segunda-feira, 20 de maio de 2013

Das Vilas às Cidades e a Emergência de Fortaleza

Fortaleza, Rua Floriano Peixoto, início do séc. XX (arquivo Nirez)

A passagem de Fortaleza de pequena vila sem importância funcional, desprovida de um porto equipado e localizada em um sítio desfavorável à condição de grande cidade com extenso espaço regional e expressivo papel de comando se confirma na extrapolação dos limites estaduais favorecendo a conquista de imensa área de influência  e mesmo a hinterlândia do seu porto que, na condição de importador, distribui mercadorias para toda a região. Fortaleza, hoje de porte metropolitano, guarda muito do seu passado, com vestígios de cidade provinciana. Entretanto, não é negligenciável a intensa e acirrada competição urbana que ela estabelece com tradicionais metrópoles brasileiras, especialmente as do Norte e Nordeste.

 centro de Sobral (acervo IBGE data não especificada)

Se Fortaleza foi aos poucos conquistando essa posição que ocupa hoje no sistema urbano brasileiro, no interior, por sua vez, apenas Sobral e o aglomerado urbano de Crato – Juazeiro do Norte se destacavam como centros comerciais e industriais. Como já foi visto anteriormente,  criação de gado foi marcante no processo de povoamento e ocupação do espaço cearense. A predominância da criação extensiva impediu em parte, o surgimento e o crescimento de cidades, haja vista o papel da atividade pecuária na dispersão da população.

 Igreja Matriz de Aquiraz (foto do blog)

Foi Aquiraz a primeira vila criada no Ceará. Hoje esta é cidade–sede do município com o mesmo nome, contido na Região Metropolitana de Fortaleza, que só foi elevada à categoria de vila em 1726. As demais vilas criadas no Estado, ainda no século XVIII foram: Icó (1738), Aracati (1748), Caucaia (1759), Crato (1764), Baturité (1764), Sobral (1778), Granja (1776), Quixeramobim (1789) e Guaraciaba do Norte (1796). 

 Baturité, em data não especificada (arquivo Nirez)

No início do século XIX começaram as primeiras atividades de exportação pelo Ceará, como capitania emancipada (desmembrada em 1799 da Capitania de Pernambuco), e em 1826, a Vila de Fortaleza chega à condição de cidade.
Após Fortaleza foram elevadas à condição de cidade, ainda no século XIX, somente as vilas de Sobral (1841), Icó e Aracati (1842), Crato (1843) Quixeramobim (1856) e Baturité (1858). Das cidades cearenses, aquelas originárias de vilas criadas no século XVIII, ainda hoje se constituem, com raras exceções, as mais importantes do estado. Poucas mudanças ocorreram na hierarquia urbana cearense, se for considerado o tempo transcorrido entre a fundação da primeira vila (Aquiraz-1713) e o quadro atual da realidade urbana estadual.  

 Cidade de Icó, anos 1910/20

Icó e Aracati assumiram importante papel enquanto centros urbanos no interior. Aracati, antiga São José do Porto dos Barcos, mais tarde Santa Cruz de Aracati, expandiu-se pouco a pouco, chegando a estender sua influência sobre todo o território do Ceará. Sua condição de porto de entrada e saída de mercadorias, principalmente carne-de-sol, muito contribuiu para o seu crescimento. O advento das charqueadas no Ceará influenciou a pujança de Aracati, que se tornou o mais movimentado e rico centro da capitania do Ceará.  Em face dessa atividade, Aracati tornou-se o grande centro urbano cearense do passado. Hoje sua influência restringe-se ao litoral, nas imediações da foz do Jaguaribe. 


