sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Russas

foto do site da Prefeitura Municipal de Russas

As terras que viriam a constituir o atual município de Russas eram habitadas, à chegada dos primeiros colonos, por volta de 1690, por tribos selvagens  que praticavam terríveis devastações, com o intuito de desalojarem os novos moradores. Luciano Cardoso de Vargas, médico procedente de Pernambuco, Francisco Ribeiro de Souza e sua mulher, também daquela capitania, e Gaspar Rebouças Malheiro, oriundo de Viana, Portugal, destacam-se entre os primeiros desbravadores da região.

vista parcial da cidade na década de 50

Para que o nascente arraial pudesse mais eficazmente opor-se aos ataques dos selvagens, Pedro Lelou construiu, em 1701, por ordem do governo português, uma pequena fortaleza a que foi dada a denominação de Forte do Jaguaribe. O local, também conhecido por Presídio do Jaguaribe, pela nova denominação dada ao forte, chamou-se depois Presídio de São Francisco Xavier. O povoamento intensificou-se em 1707, quando Cristóvão Soares Reimão iniciou a construção de uma capela e a demarcação de terras, destinando na concessão feita a Gregório Gracisman de Abreu “meia légua de terra para a residência do pároco”. Erguida em 1709, a casa de orações, com aparência de igreja, no local onde hoje está a matriz, passou a denominar-se Casa de Nossa Senhora.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário 

Avenida Dom Lino década de 50 (arquivo Nirez)

Entretanto, havendo sido retirada a antiga fortaleza, verificaram os moradores a necessidade de substituir o nome do lugarejo. Tendo em conta que o local onde ficava o templo era o ponto de maior convergência dos que residiam nas cercanias, deram-lhe a denominação de Sítio da Igreja. Posteriormente, levando em consideração a circunstância de situar-se o templo na sede do maior núcleo da região, banhado pelo riacho Arahibu, de há muito conhecido  pelo nome de riacho de Russas, deram-lhe seus moradores a denominação de Capela das Russas. E em substituição ao topônimo Sitio da Igreja, o de Vila das Russas, numa antecipação ao ato administrativo que só no alvorecer do século XIX viria a efetivar-se.

vista parcial da cidade - década de 1950  

Em 1735 o povoado contava algumas centenas de habitantes e possuía casario de beira e bica, paredame de tapume e chão de terra batido. Nesse ano criou-se a freguesia, desmembrada do Aquiraz, por provisão do bispo de Pernambuco . Benedito A. dos Santos, do Instituto do Ceará afirma que em 12 de setembro de 1798, os moradores do julgado de Russas fizeram uma representação ao capitão-general e governador de Pernambuco, pedindo a criação da Vila, mas sobreveio a separação de Pernambuco e somente na administração do governador do Ceará, Manuel Bernardo de Vasconcelos, foi criada a Vila com o nome de São Bernardo do Governador. A inauguração da Vila foi marcada para o dia 6 de agosto de 1801, ao toque de sino e pregão do meirinho geral de correição.  Miguel Moreira dos Anjos no lugar do pelourinho, foi inaugurada a vila com a denominação de São Bernardo de Russas.

Rua do Comércio - década de 1950


Elevado à categoria de cidade e sede municipal com a denominação de Russas, pela lei estadual nº 169, de 31-03-1938, retificado pelo decreto-lei estadual nº 378, de 20 de outubro de 1938.
Em divisão territorial datada de 18 de agosto de 1988, o município é constituído de 6 distritos: Russas, Bonhu, Flores, Lagoa Grande, Peixe e São João de Deus. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.

