído muito na economia local. 
 
Como em muitas cidades do interior do Ceará, Acopiara tem em sua produção agrícola a maior fonte de renda, muito embora possa-se verificar que a agricultura se apresente ainda na sua maioria como de subsistência de pequenos produtores. Destaque para o ramo aviário, que cresceu muito nos últimos anos.


Limites: 
Norte: Mombaça, Piquet Carneiro e Deputado Irapuan Pinheiro, Leste: Quixelô e Solonópole, Sul: Iguatu, Quixelô e Jucás, Oeste: Saboeiro e Catarina.  
A área da unidade territorial: 2.265,349 km². 
Distância de Fortaleza: cerca de 345 km. 
Localização: Acopiara está situada na mesorregião do Centro Sul cearense, microrregião de Iguatu. 
População: de acordo com o IBGE, em 2010 a população de Acopiara era de 51.160 habitantes, com projeção de 53.135 habitantes em 2015.

fontes:
IBGE
Wikipédia
fotos: IBGE e estações ferroviárias