terça-feira, 31 de julho de 2012

Maranguape

Rua de Maranguape. O primeiro imóvel à esquerda é o Solar Bonifácio Câmara, onde funciona a Biblioteca Pública do Município.

As origens do município datam do século XVII, quando a expedição holandesa, comandada por  Matias Beck, chegou ao Ceará no ano de 1649, conduzindo cerca de 298 homens, entre soldados, índios e negros escravos. O capitão holandês fundeou na  Enseada do Mucuripe, construindo o forte "Schoonenborch", nas cercanias do riacho Pajeú, em cuja volta se desenvolveu o povoado que mais tarde seria a vila de Fortaleza de Nova Bragança.
Os holandeses vieram em busca de supostas minas de prata, existentes na Serra de Itarema ,– próximo ao lugar onde acampavam e não muito distante da serra de Maranguape;  Os holandeses acreditavam encontrar esses tesouros no Ceará, numa daquelas serras que azulavam no horizonte.

Praça Capistrano de Abreu

A expedição batava à Serra de Itarema constitui a primeira exploração do homem branco nas terras do atual município de Maranguape, àquela época habitadas por índios potiguaras, que dilatavam seus domínios na faixa litorânea, desde o Rio Grande do Norte até a Barra do Ceará,  e daí ao Piauí.
As primeiras sesmarias foram concedidas no início do Século XVIII,  mas o povoamento, entretanto, só veio a se efetivar nos primórdios do Século XIX com a decidida atuação do português Joaquim Lopes de Abreu que, por doação do governo na metrópole, entrou no domínio de algumas sesmarias, incorporando-as a outras anteriormente compradas.
Em breve surgiu o arruado, à margem do riacho Pirapora, em torno de uma capelinha, construída para atender às necessidades religiosas dos moradores, que se ocupavam nas atividades agrícolas, especialmente na cultura do café. Em 1851-1852 a produção de café da província era obtida quase toda nas serras de Maranguape. Em 1875, Maranguape ecebe um grande impulso econômico com a inauguração da linha férrea da Estrada de Ferro Baturité, que funcionou até 1963, quando foi desativada.  Na segunda metade do século XIX, mais uma leva de portugueses iniciam mais uma atividade econômica, a plantação de cana-de-açúcar e a produção de cachaça.


População: 115.465 habitantes - (estimativa 2011 - IBGE)
área: 590,886 km²
densidade demográfica: 192,19 hab/km²
distância de Fortaleza: 30 km
localização: Região Metropolitana de Fortaleza
Limites: 
Norte - Caucaia e Maracanaú
Sul - Palmácia, Caridade e Guaiuba
Leste - Maracanaú e Pacatuba
Oeste - Pentecostes e Caridade

 



Distrito criado com a denominação de Maranguape, por provisão de 1° de janeiro de 1760 e ato provincial de 18 de março de 1842, subordinado ao município de Fortaleza. Elevado à categoria de vila com a denominação de maranguape, pela Lei Provincial n° 533, de 17 de novembro de 1851, sendo desmembrado de Fortaleza. Sede no núcleo de Maranguape. Elevado à categoria de cidade em 1869.

Museu da Cidade




 O prédio que atualmente abriga o Museu da Cidade já funcionou como escola, cadeia, delegacia de polícia e instituto médico legal. A segunda utilização justifica as grades nas janelas, e paredes e portas reforçadas. O "x" pintado sobre a porta indicava o número da cela. Sua construção foi iniciada em 1877, empregando mão-de-obra de retirantes da grande seca iniciada naquele ano. Destinava-se inicialmente a ser uma escola pública, e como tal funcionou durante muitos anos. 



O acervo do museu é composto de material sobre o humorista Chico Anísio, um dos filhos mais ilustres de Maranguape, móveis, cadeiras e utensílios antigos doados por moradores e peças usadas no exercício da medicina.     