Russas, década de 1980 (arquivo Nirez)

Localização: zona fisiográfica do sertão do Baixo Jaguaribe, na margem esquerda do riacho Arahibu, braço do Rio Jaguaribe.
Limites: Beberibe, Palhano, Jaguaruana, Quixeré,  Limoeiro do Norte e Morada Nova.
Altitude: 60 metros de Altitude
Área:  1.591,281 km²
Acidentes geográficos: os seus principais acidentes são: a Serra de Apodi, com cerca de 500 metros de altitude e no serrote de Palpina com 200 metros; rios Jaguaribe, Palhano e Quixeré são os principais, além de numerosos riachos, lagoas, açudes e pequenas barragens. O solo é coberto de capoeiras, cerrados, matas e carrascos, além de extensos carnaubais.
População
Recenseamento Geral de 1950: 34.077 habitantes – 16.745 homens e 17.332 mulheres
                          Censo de 2010: 69.833 habitantes – 34.405 homens e 35.428 mulheres
Distância da capital: 165 km
  
fontes:
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros
wikipédia

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Lobisomem do Cariri

A lenda do lobisomem tem origem provavelmente na Europa do século XVI, embora traços do personagem  apareçam em alguns mitos da Grécia Antiga. Do continente europeu, espalhou-se por várias regiões do mundo. Chegou ao Brasil através dos portugueses que colonizaram nosso país, a partir do século XVI. Este ser sobrenatural possui um corpo misturando traços de ser humano e lobo.
De acordo com a história, um homem foi mordido por um lobo em noite de lua cheia. A partir deste momento, passou a transformar-se em lobisomem em todas as noites em que a Lua se apresenta nesta fase. Caso o lobisomem morda outra pessoa, a vítima passará pelo mesmo feitiço.

Estrada Barbalha Crato - 1962 (foto IBGE)

No Ceará, aqui e ali aparecem histórias dando conta do aparecimento de estranhos personagens, geralmente associados ao lendário lobisomem, que assustam as populações de pequenas localidades. Em 2008, na zona rural de Tauá, um “lobisomem”  furtava ovelhas e arrombava residências na região.  Era descrito por testemunhas como um individuo meio homem e meio lobo, que emitia ruídos estranhos e arrastava correntes. O delegado da cidade chegou a registrar dois Boletins de Ocorrência, feitos por moradores que viram a aparição. 
Uma das histórias de lobisomem mais conhecidas é a de Vicente “Finim”, morador do Cariri que, segundo a lenda, virava lobisomem nas noites de quinta para sexta-feira. Segundo a história, quando uma mulher tem sete filhas e o oitavo filho é homem, esse menino será um lobisomem. Também o será, o filho de mulher amancebada com um padre. Sempre pálido, magro e orelhas compridas, o menino nasce normal. Porém, logo que ele completa 13 anos, a maldição começa. Na primeira noite de terça ou sexta-feira, depois do aniversário, ele sai à noite e vai até um encruzilhada. Ali, no silêncio da noite, se transforma no “tal bicho” pela primeira vez, e uiva para a lua. 


Prédio da Prefeitura de Barbalha anos 50 (foto IBGE)

No caso de Vicente Finim, cujo nome verdadeiro é Vicente Araújo, a maldição de virar lobisomem lhe foi imposta porque ele teria de provocado o assassinato de sua mãe. A lenda conta que Vicente, ao levar o almoço do seu pai que trabalhava na roça, comeu a carne no caminho e disse que teria sido um homem que estava com sua mãe. O velho voltou para casa enciumado e matou a esposa à facadas. Ao morrer, a mãe de Vicente Finim teria deixado à maldição, dizendo que a pessoa que levantou aquele falso, ia ser transformado em lobisomem.
Daí em diante, toda terça ou sexta-feira, ele corria pelas ruas ou estradas desertas com uma matilha de cachorros latindo atrás. Nessa noite, ele visitava, sete partes da região, sete pátios de igreja, sete vilas e sete encruzilhadas. Por onde passava, açoita os cachorros e apagava as luzes das ruas e das casas, enquanto uivava de forma horripilante. Antes de o Sol nascer, quando o galo canta, o lobisomem volta ao mesmo lugar de onde partiu e se transforma outra vez em homem. Para quebrar o encanto, era preciso chegar bem perto, sem que ele perceba, e bater forte em sua cabeça. Se uma gota de sangue atingir a pessoa, ela também vira o bicho.


Praça Filgueiras Sampaio, em Barbalha,  década de 50 (foto IBGE)

A história de Vicente Finim correu o mundo, fazendo medo a crianças e adultos. Entrou para o folclore regional, foi contada em versos pelos cordelistas. Ele morreu em 1985, no Sítio Cabeceiras, Município de Barbalha, negando as acusações. Mas nas entrelinhas deixava uma dúvida. Confessava que gostaria muito de namorar e trocava o dia pela noite à procura de um amor proibido.


