quinta-feira, 27 de março de 2014

Redenção, o Rosal da Liberdade e a Fazenda Gurguri

Em Redenção, três frondosas tamarineiras testemunharam que ali a Vila, então Acarape, antecipou-se ao Brasil na Abolição da Escravatura, exatamente por seis anos. Sob a copa das velhas árvores, onde castigos eram infligidos aos negros, a libertação dos escravos foi comemorada pela primeira vez em terras cearenses e não faltaram discursos, passeatas e festejos. A partir de então, a Vila, depois município, passou a se chamar redenção e ganhou o cognome de “Rosal da Liberdade”.

 
 casa grande da Fazenda Gurguri

Além das árvores centenárias, uma sala no hoje Grupo escolar Pe. Saraiva Leão, situado na mesma praça, guarda a memória de inesquecíveis acontecimentos. Nela eram realizadas as ruidosas reuniões da Sociedade Libertadora Acarapense, nas quais eram urdidos os planos contra os escravocratas.


Histórias verdadeiras ou lendárias correm na cidade, sobre a época em que os negros eram considerados bichos e os brancos seus senhores de vida e morte. Uma delas passou-se na Fazenda Gurguri, situada não muito distante da sede do município. A fazenda ainda existe com algumas modificações, posto que agora é também uma pousada.
Casa-Grande típica, paredes de meio metro de largura, capela, tronco para amarrar escravos, engenho de cana, casa de farinha, no amplo alpendre um sino de bronze para a chamada ao trabalho e um enorme muro de pedras construído pelos escravos lembram que ali o número deles era grande.

 Morro Cabeça de Negro

Conta-se que seu antigo proprietário José Bento, após surrar a mulher de um dos seus escravos, Nego Chico, foi assassinado por ele. Depois de matar o amo, Nego Chico refugiou-se num serrote, atrás da fazenda. Perseguido e na iminência de ser  capturado, decidiu-se pelo suicídio, saltando do alto de um penhasco. Em alusão ao fato, o serrote passou a denominar-se Cabeça de Negro e seu vulto enorme, cercando a fazenda, parece querer lembrar o drama do escravo fugido.  


Do livro: o Ceará dos anos 90 – Censo Cultural
fotos de Rodrigo Paiva - mar/2014

terça-feira, 18 de março de 2014

Antônio Conselheiro – de Quixeramobim a Canudos

Rio Banabuiú, visto da ponte próxima à sede do município de Morada Nova 
(foto wikipédia)

Nas águas do Banabuiú, Antônio Conselheiro lavou a sua sina e o seu batismo foi dado por Dona Guidinha do Poço – aquela que amou um negro,  matou o marido nobre, foi condenada, enlouqueceu e vagou pelos insondáveis caminhos da loucura. Também seu afilhado Antônio, o que se assombrou com o sangue da brutal luta entre Araújos e Maciéis, seria condenado a uma tragédia maior. 
Antônio, pacato comerciante, fracassou no comércio e no casamento. Nem mesmo os macios lençóis de Joana – a imaginária, foram capazes de consolar a sua sede de justiça. Outra fogueira queimava dentro deste homem... No coração de Antônio ainda ardiam os sermões do santo padre Ibiapina e a Confederação do Equador marcando para sempre os seus sonhos de liberdade.
A voz de um anjo torto ordenou: Antônio, o deserto é tua terra, o céu é a tua casa e o teu pão a oração e a penitência... é preciso se purificar de todos os pecados e guiar o povo pobre pelas sendas da salvação. Os pés de Antônio sangraram pelas vastidões dos latifúndios na semeadura da bondade.  Em terras do Cariri, Antônio ouviu o mito tapuia da pedra da batateira... a Serra do Araripe, grávida de oceanos milenares, esperava um sinal sangrado para rebentar o coração de pedra e inundar os sertões. Antônio agora é guardião dos segredos dos pajés. O Sertão vai virar mar. O Sertão já foi um mar, crianças famintas brincam com fósseis de peixes antediluvianos como se fossem manadas de bois imaginários. Roído de fome e sede, Antônio juntou o seu rebanho de deserdados e ouviu de Dom Sebastião, o Encoberto, que a sua missão era erguer a cidadela dos justos e dos bem-aventurados, em Canudos. 

 Ruínas da igreja velha de Santo Antônio em Canudos (imagem:http://www.girafamania.com.br)

Esta terra amarga é presente de Deus, é preciso plantar o mel da oração e a semente do amor. De barro e pedras, de suor e varas retorcidas das caatingas, foi erguido o labirinto de casinhas e um templo de taipa, com altas torres para o sol dourar o mundo nos crepúsculos sertanejos. A igreja disse: não! Os latifundiários disseram: não!  E os canhões roncaram a morte. 


