terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Trajetória da Coluna Prestes no Ceará

A Coluna Prestes foi um movimento encabeçado por líderes tenentistas, ocorrido entre os anos de 1925 a 1927.  O movimento deslocou-se pelo interior do país pregando reformas políticas e sociais e combatendo o governo oligárquico do presidente Arthur Bernardes (1922 – 1926), que governou o País sob constante estado de sítio.  
Em sua marcha pelo Brasil, os integrantes da Coluna Prestes denunciavam a miséria da população e a exploração das camadas mais pobres pelos líderes políticos.
O lider Luis Carlos Prestes
Sob o comando principal de Miguel Costa e de Luis Carlos Prestes, a Coluna enfrentou as tropas regulares do Exército ao lado de forças policiais dos vários Estados por onde passou, além de tropas de informais formadas por jagunços e outros “fora-da-lei”, que partiam para o confronto, estimulados por promessas oficiais de anistia. 
Durante dois anos e meio a Coluna Prestes percorreu 25.000 km pelo interior do Brasil. Apesar dos esforços, não conseguiu sensibilizar a população que, influenciada pela propaganda oficial, temia a presença dos revolucionários em seu território. O que foi dito à  população é que a Coluna era formada por um bando de desordeiros, marginais, que violentavam as mulheres, saqueavam e incendiavam as propriedades.
integrantes da Coluna Prestes
Por volta de 1925 rumores davam conta de que a Coluna Prestes se aproximava do Ceará. Diante disso, o governo federal encarregou o deputado federal Floro Bartolomeu de organizar a defesa do território cearense. 
Em dezembro de 1925, Floro chegou a Juazeiro trazendo armas, munição e dinheiro para organizar os chamados “batalhões patrióticos”, cujos componentes eram jagunços enviados por latifundiários da zona sul cearense. Com a proximidade dos tenentes, vários núcleos urbanos se despovoaram tamanho era o pânico dos moradores. 
Na realidade os revoltosos tentavam aproximar-se dos habitantes e assim angariar simpatizantes à causa, embora realmente confiscassem comida, montarias, munições e dinheiro, como contribuições que seriam devolvidas quando a revolução triunfasse. 
Floro Bartomoleu e a tropa formada por jagunços
Boatos diziam que a Coluna estaria se dirigindo a Campos Sales, razão pela qual as forças governistas, junto com os ”batalhões patrióticos” de Floro, se estabeleceram naquela cidade. A Coluna Prestes atravessou rapidamente o Ceará, vinda do Piauí em direção à Pernambuco, onde pretendia unir-se a tenentes locais numa revolta programada para 1926, que acabou não acontecendo.
Na Serra da Ibiapaba, os revolucionários sofreram uma baixa importante: a captura do tenente cearense Juarez Távora por forças do governo. 
Tenente Juarez Távora
imagem: http://colunamiguelcostaprestes.blogspot.com/2010/06/coluna-miguel-costa-prestes.html
Os tenentes entraram no Ceará, divididos em dois grupos: 
o primeiro composto por apenas 132 homens sob o comando do capitão João Alberto entrou pela região norte em 13 de janeiro de 1926, dando a entender que ocuparia Sobral e Fortaleza. Na verdade a intenção era desviar a atenção das tropas repressoras, enquanto o segundo grupo, o grosso da Coluna, chegava tranquilamente pelo sul. 
O batalhão de João Alberto deslocou-se rapidamente, passando por Ipu (ocupou a cidade sem nenhuma resistência, inclusive confiscando dinheiro e  alimentos dos estabelecimentos comerciais), Nova Russas, Crateús (que os revolucionários  não conseguiram ocupar, sendo mortos dois tenentes, num duro combate com as forças governistas), Ipueiras, Quiterianópolis e Arneiroz, onde se juntou ao resto da coluna comandada por Luis Carlos Prestes. 
Este entrara no Ceará por um lugar chamado Boqueirão e havia passado ao largo de Campos Sales, trocando alguns tiros com os “batalhões” de Floro sem maiores conseqüências. Unida, a Coluna avançou sobre os sertões centrais, indo afinal para o Rio Grande do Norte.  
A longa marcha da Coluna Prestes foi concluída na Bolívia, em 27 de fevereiro de 1927, sem cumprir seu principal objetivo: disseminar a revolução no Brasil. 

