sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Camocim



População – 60520 habitantes (IBGE – estimativa para 2011)
Área da Unidade territorial – 1.139.206 km²
Densidade demográfica – 52,81 hab/km²
Localização – Mesorregião – Noroeste Cearense
Microrregião – Litoral de Camocim e Acaraú
Limites – ao Norte, o Oceano Atlântico;
Ao Sul – a cidade de Granja;
A leste – Jijoca de Jericoacoara e Bela Cruz
A Oeste – Barroquinha
Distância de Fortaleza – 350 km 


A região de Camocim permaneceu praticamente inexplorada até meados do século  XVI, quando se registraram as primeiras tentativas de aldeamento dos índios Tremembés, que dominavam a  costa cearense.  Em 1604, Pero Coelho de Souza passou por estas bandas,  rumo a Ibiapaba.

Os portugueses chegaram  à região, a partir da segunda metade deste Século  com vários objetivos, dentre os quais, o reconhecimento completo da área, a partir de Tutóia no Maranhão até os limites finais entre Ceará e Rio Grande do Norte.
Deste momento histórico existem várias cartas topográficas datadas dos séculos XVII, que já descrevem a barra do rio Camocim, que foi catalogada com o nome de Rio da Cruz. 
Depois da segunda metade do século XVII, os jesuítas tinham o Camocim como porto e porta de entrada para a Ibiapaba. Dessa época surgiu ainda por parte dos portugueses o projeto de construir o Forte em Camocim com a intenção de proteger os assentamentos portugueses dos ataques dos índios, e impedir que outros povos europeus fizessem escambo com os nativos indígenas. Este projeto não foi adiante. 
A região do Camocim era o centro de apoio para as ações militares e religiosas por parte dos portugueses.
Entre 1838 e 1873, diversas famílias, inclusive algumas imigradas do interior, fixaram-se na região, atraídas pelo litoral, onde esperavam encontrar terras férteis. Aos poucos, desenvolveu-se o primitivo núcleo humano. 


Avenida Beira Mar

O Rio Coreaú desaguá na Praia do Farol de Trapiá, em Camocim
  
Distrito criado com a denominação de Camocim, por ato provincial de 02 de setembro de 1873; 
Elevado à categoria de vila com a denominação de Camocim, pela lei provincial nº 1849, de 29 de fevereiro de 1879, desmembrado de Granja. Sede no núcleo de Camocim.  
Elevado à condição de cidade com a denominação de Camocim, pela lei provincial nº 2162, de 17 de agosto de 1889.
Em divisão territorial datada de 17 de janeiro de 1991, o município é constituído de 3 distritos: Camocim, Amarelas e Guriú.

prédio da antiga estação da Estrada de Ferro Sobral. O ramal de Camocim originalmente foi o trecho inicial da E. F. do Sobral (Camocim-Sobral), aberto nos anos 1881 e 1882. Em 1909, toda a E. F. de Sobral foi juntada com a E. F. de Baturité para a criação da Rede de Viação Cearense. Atualmente o prédio é utilizado pela Prefeitura de Camocim.

Praça da matriz com o Cruzeiro

Igreja Bom Jesus dos Navegantes, construída  no começo do século XX, no lugar onde já existia uma antiga capela erguida pelos jesuítas. 

Igreja de São Pedro. Construída pelos fiéis e inaugurada em 29 de junho de 1942 

Igreja de São Francisco 

Praça Severiano Morel, no centro da cidade

Avião Xavante doado à cidade de Camocim pela Força Aérea Brasileira em comemoração ao centenário do primeiro voo autônomo realizado por Santos Dumont a bordo do 14 BIS. Fica na Praça Pinto Martins 


Praça Pinto Martins, construída em homenagem ao aviador Euclydes Pinto Martins, filho de Camocim, em comemoração ao centenário de cidade, em 29 de setembro de 1979.

O Aeroporto Pinto Martins  foi reformado e ampliado recentemente. O equipamento conta  com pista de pouso e decolagem com 1.200 metros de extensão por 30 metros de largura, uma Seção de Combate a Incêndio e balizamento noturno. O investimento no novo aeroporto é de R$ 5,2 milhões 

Praia do Farol

Manguezal


balsas que fazem a travessia sobre o Rio Coreaú para a Ilha do Amor e entre Camocim e o município de Jijoca de Jericoacoara 

Lago Seco

Usina Eólica na Praia de Maceió

Praia de Maceió

Trecho do Rio Acaraú

As principais fontes de água de Camocim são: Baía de Camocim, Lago Grande, do Boqueirão, da Moréia, Lagoa Cangalha e Inhanduba, Córrego da Forquilha, Rio Coreaú, Trindade, P. Maceió, Imburava. 
As praias da Tatajuba, do Guriú, dos Remédios e do Xavier são pertencentes ao município de Camocim e não ao município de Jijoca de Jericoacoara como muitos supõem, pelo fato de terem localização geográfica próxima e também por Jericoacoara ter um fluxo de turistas intenso, que acabam fazendo também esta rota.