Fonte
Diário do Nordeste 20.08.2006

sábado, 21 de setembro de 2013

A Colonização dos Inhamuns

Capela de São Pedro em Parambu, anos 50

A história conta que a colonização do Ceará começou pelo litoral, entre os atuais limites de Fortaleza e de Aracati. O povoamento, porém, teve início no Cariri, na segunda metade do Século XVII, ampliando-se em direção aos Inhamuns já nos primórdios do Século XVIII. "O povoamento do Ceará começou pelo Cariri, em Municípios mais próximos da Capitania de Pernambuco (a mais importante daquela época) e pelo sertão dos Inhamuns, onde a pecuária encontrou ótimas condições para se expandir, desde as cabeceiras dos rios Trici e Carrapateiras, formadores do Rio Jaguaribe, até depois dos rios do Jucá e Umbuzeiro, também seus afluentes", destaca o memorialista Pedro Rocha Jucá.
Graças às fartas chuvas do inverno, à criação de gado consolidou a ocupação econômica e social dos Inhamuns, quase simultaneamente com o fértil vale do Cariri, onde já prosperavam os engenhos de rapadura e as casas de farinha que deram ao Crato a liderança política do Ceará colonial.


Praça da matriz em Parambu - anos 50

Segundo os historiadores, os coronéis Francisco Alves Feitosa e Lourenço Alves Feitosa chegaram ao sertão dos Inhamuns por volta de 1710 e ali estruturam a maior comunidade rural da Capitania do Ceará. O comissário Lourenço Alves Feitosa chegou a ter 22 sesmarias e com o seu irmão Francisco Alves Feitosa dominaram uma área de aproximadamente 30.000 quilômetros quadrados. 
Nessas propriedades floresceu o historicamente conhecido "Clã dos Inhamuns", uma das maiores parentelas da História do Ceará em todos os tempos. O coronel Francisco Alves Feitosa deixou considerável descendência, tornando-se o Patriarca da Família Feitosa nos Inhamuns.
O coronel Francisco Alves Feitosa fundou a sua primeira fazenda, a fazenda Barra do Jucá, na margem direita do Rio Jaguaribe, próximo a Arneiroz. O coronel Francisco Alves Feitosa viveu os seus últimos dias na fazenda Cococi, onde inaugurou uma capela em 1748, seguindo o modelo da igreja de Feitosa, em Portugal, que tem um altar lateral junto ao arco-mor.
Predestinada à pecuária, a região dos Inhamuns foi o segundo polo econômico da Capitania do Ceará, depois dos êxitos alcançados pela agricultura do fértil Cariri. Na "Revista do Instituto do Ceará", de 1907, consta que "o terreno de Inhamuns é mais seco e pedregoso, composto de pequenas serras e alquebradas, e que, contudo, não deixa de produzir abundantes pastagens, sendo os seus gados os mais propícios para fazerem longas viagens, por isto transportado quase sempre para a Capitania da Bahia".
A palavra Inhamuns deriva de Anhamum, que em tupi significa "Irmão (Mu) do Gênio Mau da Floresta (Anhan, de Anhaga)". Anhamun foi o principal cacique dos aguerridos índios Jucás. A história deles, conforme disse o pesquisador Carlos Studart Filho, foi "violenta e trágica". Vale citar que "Anhamum" é o título de um dos mais emocionantes capítulos do romance "O Sertanejo", de José de Alencar.
Toponímica
O sobrenome Feitosa é classificado como sendo de origem toponímica, isto é, pertence ao grupo de sobrenomes que deriva do nome do lugar onde nasceu ou possuía terras o progenitor da família. Deriva do lugar denominado Feitosa e localizado na Freguesia do Conselho e Comarca de Ponte do Lima, diocese de Braga, Porto, Portugal.
A família Feitosa era a mais importante e a mais numerosa dos Inhamuns desde o início do povoamento da região, onde se projetou graças à criação de gado, como a maior expressão econômica e política.