Igreja Matriz de N.S. da Penha




Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha  

A Igreja principal da cidade foi fundada em 04 de agosto de 1849. A edificação preserva traços da antiga arquitetura religiosa do Estado. Maranguape tem uma peculiaridade de possuir dois padroeiros: Nossa Senhora da Penha e São Sebastião, este último foi escolhido pelo povo em Ação de Graças, devido à suposta intervenção do mesmo na grande epidemia de cólera ocorrida em Maranguape no ano de 1862. Os fiéis acreditam ter sido a partir da proteção de São Sebastião responsável pelo fim da epidemia.


Sítio Ipu, e a casa onde nasceu Chico Anísio 

 Chico Anísio nasceu em 12 de abril de 1931, no Sítio Ipu, em Maranguape. Viveu durante sete anos em Maranguape, quando mudou-se para Fortaleza com a família. Seu pai era presidente do Ceará Sporting Club e dono de uma empresa de ônibus. Em meados de 1940, a empresa de seu pai pegou fogo, e a 'riqueza' da família virou cinzas. Como Chico dizia, 'dormiu rico e acordou pobre'. Foi quando viajaram para o Rio de Janeiro. Lá começou a trabalhar com imitações, participando de shows de calouros. Ganhava todos que participava, no Rio de Janeiro e em São Paulo, chegando ao ponto de os organizadores o proibirem de participar dos shows. Foi quando ingressou na rádio Guanabara que suas imitações dos tempos de calouro o fizeram famoso. Logo ao chegar na rádio, inscreveu três programas humorísticos, que foram prontamente aceitos pela direção da emissora.


Em 1950, já na rádio Mayrink Veiga, nasceu o que chamou de seu 'primeiro gol': o professor Raymundo, seu personagem mais complexo e famoso. 
Em 65 anos de carreira criou 209 personagens,  publicou 21 livros e pintou cerca de 300 quadros. Como compositor tem 27 discos gravados e ganhou dois discos de ouro, quando fazia com Arnaud Rodrigues, a dupla  "Baiano e os Novos Caetanos".
Chico Anísio faleceu no dia 23 de março de 2012, no Rio de Janeiro.

Fotos de julho/2012
por Rodrigo Paiva e Raquel Vianna
pesquisa:
IBGE
Wikipédia
e outras informações colhidas no local    

sábado, 14 de julho de 2012

Assaré, a Terra do Patativa

Vista parcial da cidade de Assaré (foto do site férias tur,  por Vânia Dias)

Até o ano de 1775, o local onde se assenta a cidade de Assaré era totalmente despovoado  num raio de 3 léguas, consistindo apenas em um campo nu de vegetação, à exceção de algumas carnaubeiras e moitas de "pereiros", uma ou outra oiticica às margens de pequenos regatos que sulcam o terreno e correm no inverno; e mais uma infinidade de pequenos olhos-d'água, nas encostas da serra, várias cachoeiras e a soberba pastagem nas várzeas e "escalvados", que tornavam-no apropriado para a criação em geral.
Naquele ano Alexandre da Silva Pereira,  adquirindo as terras do local e adjacências, veio estabelecer-se com a família, criação e escravatura, à margem do regato mais volumoso da região.


 Casa da Várzea
Construída por Alexandre Silva Pereira, passando depois para o coronel Francisco Gomes,  advogado e político do Assaré. O Cel. Gomes era também grande proprietário de terras do século passado. Pertencia às famílias Braga e Gomes de São Mateus dos Inhamuns.
A Casa da Várzea pertenceu em seguida ao Dr. Manuel Paiva, o primeiro juiz a fixar residência no Assaré. (foto: Assaré Net)

O fazendeiro logo se tornou  conhecido e respeitado, mesmo em zonas distantes, dada a facilidade de comunicação, porque ali  se cruzavam as mais movimentadas estradas da época: a Cariri-Inhamuns com a Piauí - Sertões do Baixo (Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), resultando em pouso certo  e confortável para os transeuntes que aproveitavam a ocasião para transações, transformando a fazenda em entreposto comercial.
Visando o povoamento da região, o proprietário fez diversas doações de terras em torno da fazenda, tendo o cuidado de reservar uma parte para o patrimônio do orago da futura freguesia.