fotos de agosto de 2012 
por Raquel Vianna, Rodrigo Paiva e Fátima Garcia

fontes:
Wikipédia
IBGE

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A Seca de 1979-1984


Entre os anos de 1979 e 1984 o Ceará conheceu a mais longa estiagem do século XX. Uma hecatombe sócio-econômica que arrasou a pecuária e a cotonicultura, que entrou em colapso a partir desse evento. Foi a primeira seca global, pois os novos meios de comunicação deram cores e realismo à situação dos sertanejos, antes só imaginada.
as emissoras de tevê apresentavam ao vivo o sertão cinzento e ensolarado, o gado morto de fome e sede, a população indigente, subnutrida e doente. Pessoas morriam de fome, enquanto outras apresentavam como único alimento diário, água barrenta com açúcar, uma xícara de café com farinhas ou ratos e urubus. 
Houve uma sucessão de saques e invasões em vários municípios cearenses - muitos comerciantes temendo os saques, distribuíam alimentos acalmando os famintos. o País ficou chocado. campanhas foram feitas arrecadando recursos e comida para "salvar" o Nordeste, enquanto milhares de pessoas migravam para Fortaleza, agravando ainda mais o abismo social da capital.

Milhões de cruzeiros (a moeda da época) enviados pelo governo federal e entidades privadas  para socorrer as vítimas, desapareciam nas mãos das elites e intermediários da ajuda. Muitos formaram fortunas, às custas da miséria de milhares de cearenses. 
O bispo de Crateús, Dom Fragoso, lançou em 1983 um documento condenando aquelas campanhas. Segundo o bispo, tais campanhas criam confusão, não chegando a todos que necessitam; com esmolas não se combate a miséria, mas com trabalho, terra e justiça. O documento critica ainda "os ricos da televisão, dos clubes e políticos ...que querem dar esmolas para enganar".

 em todo e qualquer período de estiagem, a providência oficial é sempre a mesma: a contratação de caminhões-pipas para distribuição de água. A medida só ameniza o problema por curtissimo espaço de tempo. A solução para o desabastecimento de água no sertão do Ceará, requer investimentos e vontade política. (imagem do site Crato notícias)

O governo enviou caminhões-pipa para distribuir água no interior e abriu frentes de serviços (construção de açudes, cacimbas, estradas, etc), para atenuar a tensão social e controlar os sertanejos, tentando mantê-los nos lugares de origem. Homens, mulheres e crianças trabalhavam duro, quebrando e carregando pedras sob um sol desolador, submetidos à arbitrariedade e à exploração dos encarregados pelas obras. Muitas pessoas desmaiavam ou passavam mal durante o trabalho. 

Em todo o Nordeste, mais de dois milhões e 600 mil pessoas foram alistadas nessas frentes, cujas obras beneficiavam os proprietários de terra. Os salários eram baixos e os trabalhadores recebiam modestas cestas básicas. O alistamento nas tais frentes era humilhante: multidões em desespero se concentravam nas cidade na esperança de conseguir uma vaga. Não raras vezes surgiam desentendimentos entre os sertanejos e confrontos com a polícia.  

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias  

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Ceará antes de 1877


Um constante estado de isolamento e pobreza material seria uma das características principais da evolução histórica do Ceará. No contexto colonial, a então Capitania do Siará Grande se resumia, até meados dos anos 1700, num pequeno forte desguarnecido, esquecido pelas autoridades de Lisboa. Somente durante o século XVIII, quase dois séculos e meio depois da chegada dos portugueses à colônia, é que as primeiras vilas foram criadas. Até esse período, a vasta região sertaneja tinha sido palco de lutas sangrentas entre o colonizador branco e o nativo, num processo que culminou com a destruição do mundo indígena.