pesquisa: História do Ceará, de Airton de Farias
wikipedia

domingo, 26 de dezembro de 2010

As Mulheres no Cangaço



Um dos aspectos mais relevantes do cangaço foi a participação feminina. Antes do bando de Virgulino Ferreira, O Lampião, não se tem noticias de que mulheres tenham vivido ou participado do cangaço. Quando um cangaceiro se envolvia com uma mulher, procurava deixá-la em lugar seguro, sob a proteção de alguém de sua confiança, visitando-a quando tinha oportunidade.
A principio, o bando tinha por regra não violentar mulheres e assumir uma postura de repúdio frente a prostituição, mas pouco a pouco os bandos se afastaram dessas regras morais do cangaço. Em 1923 na cidade de Bonito da Santa-Fé – PB, Lampião deu inicio ao estupro coletivo da esposa de um delegado. Passou, então, a fazer parte da normalidade, nas festas e fazendas onde chegavam, os cangaceiros se apropriarem das mulheres, casadas ou não, para se distraírem. 

 Maria Bonita ainda em trajes normais ao lado de Lampião, já cangaceiro famoso
Imagem: http://serratalhadaa.blogspot.com/2008/08/70-anos-da-morte-de-lampioo-rei-do.html

Um novo comportamento frente ao sexo feminino, só se verificaria a partir de 1930, quando Lampião decidiu levar Maria Bonita para viver no bando. 
O nome verdadeiro da moça era Maria Gomes de Oliveira, conhecida por Maria de Déa. Morava em Santa Brígida – BA, onde tinha uma relação de muitos desentendimentos com o marido. Bonita, morena, cabelos longos, inteligente, Maria foi levada por  Lampião quando este visitava a fazenda dos pais dela,  no norte da Bahia. Ela tinha 20 anos, Lampião 33.  Os cangaceiros chamavam-na de Dona Maria ou “a mulher do capitão”.  Mais tarde, recebeu o sugestivo apelido de Maria Bonita. Depois outras mulheres se juntaram aos cangaceiros:  

Dada (de Corisco), Neném (de Luiz Pedro), Durvalina (de Moreno), 
Sila (de Zé Sereno), Lídia (de Zé Baiano), Inacinha (de Gato), Adília (de Canário), 
Cristina (de Português), Maria Jovina (de Pancada), Dulce (de Criança), 
Moça (de Cirilo Engrácia), Otília (de Mariano), Maroca (de Mané Moreno), 
Mariquinha (de Labareda), Maria Ema (de Velocidade), Enedina (de Cajazeira), 
Rosalina (de Chumbinho), Estrelinha (de Cobra Viva), Hortênsia (de Volta Seca), 
Lacinha (de Gato Preto), Iracema (de Lua Branca), Eleonora (de Azulão), 
Lili (de Moita Braba), Catarina (de Sabonete), Mocinha (de Medalha), 
Maninha (de Gavião), Maria Juriti (de Juriti), Dora (de Arvoredo), 
Marina (de Laranjeira), Dinha (de Delicado).



Uma das mais famosas, além de Maria Bonita foi Dadá, mulher de Corisco, o diabo loiro. De acordo com Dadá, a “sertaneja achava bonito era bandido, todo enfeitado, todo perfumado, todo cheio de coisas”. Além desse fascínio, a vida de cangaço permitia às mulheres escaparem das árduas tarefas diárias da vida no campo. 
A presença de mulheres no bando serviu também para reduzir a violência dos criminosos – as vitimas apelavam a sensibilidade feminina e não raro as mulheres intervinham junto aos homens. Além disso, a presença delas entre os bandoleiros significava uma garantia de respeito para as mulheres e filhas dos sertanejos surpreendidos por um ataque dos cangaceiros.
O cangaceiro Sebastião Pereira da Silva, o famoso Sinhô Pereira, o único que chefiou Lampião, declarou que ficou admirado quando soube que fora admitida a presença de mulheres entre os cangaceiros, coisa que ele próprio jamais permitiria, afinal Padre Cícero já havia profetizado que Lampião seria invencível enquanto não houvesse mulheres no bando. 

 retrato de Maria Bonita exposto na casa onde ela viveu no povoado de Malhada do Caiçara, em Paulo Afonso (g1.globo.com)

A chegada das mulheres também impôs novas regras de convivência dentro do grupo:  exigia-se respeito para com as mulheres dos companheiros; a ninguém do bando era dado o direito de ter mais de uma companheira, e estas, na maioria das vezes eram esposas devotadas e fiéis; os casos de adultério eram punidos com a morte – foi o caso de Lídia, mulher do cangaceiro Zé Baiano, morta por ele a cacetadas, por tê-lo traído com o companheiro Besouro, que teve o mesmo destino sob os olhares de aprovação de Lampião. Quando morria um companheiro, a viúva tinha que arranjar um novo parceiro. Quando isso não acontecia, as viúvas eram executadas para que não falassem muito ou não tentassem abandonar o bando, ameaçando assim a  segurança do grupo. 
As mulheres não eram guerreiras e tinham somente armas curtas de defesa. As crianças nascidas dessas uniões eram dadas a compadres, gente que tinha residência fixa, padres ou coronéis que pudessem dar-lhes uma vida tranquila e digna. 