Cococi, a cidade fantasma dos Inhamuns 



"Lá estão as nossas raízes e também as de outras famílias aqui da região". As palavras do motorista Vital Feitosa denotam as hipóteses de historiadores, pesquisadores e curiosos sobre as origens da colonização no Estado pelos Inhamuns, iniciadas na antiga cidade de Parambu, e também que o processo de colonização da região dos Inhamuns passou por Cococi.
Descendente de uma das famílias que povoou a região, Vital se engaja junto com outros membros dessa nova geração para preservar as tradições locais, especialmente ligadas à "cidade fantasma". Extinta em 1968, Cococi começou como vila, passou a ser distrito de Parambu e depois foi emancipada após a instalação da família Feitosa naquela região.



A iniciativa e a boa vontade de Vital e outros jovens descendentes do "clã" que fundou Cococi ainda no século XVIII em preservar as tradições do lugar são relevantes e concretas, afinal, anualmente, muitos deles e a população vêm comemorar Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Cococi. No entanto, ao se visitar a antiga cidade, composta hoje somente por prédios em ruínas, mato invadindo os casarões abandonados e apenas duas casas de pé e habitadas, afora a Igreja, construída por volta de 1740, instantaneamente aflora um sentimento maior de preservação e conservação. Merece, portanto, atenções de órgãos que gerenciam o patrimônio histórico para que isso ocorra.

Escola Eufrásio Alves Feitosa

Além do prédio da Igreja, outra construção se destaca na paisagem antiga e deteriorada da "cidade fantasma": a Escola Eufrásio Alves Feitosa. O professor Leonardo Alves ensina de forma multisserial aos 14 alunos de diversas faixas etárias que são matriculados na unidade. A distância também é o grande desafio dos estudantes, devido ao tamanho do distrito. Boa parte deles saí de casa às 10 horas da manhã para assistir às aulas a partir das 13 horas. 
A distância, o isolamento, o silêncio e a bela arquitetura dos prédios e casarões chamam a atenção. Chegar ali após a distância, a abertura de inúmeras cancelas, paisagem desértica, dificuldade de acesso e curiosidade faz uma estranha sensação de alegria brotar no coração. A cidade de Cococi possuiu apenas dois prefeitos, o Major Feitosa e Leandro Custódio, ambos da mesma família. 



No recenseamento geral de 1950, o atual município de Parambu e seu distrito Cococi, eram ambos distritos de Tauá, do qual foram posteriormente desmembrados e suas populações totalizavam 15.458 habitantes. Já a projeção feita para 1° de julho de 1957, estimava uma população de 21.313 habitantes, sendo 17.960 em Parambu e 3.353 habitantes em Cococi. 92,54% dessa população residia na área rural. 


Construída em 1740 a igreja é o único imóvel realmente preservado em Cococi       

A história popular conta que o Major Feitosa, no seu segundo mandato (terceiro e último do Município), ao receber verbas para investimento teria utilizado indevidamente o dinheiro para compra de gado. Então surgiram os desentendimentos entre a própria família. O fato repercutiu no Estado e União. E a Ditadura Militar teria decidido extinguir o Município. Revoltados, a família Feitosa e seus moradores teriam abandonado a cidade, situação que permanece até os dias atuais.
Lendas e histórias de fantasmas e aparições permeiam o lugar. Em Parambu, quando se fala em Cococi, há admiração e um certo receio. A frase "você vai lá mesmo?" é expressa com frequência pelas pessoas nos órgãos, mercado e feiras.
O temor se explica pela distância e dificuldade de acesso, mas também pelas histórias. "Há muitas lendas e relatos de aparições no cemitério e até explosões em túmulos, mas nada devidamente comprovado. Os moradores da região comentam sobre a lenda da serpente", comenta Albetiza Noronha, do Museu de Parambu.