Aracati e o cruzeiro da matriz (arquivo Nirez) 
O Ceará ficou atrelado à Capitania de Pernambuco até 1799, quando então foi considerada capitania autônoma pela corte de Portugal. A leitura de antigos relatórios revela que essa autonomia não chegou a representar uma evolução significativa para a maioria da população. É verdade que algumas medidas chegaram a ser propostas pelos seus governadores, mas foram ignoradas pelo reino de Portugal.
A evolução econômica do Ceará foi marcada pela realização de dois ciclos de riqueza, os quais não se excluíam, antes apareciam como complementares: o do gado e do algodão. A pecuária foi a grande responsável pela expansão colonizadora pelo sertão e pela conquista avassaladora das antigas povoações ocupadas pelos indígenas.

 colheita do algodão (foto IBGE)

Até 1780, a grande riqueza da capitania vinha dos rendimentos das charqueadas, principalmente em vilas como Aracati e Granja. A cultura do algodão se intensificou no final do século XVIII, aparecendo como riqueza predominante no século seguinte. Todos esses ciclos de riqueza econômica só beneficiaram uma pequena minoria composta pelos proprietários de terras e donos de oficinas de charque. A maioria da população, para sobreviver, tinha que ficar sujeita a um desses proprietários, servindo como agregado, vaqueiro, parceiro, ou simples empregado. A população escrava, por sua vez, era diminuta.


O resultado é que boa parte dos habitantes do sertão não conseguia ser aproveitada nas atividades econômicas. Esse modelo socioeconômico excludente tinha sido estimulado pelas autoridades de Lisboa. Para garantir a colonização de áreas do Novo Mundo, a Coroa delegou aos fidalgos e outros membros da elite metropolitana a tarefa de conquistar o território. Em troca o rei distribuiu sesmarias e concedeu títulos e benefícios aos vencedores de batalhas contra os nativos. Dessa forma, grandes áreas do território cearense foram entregues a poucos indivíduos que, em pouco tempo, tornaram-0se potentados rurais, verdadeiros formadores de reinos particulares em regiões distantes do poder régio.
As camadas rurais, sem posses ou prestígio, ficaram cada vez mais dependentes da proteção de um senhor. Este, num primeiro momento, agiu praticamente sem a interferência da administração portuguesa, impondo com vigor suas leis e normas severas, dominando com mão de ferro a população subjugada. 
No decorrer do processo inicial de colonização, houve uma inquestionável supremacia do poder privado sobre o poder público. É verdade que a criação das vilas e o fortalecimento das instituições reais contribuíram para o enfraquecimento desse poder, mas mesmo assim, o chefe local continuaria como líder diante de um grande número de pessoas iletradas, pobres  e sem perspectiva.

 Casa de colono no interior do Ceará (foto IBGE)

Oferecendo proteção e abrigo a essas pessoas, e ao mesmo tempo exigindo fidelidade e lealdade, os senhores da terra reproduziram, nas longínquas áreas do sertão, o sistema paternalista e clientelista que já os tinha beneficiado no processo de aquisição de sesmarias, cargos e direitos reais.
A consolidação do modelo paternalista tornava as populações rurais cearenses meras coadjuvantes no processo histórico. A camada dominante, por sua vez, pouco se importava com grandes inovações econômicas, ou era avessa à difusão de ideias revolucionárias, não obstante setores da elite, terem adotado um discurso de inconformismo e repúdio ao poder centralizado. 
As lutas que sangraram o território cearense no período da Independência do Brasil e as que levaram à Confederação do Equador (1824) e à Sedição de Pinto Madeira (1832) se desenvolveram principalmente no seio das classes consideradas dirigentes ou foram impulsionadas por elas.

 fazenda no interior do Ceará (foto IBGE)

A Lei de Terras (1850) foi outro fator que contribuiu para consolidar o poder da minoria proprietária. Os índios, dispersos e misturados, no meio da população geral, foram definitivamente alijados dos seus direitos. O acesso à terra passou a ser controlado e forma rígida, evitando a apropriação pelos pobres, de áreas ainda sem aproveitamento. Ao mesmo tempo, os fazendeiros passaram a pressionar cada vez os governos provinciais, no sentido de garantir leis para inibir a vadiagem.
As relações sociais no Ceará do século XIX foram marcadas assim, por uma situação de intensa desigualdade. De um lado, o proprietário, senhor absoluto. De outro, o morador, o agregado, o escravo. Na fazenda de criação, o vaqueiro agia em nome do seu chefe, normalmente seu compadre e protetor. Nos algodoais, o sistema predominante foi o da parceria, prática bastante intensa da segunda metade do século.

Os grandes proprietários, naturalmente, também cobravam de uma forma ou de outra, pelo uso de benfeitorias existentes na terra, como os açudes, por exemplo. Desenhava-se assim, um quadro no qual ficava clara a vulnerabilidade da imensa maioria dos sertanejos. Pressionados pelos donos de fazenda, os agricultores tinham pouco tempo para dedicar-se às suas culturas de subsistência, chegando em certos momentos a depender diretamente dos mesmos, no que se refere à alimentação diária. O paternalismo e a rigidez dos latifúndios sufocavam o agregado, impossibilitando sua independência e a melhoria de sua situação econômica e a da sua família.

Extraído do livro de Cicinato Ferreira Neto
A Tragédia dos Mil Dias: a seca de 1877-79 no Ceará