 Corpo de Antônio Conselheiro

O povo resistiu com seu coração maior do que todas as tiranias. Mas os exércitos da República não tinham fim e os mortos se multiplicaram como pedras e as águas do Vaza-Barris ficaram tintas com o sangue camponês.  Os urubus afinaram os bicos no banquete e os cães uivavam ao lado dos degolados. O frágil barro das casas de Canudos se misturou ao pó dos mortos e o vento soprou com fúria nunca antes tão violenta. E o deserto engoliu gritos, orações, sonhos, armas e utopias. Dom Sebastião não saiu do mar com seu exército alumioso para lutar ao lado dos deserdados e a maldição dos poderosos se abateu sobre o povo. 
 seguidores do Conselheiro presos pelas tropas do Exército no Arraial de Belo Monte, em Canudos. (imagem: imagem:http://www.girafamania.com.br)

Mas segundo a profecia virá o novo tempo de lutas e a terra pertencerá ao povo e o pão será coletivo e repartido na mesa farta. Muito sangue há de correr até que o Sertão vire mar de fartura. O vento ainda sopra a fúria dos despossuídos e a palavra liberdade foi desvendada nos monólitos dos sertões de Quixeramobim.
Vivam Antônio e o Sertão. Esta terra tem que ser do homem.  

extraído da publicação: Ceará nos anos 90 - Censo Cultural
 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Santuário de Santa Edwiges, Caucaia, Ceará

 
 

O Santuário de Santa Edwiges fica localizado no Garrote, Município de Caucaia, a 32 quilômetros de Fortaleza. A estátua da santa, avistada de longe, se destaca no cenário, tendo a padroeira dos endividados como ícone, junto a Serra do Japuara.  Este é o cenário hoje transformado no terceiro ponto em peregrinação católica no Ceará, confirmando a fé de centenas de fieis que visitam o local no dia 16 de cada mês, data dedicada à santa.
Quando o dia 16 é um dia útil, cerca de três mil pessoas comparecem ao santuário para assistir à celebração de missa campal em devoção à santa. Quando a data coincide com o fim de semana, sábado ou domingo, o número de peregrinos supera 20 mil. São pessoas simples e crédulas, que vêm dos mais diversos cantos do Ceará com o objetivo, não apenas de fazer pedidos, mas, muitas vezes, de agradecer as graças alcançadas.


  
 

A imagem de Santa Edwiges com 23,7 metros de altura está no alto de uma colina de cerca de 300 metros; no percurso, entre a entrada do empreendimento até a capela, há uma via-sacra com 15 quadros, medindo 3 metros quadrados, retratando o sacrifício de Cristo.
O Santuário foi inaugurado no dia 16 de outubro de 2012, e faz parte de um complexo turístico que inclui além da capela, estacionamento para 1.200 carros de passeio e 100 ônibus, lanchonete, lojinha que comercializa artigos religiosos  e banheiros. 
Acesso: Rodovia Estruturante, km 17 

fotos: Rodrigo Paiva e Raquel Garcia
fevereiro de 2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

Pacatuba



População: 72.299 habitantes (IBGE-2010)
Localização:  Região Metropolitana de Fortaleza
Limites: Fortaleza, Itaitinga, Guaiuba, Maranguape e Maracanaú

Em 1708 Gabriel da Silva Lago concedeu a Tomé da Silva, datas e sesmaria para que ele e outros povoassem a serrania de Pacatuba. Antes, em 1633, o capitão-mor  Bento Macedo Faria concedera à família Correia, vinda do Rio Grande do Norte, uma data de terra no lugar conhecido por Pacatuba, para nele assentarem moradia.
As terras férteis  da encosta da Serra da Aratanha atraíram novos moradores e logo possibilitaram a formação do povoado que, por ato de 18 de março de 1842, foi elevado a sede de distrito. 


O arruado já existente em 1855 apresentava condições favoráveis para a vida política e seu aspecto progressista permitia que se pensasse em autonomia administrativa. Em 1859 uma resolução provincial criou três feiras de gado na província do Siará, e incluiu a povoação de Pacatuba como sede de uma delas. 
A Vila foi criada pela lei provincial de 8 de outubro de 1869, desmembrado de Maranguape, com sede em Pacatuba. Sua instalação só ocorreu a 26 de abril de 1873. A Câmara então eleita teve como presidente o major Crisanto Pinheiro de Almeida e Melo, sendo nomeado primeiro secretário  Antônio Severino Serra de Oliveira. 

 antiga Estação da Pacatuba. Com a desativação do ramal, o imóvel foi ocupado por um cartório. 

Fato auspicioso para a vida local ocorreu em 9 de janeiro de 1876, quando foi inaugurada a Estação da Estrada de Ferro Baturité, destinada a unir a zona sul do Estado à capital Fortaleza.  Pela lei de 17 de agosto de 1889, a vila de Pacatuba foi elevada à categoria de cidade. Proclamada a República, nesse mesmo ano constituiu-se o Conselho de Intendência Municipal. 

 Igreja de n. S. do Carmo
 capela na entrada cidade

 
Igreja Matriz de N.S. da Conceição

A freguesia de N.S. da Conceição criada pela Assembleia Provincial por lei de 5 de novembro de 1869, foi canonicamente instituída por provisões de 31 de janeiro de 1870. O padre Bernardino de Oliveira memória construiu a atual igreja matriz, àquela época um nicho de taipa. O padre tomou a si a tarefa de construir um novo templo, iniciando as obras em 26 de agosto de 1874 e concluindo no período de menos de seis anos, em 1° de janeiro de 1880. 



 Praça Francisco das Chagas Albuquerque
 Praça da Paixão
 
Balneário Parque das Andréas 

Altitude: atinge 54 metros na sede do município
Acidentes geográficos: as  principais elevações são a Serra da Aratanha, com uma altura média de 600 metros, da Jubaia e do Pitaguari; os serrotes Cachoeira, Torres, Prata, Piroá, Gurguri, Bolo, Coelho e Jatobá.
Atualmente o município é constituído de 4 distritos: Pacatuba, Monguba, Pavuna, Senador Carlos Jereissati.
  
fontes:
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros - IBGE - 1959
Anuário do Ceará  
fotos de Rodrigo Paiva e Raquel Vianna
março/2014