O cangaceiro Zé Baião declarou em uma entrevista ao um jornal de São Paulo que, enquanto não havia mulheres entre eles, o cangaceiro brigava até enjoar. 
Depois disso passaram a evitar os tiroteios, e os bandos batiam logo em retirada para que fossem resguardadas a integridade física das companheiras. As mulheres tinham resistência e a valentia dos homens, mas muitas vezes atrapalhavam nas fugas por ficarem doentes ou grávidas.
De todas as mulheres, a que mais passou tempo no cangaço foi Maria Bonita, que morreu ao lado de Lampião em 1938, em Angicos. 

pesquisa:
História do Ceará, de Airton de Farias
Mulheres no cangaço. Disponível em http://tudonahora.uol.com.br/noticia/artigos/2009/03/08/47667/mulheres-no-cangaco 
As mulheres do cangaço. Disponível em

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Açude Banabuiú


As obras de construção da barragem tiveram início em 1952, com a instalação do canteiro, acampamento e estradas de acesso.  Em  1953  começaram  a abertura, limpeza e tratamento da fundação.  


A obra teve andamento normal até 1960, quando os seus construtores lutaram arduamente para que a barragem não fosse ultrapassada pelas águas, em razão da cheia do rio Banabuiú. Superada a cheia, os trabalhos retomaram seu ritmo normal.  
Em 1961, novas chuvas preocuparam os construtores da barragem, paralisando novamente os trabalhos.  Os serviços, reiniciados em 1963, foram concluídos em 1966.


A barragem Arrojado Lisboa, do Açude Banabuiú, está localizada no município de Banabuiú, estado do Ceará, a cerca de 230 km de Fortaleza. Barra o rio Banabuiú, pertencente ao sistema do rio Jaguaribe. 


A  sua  bacia  hidrográfica  cobre uma área de 13.500 km2
É o terceiro maior reservatório de água do Ceará.

Município de Banabuiú visto da barragem

fotos: Fátima Garcia

sábado, 18 de dezembro de 2010

Antonio Conselheiro


ruínas da Igreja velha de Santo Antonio
Antonio Vicente Mendes Maciel, o Antonio Conselheiro, nasceu em 1830, no sertão de Quixeramobim, Ceará. 
Seu pai foi um ex-vaqueiro, proprietário de uma bodega que queria vê-lo ordenado padre, por essa razão o menino teve acesso a uma instrução formal.
 O sonho do sacerdócio, contudo, frustrou-se com o falecimento do pai, em 1855. O futuro conselheiro herdou o comércio e a responsabilidade de cuidar da família, mas acabou falindo, mergulhado em dívidas. 
Casou-se em 1857, sendo depois abandonado pela família. Exerceu as funções de professor, pedreiro, construtor, rábula e caixeiro – teria inclusive, como vendedor ambulante encontrado e acompanhado o Padre Ibiapina nas andanças pelos sertões. 
Residiu durante algum tempo em Santa Quitéria, onde conviveu maritalmente e teve um filho com Joana Imaginária, mulher mística e escultora de rústicas imagens sacras.
Por volta de 1873, aparece em Assaré-CE, já com a fama de beato, e com as notícias de suas peregrinações pelos estados do Ceará, Bahia e Sergipe. Ganhou fama, prestigio e seguidores, e começou a ser chamado pela população de Antonio Conselheiro. 
Seus seguidores, gratuitamente, reconstruíam muros caídos de cemitérios, reforçavam paredes ameaçadas das igrejas, levantavam capelas, construíam pequenos açudes. 
Virou um homem respeitado no sertão, multidões se formavam para ouvir seus sermões: palavras otimistas, que previam um mundo melhor, feliz, mais próximo de Deus, longe da miséria. 
vista geral de Canudos depois do massacre
Para as classes dominantes, no entanto, Antonio Conselheiro era um charlatão louco, e estaria desviando as pessoas das atividades produtivas.
Em 1893, Conselheiro e seus seguidores se fixaram numa velha fazenda abandonada do norte da Bahia, às margens do rio Vasa-barris. O beato batizou o lugar de arraial do Belo Monte, embora ficasse conhecido por Canudos. 
Ante o quadro de secas, fome, doenças e exploração vigente no sertão nordestino, o Arraial do Belo Monte tornou-se uma espécie de terra prometida para os pobres da região. 
Em pouco tempo o Arraial assumiu dimensões extraordinárias, há quem estime sua população em 30 mil habitantes. Era um ambiente rústico e pobre, mas nos domínios do Conselheiro não existia fome e reinava um espírito de solidariedade e cooperação. 
A maior parte do que era produzido era repartido entre os moradores. Essa comunidade alternativa, cooperativa, assustou os poderosos.
 Os latifundiários perdiam a mão-de-obra sertaneja. A igreja católica perdia os seus fiéis. 
Por outro lado, era evidente que o Conselheiro pregava contra a república, estimulando a que não se lhe pagassem tributos e até espantasse os funcionários que representavam a justiça e o casamento civil. Canudos assemelha-se às incontáveis comunidades rebeldes religiosas, lideradas por fanáticos, que reúnem ao seu redor uma multidão de fiéis aos quais é assegurada não só a salvação, mas a imortalidade.  
    seguidores do Conselheiro prisioneiros 
Usando como argumento principal o fato de Antonio Conselheiro fazer críticas à república – cuja proclamação em 1889 não alterou em nada a penúria em que vivia grande parte do povo nordestino – as camadas dominantes exigiram a destruição do Arraial, o que acabou acontecendo depois de três expedições anteriores fracassarem na tentativa de acabar com o aglomerado.
Mesmo com o arraial cercado pelo exército, a população lutou até o fim. Umas 300 mulheres, velhos e crianças se renderam. Alguns homens sobreviventes foram degolados e os que resistiram até o fim foram mortos a golpes de baionetas na luta corpo-a-corpo que se travou dentro do arraial, no dia do assalto final, em 5 de outubro de 1897. 
Antônio Conselheiro, com a saúde fragilizada, morreu dias antes do último combate. Ao encontrarem seu corpo, deceparam sua cabeça e a enviaram para que estudassem as características do crânio de um louco fanático.