Praia de Canoa Quebrada, em Aracati 

O turismo enquanto atividade econômica intensifica o uso do potencial paisagístico do litoral do município e tira vantagens da localização da cidade nas imediações da foz do rio. A combinação de turismo e lazer associados à exploração da conjunção de águas doces e salgadas do mar e do rio Jaguaribe favorece o desenvolvimento do setor hoteleiro, inclusive aquele voltado aos esportes náuticos. 

extraído do artigo José Borzachiello da Silva
A Cidade Contemporânea no Ceará
publicado no livro Uma Nova História do Ceará

 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Fortim


Em suas origens consta como fruto da Proto-História do Ceará, tendo sido fundado por Pero Coelho de Souza, quando de sua malograda Expedição de 1603. Partindo da Paraíba á frente de 200 índios aliados  e de 65 soldados, Pero Coelho atingiu pelo litoral o rio da Cruz (Coreaú) e seguiu para a Serra da Ibiapaba, onde travou combate com os índios Tabajaras e alguns franceses que estavam aliados na localidade.  Derrotando os adversários Pero Coelho tentou seguir para o Maranhão, mas só atingiu o rio Parnaíba, no Piauí, pois seus homens cansados e famintos se recusaram a prosseguir a viagem.

 Pedra do Chapéu, local onde supostamente foi construído do Forte de São Lourenço, o primeiro forte construído às margens do Rio Jaguaribe e que deu origem a cidade. Hoje o local pertence a particulares.


Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo, em Fortim, construída em 1912, tombada pela Prefeitura de Aracati . A igreja foi construída com a frente voltada para o rio, pois na época da construção a vila se estendia na beira do rio. A cidade cresceu e o povo começou a erguer suas casas atrás da igreja.


 Praça São Pedro (Praça da matriz)

Rua de Fortim

De volta ao litoral, o capitão-mor determinou a fundação às margens do Rio Ceará, do Forte de São Tiago e o povoado de Nova Lisboa, batizando a capitania de Nova Lusitânia. Ficou pouco tempo por ali. Os índios revoltados com o comportamento brutal dos europeus passaram a atacar o fortim. O açoriano retira-se então para o Rio Jaguaribe, erguendo nas margens deste o Forte de São Lourenço.
Contudo, sofrendo os efeitos da pesada seca de 1605 a 1607 (a primeira registrada na histografia local), abandonado por vários de seus soldados, não recebendo a ajuda prometida pelo governo geral e atacado pelos indígenas, Pero Coelho se viu obrigado a sair do Siará em dolorosa caminhada, na qual pereceram de fome e sede alguns soldados e seu filho mais velho.  Dirigindo-se ao forte dos Reis Magos em Natal e depois Paraíba e Portugal, Pero Coelho morreu em Lisboa alguns anos depois. Fracassava assim, a primeira tentativa de colonizar o Siará Grande, mas a excursão pioneira de Pero Coelho deixou como lembrança histórica, além do Forte de São Lourenço, algumas peças de artilharia, e as raízes do lugar posteriormente chamado de Fortim.


população ribeirinha 

Distrito criado com a denominação de Canoé, pela lei nº 1271, de 29-05-1934, subordinado ao município de Aracati. Pela lei nº 386, de 14-10-1937, o distrito de Canoé passou a denominar-se Fortinho.  Pelo decreto estadual nº 448,de 20-12-1938, o distrito de Fortinho passou a denominar-se Fortim.



Foz do Rio Jaguaribe encontro com o mar em Barra de Fortim

Elevado à categoria de município com a denominação de Fortim pela lei estadual nº 11928,de 27-03-1992, desmembrado de Aracati. Sede no antigo distrito de Fortim. Constituído do distrito sede. Instalado em 01-01-1993. Em divisão territorial datada de I-VI-1995, o município é constituído de 6 distritos: Fortim, Barra, Campestre, Guajiru, Maceió e Viçosa. 