Foto de Thiago dos Passos disponível em http://www.panoramio.com/ 

Para a moradora Clenilda Lô, os fantasmas não passam de comentários sem fundamento. "As lendas e os fantasmas não existem. Moro aqui e nunca vi nada", garante.
O professor Leonardo, que mora há 15km de Cococi e vem todos os dias de motocicleta, também assegura que não existem fantasmas no lugar. Mas já teve medo. "Tinha receio de vir aqui no princípio. Depois, acostumei. Tudo isso são apenas comentários", acredita. E até arrisca uma explicação científica para a explosão do túmulo, a qual o imaginário popular atribui a fenômenos sobrenaturais. "Pesquisadores vêm aqui de vez em quando, desde esse acontecimento, e evidenciaram a existência de minérios de ferro, cobre e gás natural".
A "cidade fantasma" já foi tema de reportagem de várias redes de televisão e jornais e também serviu como locação de filmes, o que contribui para atrair curiosos.

fonte: 
Diário do Nordeste
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros
fotos de Cococi: Diário do Nordeste

domingo, 8 de setembro de 2013

Os Primeiros Ouvidores da Capitania do Ceará


Até a criação da vila a administração da capitania era feita  por três instâncias de poder: o capitão-mor  governador, a ouvidoria e a câmara de vereadores. Os capitães-mores governadores recebiam instruções verbais de Pernambuco e concentravam todo o poder nas mãos. Eram arbitrários e provocavam inúmeros conflitos ao intervir  e perseguir outras autoridades.  Os Ouvidores tinham a função de fiscalizar a administração e aplicar a justiça na capitania. O ocupante do cargo deveria ser formado em Direito e era nomeado pelo rei para um período de três anos.

Casa da Câmara e Cadeia de Aquiraz (foto Fátima Garcia)

A Ouvidoria Real da Capitania do Ceará foi criada apenas em 1723, com sede na Vila de Aquiraz. Até então as pendências judiciais e administrativas eram resolvidas pelos Ouvidores de Pernambuco ou da Paraíba. As Câmaras detinham funções de ordem econômica, administrativa, econômica, policial e judiciária, como fiscalizar a construção de estradas, pontes e calçadas, regulamentar as feiras, os mercados e o trânsito, a arborização das ruas e praças e outras atividades relacionadas com o bem comum.
Nos primórdios da Capitania do Ceará, subordinada à de Pernambuco, como a da Paraíba e a do Rio Grande do Norte, havia um ouvidor para as três. Por decisão do Conselho Ultramarino de 8 de janeiro de 1823, essa Ouvidoria foi desmembrada, criando-se uma magistratura exclusiva para o Ceará.
O primeiro desses juízes foi José Mendes Machado, conhecido por Tubarão, personagem como outros de sua ordem, ávidos de dinheiro, bacharéis de Coimbra antes da reformulação da sua universidade por ato do Marquês de Pombal.
Tomou posse do cargo em 23 de agosto de 1723. Sua posse foi seguida de sérias desordens. Seus primeiros atos desagradaram e surgiu em Aquiraz, então sede da capitania, um partido de descontentes que pretendia seu impedimento do cargo, querendo que continuasse o ouvidor da Paraíba. Logo em 1724 houve grandes desordens na capitania, estando no governo o capitão-mor Manuel Francês. Parte dos habitantes de Aquiraz, tendo à frente o juiz ordinário Zacarias Vital Pereira, opôs-se ao exército do ouvidor Mendes que o mandou prender. Retirando-se Mendes para o Acaraú, de onde ordenou várias outras prisões, exacerbando os descontentes.
Por este tempo havia um conflito entre as famílias Monte e Feitosa, por questões de terras no alto Jaguaribe. O Ouvidor Mendes Machado dirigiu-se ao Cariri e expediu ordem de prisão contra os Montes, incumbindo da diligência o capitão João Ferreira da Fonseca, que se reunindo a Francisco Alves Feitosa, chegado ali dos Inhamuns com 800 índios, cometeu inúmeras violências.


casa do capitão-mor localizada em Aquiraz , construída em meados do século XVIII para servir de residência para as autoridades da capitania, sendo seu primeiro morador o capitão-mor Manuel Francês, fundador da vila de fortaleza.  foto do site 

Os adversários do ouvidor se declararam a favor dos perseguidos e o senado da câmara e o capitão-mor Manuel Francês exigiram que Mendes se retirasse da capitania. Não sendo atendidos, os aliados dos Montes se reuniram, a título de representarem contra a violência do ouvidor, ocorrendo um conflito em que morreram 30 pessoas. Continuando as desordens e com receio da volta que o ouvidor Mendes voltasse ao Aquiraz, a Câmara exigiu do capitão-mor Manuel Francês, que o mandasse prender. O ouvidor Mendes, em vista dessa resolução, deixou  a capitania do Ceará. Após esse fato, o capitão-mor Manuel Francês empregou todos os meios a seu alcance para desarmar as duas famílias combatentes e seus partidários.