Pesquisa:
História do Ceará, de Airton Farias
A Guerra de Canudos e Sertões. Disponível em
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/canudos.htm
fotos

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Açude Orós

imagem: Dnocs
O nome oficial do reservatório é Açude Presidente Juscelino Kubitschek  de Oliveira, popularmente conhecido como Açude Orós, formado a partir do represamento das águas do Rio Jaguaribe.
A barragem – que está localizada no município de Orós – foi projetada e construída pelo DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – a partir de 1958, sendo inaugurado em 11 de janeiro de 1961, pelo então Presidente da República. Juscelino Kubitschek (1956-1961). 
estátua de Juscelino Kubitscheck - imagem IBGE
Desde o tempo do Brasil Império e nas primeiras décadas da República, a barragem do Boqueirão do Orós já era motivo de análise. Porém, somente nos primeiros anos de funcionamento da IOCS foi estudado e concluído o anteprojeto da barragem, destruído pelo fogo antes de sua execução, no incêndio de 1912. No ano seguinte, o engenheiro inglês  Louis Philips procedeu a sondagens iniciais no local, verificando as possibilidades e as adequações necessárias à construção da barragem.
construção da barragem - imagem IBGE
 Em 1960, com as obras ainda em andamento, a população ribeirinha viveu momentos dramáticos, quando em decorrência de uma grande cheia o Rio Jaguaribe transbordou e provocou o arrombamento parcial do Açude Orós, provocando uma enchente capaz de inundar o Médio e o Baixo Jaguaribe.
 Logo a notícia logo se espalhou, e as cidades de Russas, Aracati, Itaiçaba, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Icó e o distrito de Alto Santo, de nome Castanhão,  foram evacuadas com o auxilio de tropas do exército.
Estima-se que cerca de dez mil pessoas, não tiveram tempo de fugir e ficaram  isoladas, e a sobrevivência passou a ser uma questão de sorte,  diante da aproximação rápida das águas enfurecidas do Rio Jaguaribe. Os moradores acuados se amontoavam nos lugares mais altos, como Poço Comprido, São João do Jaguaribe, Ilha Grande, Quixeré e Tabuleiro Alto, em Russas. Precisamente às 10 horas do dia 26 de março um terrível estrondo foi ouvido a grande distância, e as águas armazenadas no gigantesco açude ultrapassaram o nível da barragem e invadiram toda extensão do Vale do Jaguaribe.  A enxurrada  destruiu o que encontrava pela frente, levando de roldão povoações, cultivos, propriedades e criações deixando como rastro, a morte, a miséria e o desabrigo, que vitimaram mais de trezentas mil pessoas. 
construção da barragem - imagem IBGE
Obra da engenharia nacional, a Barragem Orós, suportou embora em fase de construção, a uma pressão de água em muitas vezes superior ao seu índice de segurança. Todavia, parte da obra teve de ser destruída com dinamite para evitar um dano maior, que seria a sua distribuição total a um só tempo. 
A barragem de Orós, que se mostrava como a redenção daquele solo ressequido foi parcialmente destruída. Mais uma vez o triste espetáculo dos retirantes famintos, repetia-se no sertão do Ceará. No entanto, não fugiam da seca e sim das águas. Juscelino Kubitschek providenciou ajuda para flagelados e com o final da temporada chuvosa, autorizou o reinício dos trabalhos.