Limites: 
Norte: Beberibe, Oceano Atlântico;  Leste e Sul: Aracati; Oeste:  Beberibe
Distância até Fortaleza: 135 km
Localização: Mesorregião do Jaguaribe
Microrregião: litoral de Aracati
População: 14.817 habitantes (censo 2010 IBGE)
Área da unidade: 279 km²
Bioma: Caatinga

fotos: Rodrigo Paiva, Raquel Garcia e Eugênia Garcia
Fontes:
História do Ceará, de Airton de Farias
IBGE

terça-feira, 14 de maio de 2013

A Ocupação do Ceará



O historiador Capistrano de Abreu afirmava que a ocupação do Nordeste brasileiro teria ocorrido seguindo duas grandes rotas: a do sertão de dentro – dominada pelos baianos, que teriam sido responsáveis pela ocupação do Piauí e do Sul do Ceará, partindo do rio São Francisco; e a do sertão de fora- dominada pelos pernambucanos, que se deslocando pela faixa mais próxima do litoral, seguiram pela Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará em direção ao Maranhão. No Ceará, as duas correntes de interiorização se confluem. 

O Mapa Y-59 feito pelos holandeses, descreve a costa cearense, com o título "A costa do Brasil entre Jabarana (Ponta Grossa) até a Barra do Ceará (foto do Diário do Nordeste) 

Até então a presença do invasor europeu na Capitania do Siará estava restrita ao forte de Nossa Senhora da Assunção, no litoral, onde uma guarnição militar composta por brancos, negros e mestiços provava simbolicamente o domínio português em companhia de índios aliados. Foi exatamente para os ocupantes do forte que foram dadas as primeiras sesmarias na foz dos rios Pacoti, Choró e Piranji (mais tarde chamado de Rio Ceará). A seguir foram doadas sesmarias para os colonos vindos de capitanias vizinhas – Pernambuco, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte.  Do litoral os conquistadores passaram a ocupar definitivamente o interior, apossando-se, sobretudo, das terras próximas ao curso dos rios de maior volume.  Concedendo sesmarias, o governo português estimulava a ocupação dos sertões, uma vez que estaria garantindo não só o seu domínio sobre as terras, mas também a arrecadação, com a cobrança de impostos sobre o gado, o couro, a carne tudo o mais que pudesse ser produzido na região. 


No período compreendido entre  1679 a 1699, num espaço de 40 anos, foram doadas 261 sesmarias, numa média de 13 cartas por ano. No período seguinte, entre 1700 e 1740 foram doadas 1700 sesmarias, média de 42 sesmarias por ano. Foi nesse período que o conflito entre indígenas e fazendeiros tornou-se mais agudo.  No entanto há uma fase entre 1700-1720, em que o conflito deu-se de forma mais aberta. Nesses anos foram doadas 923 cartas, dando uma média de 46 por ano.
No período 1679-1699, constata-se que a maioria dos solicitantes eram moradores em outras capitanias (55,3%). No entanto, no segundo período 1700-1740 este percentual caiu para apenas 17%.  Cabe destacar que no primeiro período, um percentual significativo de solicitantes não ocupou suas datas. No Pacoti, por exemplo, Manuel Cabral de Melo, em 3 de setembro de 1739, requer por prescrição a data que foram concedida, 58 anos antes, a Feliciano de A. Bulhões e sua mulher Domingas do Rego. 

 Barra do Rio Ceará

Um dado importante a ser observado é o número de prescrições. No período inicial, de 20 anos, foram apenas quatro prescrições, enquanto que entre 1701 e 1710, em apenas dez anos ocorreram 31 prescrições. Outro dado para ser ressaltado é a relação entre a queda do absenteísmo e as prescrições no período em que se está consolidando a ocupação da capitania. A partir de 1701 teve início uma queda nos índices de absenteísmo que em 1720 atingiu patamares insignificantes, quando já estava consolidada a ocupação da capitania.
Constata-se tendência inversa em relação as prescrições até 1730, que teve um movimento crescente para em seguida declinar, ficando demonstrado que uma parcela significativa das sesmarias que haviam sido solicitadas no período de 1679 a 1699, não foram ocupadas. A partir de 1740, o número de prescrições e absenteísmo praticamente desapareceram ou atingiram patamares irrelevantes.

fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias
Mundos em Confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo território, 
de Francisco José Pinheiro.