Fonte:
Ceará (Homens e fatos)  de João Brígido       
História do Ceará, de Airton de Farias

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Barão do Crato e seu Romance Proibido

Bernardo Duarte Brandão – o Barão do Crato – nasceu em Icó, no dia 15 de julho de 1832, filho de Bernardo Duarte Brandão, um rico fazendeiro proprietário de terras da Ribeira dos Icós e Jacinta Augusta de Carvalho Brandão.  O que distingue a história do Barão do Crato de outros poderosos que imperaram em terras do Nordeste naqueles tempos antigos, é a sua fantástica história de amor por sua irmã, Maria do Rosário.

Sobrado do Barão do Crato (foto O Povo)

Igreja matriz de N. S. da Expectação em 1952 - ao lado o sobrado do Barão do Crato (foto IBGE)

Ainda jovem o Barão vai à Europa para complementar seus estudos; quando viaja, sua irmã ainda é uma criança; quando retornou encontrou uma linda mulher. O barão se apaixona por ela, é correspondido. Na tentativa de superar os obstáculos morais e sociais, o barão vai até o Vaticano, pedir permissão ao papa para casar-se com a irmã. O Papa nega a autorização, dizendo que a igreja não abençoaria tal união. Derrotado e frustrado, o barão resolve permanecer solteiro, no que é seguido pela irmã. A frustração amorosa e o seu amaldiçoado amor por Maria do Rosário, fizeram do barão um homem amargurado e cruel.  Nos fundos do casarão onde residiu, foram encontrados dentes que foram arrancados nas longas sessões de tortura a que seus escravos eram regularmente submetidos, e pedaços de ossos de corpos humanos que se presume também tenham sido de escravos do Barão.

Igreja do Monte N. S. da Conceição em 1962 (foto IBGE) 

Temido e antissocial, o Barão não frequentava a sociedade e estava sempre envolvido em disputas políticas. Mas uma mulher, Dona Glória Dias, descendente do Visconde do Icó resolveu enfrentá-lo. Insatisfeito com duas tamarineiras que serviam de abrigo e sombra para viajantes, incomodado com o barulho e o mau cheiro dos animais o Barão ordenou que as árvores fossem arrancadas. Dona Glória adquiriu uma carroça de pólvora e informou ao Barão que caso fizesse isso ela faria seu sobrado voar pelos ares. Sabedor que promessa de Glórias Dias era coisa certa de ser cumprida, o Barão recuou.
sobrados em Icó - 1962 (foto IBGE)

A carroça de pólvora foi doada para os festejos do Senhor do Bonfim, para serem transformados em fogos de artifício. Desta briga nasceu a tradição de comemorar todos os anos com muitos fogos, o dia 6 de janeiro, em homenagem ao santo.
Bernardo Duarte Brandão morreu com 58 anos, em Paris, em 19 de Junho de 1880, quando de viagem à Europa em busca de tratamento. Seu corpo foi transportado embalsamado de Paris para Fortaleza onde está sepultado no Cemitério São João Batista.
Há quem diga que o romance com a irmã nunca existiu, que tudo não passou de intrigas e difamações criadas e divulgadas por adversários políticos, e publicadas em jornais de Fortaleza. 

Teatro da Ribeira dos Icós(foto Nirez)
 
diz a lenda que por baixo do palco do teatro, há uma passagem secreta que levaria a um túnel com destino a casa do Barão do Crato. Há sim uma marca de uma passagem fechada por tijolos, mas o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – nunca autorizou escavações que pudesse confirmar - ou não - a história.  

fontes:
http://www.motonline.com.br/as-lendas-segredos-e-os-misterios-de-ico-ceara/
http://iconacional.blogspot.com.br/2008/05/bernardo-duarte-brando.html