fonte: 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Canoa Quebrada: o paraíso ameaçado

Todos as páginas da web que se referem à Canoa Quebrada, praia do litoral leste cearense, ressaltam a beleza local, a disponibilidade de equipamentos turísticos e de lazer, o conforto das pousadas, e as paisagens paradisíacas. 
 Canoa Quebrada é uma antiga aldeia de pescadores localizada  no município de Aracati, a 159 km da capital Fortaleza. Fica no litoral leste do estado, inserida num circuito turístico conhecido por Costa do Sol Nascente. O litoral leste corresponde ao trecho que parte de Fortaleza até o município de Icapuí, na divisa com o Rio Grande do Norte. Essa faixa é densamente povoada e muito procurada pelo fluxo turístico e para o lazer. 
As falésias são caracteristicas desta parte do litoral cearense. São paredões de areia vermelha, formadas ao longo de milhões de anos que se apresentam de frente para o mar e dão relevo à praia.
O crescimento rápido e sem planejamento do turismo de massa, tem provocado danos ao ambiente natural, às paisagens litorâneas e as populações nativas
o desmoronamento de falésias é cena comum em Canoa Quebrada. Além da erosão provocada pela água da chuva, a drenagem mal feita, o tráfego de veiculos, as construções irregulares e a ocupação desordenada estão provocando a morte do ecossitema
O lixo produzido por frequentadores e comerciantes pode ser encontrado em diversos trechos da praia.
A presença de materiais não deixam dúvidas de que neste local surgirá mais uma construção. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) está sempre emitindo sinais de alerta para a destruição da paisagem natural, mas várias construções no alto das falésias estão licenciadas pelo órgão.   
O avanço do mar deixou a edificação praticamente dentro da água
O preço do “progresso” e da inserção no circuito do turismo internacional fez de Canoa Quebrada um destino turístico com data de validade: os impactos negativos estão visíveis por toda parte.     
O turismo predatório está presente em Aracati, onde visitantes descartam lixo no meio ambiente, composto em grande parte por embalagens de alimentos industrializados.  
As falésias de Canoa Quebrada estão situadas em uma Área de Proteção Ambiental. A APA foi regulamentada em março de 1998, abrangendo uma área de 6 mil hectares, que vai de Porto Canoa até a foz do Rio Jaguaribe. No trecho estão cerca de 5 mil pessoas nas comunidades de Cumbe, Canavieira, Estevão, Beirada e Canoa, além de manguezais, dunas, praias, picos e, claro, as falésias.
Na teoria, pertencer a uma APA significa privilegiar o uso sustentável dos recursos naturais e promover a unidade social da comunidade que lá vive. O uso e ocupação dessas áreas são regulamentadas e monitoradas, portanto não deveriam ocorrer construções irregulares ou  ocupação desordenada. Mas, na prática, a criação da APA não estancou o processo de degradação ambiental promovido pela selvageria da especulação imobiliária, nem promoveu uma campanha de educação ambiental capaz de sensibilizar moradores e visitantes para a proteção do meio.

O processo de degradação e destruição ambiental vem ocorrendo não só em Canoa Quebrada, mas grande parte do litoral cearense, também exposto a esse tipo de ocupação, a exemplo de Jericoacoara,  e Beberibe, só para citar as localidades mais conhecidas.
Os grandes empreendimentos turisticos, são na sua maioria pertencentes a estrangeiros, atraídos pela facilidade de obtenção do visto de permanência e pelos preços baixos da terra.
Junto com esses investidores vem os campos de golfe, os hoteis 5 estrelas, os resorts de alto luxo, que para instalá-los precisam de espaço, que estão ocupados com dunas, falésias, lagoas e vegetação nativa.
Quando nada mais restar de paisagem natural, de nada valerão os resorts, os campos de golfe, os parques aquáticos. 
A grande atração é paisagem natural. 
O resto é figuração.