Igreja Matriz Nossa Sra. das Dores (foto de Vânia Dias) 
originalmente foi construída uma capela em terreno doado pelo fazendeiro  Alexandre Pereira da Silva, em 1775.  Esta permaneceria inalterada até a conclusão das obras da igreja matriz.  As obras da matriz foram iniciadas em 1842 e concluídas em 1850 , não no mesmo local da capela, mas na Fazenda Várzea, localizada um pouco ao Norte.

Em 1823, os independentes do Ceará Grande, organizando a expedição que foi conhecida por "Marcha de Caxias", a fim de sufocar os rebeldes do Piauí, transformaram o povoado em campo de concentração, ficando aí aquartelados, o que concorreu para melhorar as condições locais.



Açude Canoas (fotos do blog de Assaré e álbum picasa,  de Giseli Barros)
Concluído em 1999 o Açude Canoas é um lago artificial formado pela barragem do Riacho São Gonçalo, pertencente a bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe. Tem capacidade para armazenar 69 milhões de m³ de água. Fica no município de Assaré 

Em 1831 ia ser elevado a distrito de paz, quando a revolução de Joaquim Pinto Madeira irrompeu no Cariri, vindo estas terras a ser teatro de lutas entre liberais e corcundas.
A construção da igreja matriz começou em 1842 no local da primitiva capelinha. Em 1844, foi construído, a expensas da padroeira, o açude "Banguê", depois denominado "Açude de Nossa Senhora".
Assaré passou a sede de freguesia em 1850, com a nova denominação de Nossa Senhora das Dores.
Distrito criado com a denominação de Assaré, pela lei provincial nº 520, de 04-12-1850.
Elevado à categoria de vila com a denominação de Assaré, pela provincial nº1152, de 19 de julho de 1865, desmembrado de Saboeiro. Sede na povoação de Assaré. Constituído do distrito sede. Instalado em 11-01-1869.
Em divisão territorial datada de 17-I-1991, o município é constituído de 3 distritos: Assaré, Amaro e Aratama.

Imagem de Nossa Sra. das Dores no Bairro Moeda (foto do site férias tur)   

Memorial Patativa do Assaré (foto wikipédia)


População – Censo demográfico do IBGE/2010 – 22.445 habitantes
Área da unidade territorial –  1.116,325 km²
Densidade demográfica – 20,11 hab/km²
Limites –  Norte - Antonina do Norte e Tarrafas;
 Sul - Potengi e Santana do Cariri; 
Leste - Altaneira;  
Oeste- Campos Sales.
Distância de Fortaleza – 520 km
Localização –  mesorregião Sul Cearense
Microrregião Chapada do Araripe

Patativa o filho mais ilustre do Assaré

estátua de Patativa do Assaré no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza
Casa do Patativa na Serra de Santana (foto do blog poeta pernambucano)
Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré nasceu no dia 5 de março de 1909 e faleceu em 8 de julho de 2002. Foi um dos maiores poetas populares do Brasil. Cearense de Assaré, teve sua obra registrada em folhetos de cordel, em discos e livros. Aos 16 anos comprou sua primeira viola e começou a cantar de improviso. Com uma linguagem simples porém poética retratava a vida sofrida e árida do povo do sertão. Se projetou com a música "Triste Partida" em 1964, uma toada de retirantes, gravada por Luiz Gonzaga. Seus livros, traduzidos em vários idiomas, foram tema de estudos na Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular Universal.

pesquisa:
IBGE
Wikipédia
blog paróquia de Assaré
site e-biografias net

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Siará Grande e a Fortaleza dos Candeeiros, Lamparinas e Velas


Quando  Henry Koster, português filho de ingleses, inicia suas impressões sobre a vila de Fortaleza, que visitou no período de 16 de dezembro de 1810 a 8 de janeiro de 1811, o governador da província era Luiz de Barba Alardo de Menezes,  a população era, em sua maioria, pobre e não alfabetizada, e havia apenas duas escolas primárias e uma para ensino de latim.
As impressões do visitante foram expressas na obra Travels in Brazil, sendo minuciosas  quanto ao ambiente e aos costumes da população e dos índios que habitavam as aldeias de Arronches, Messejana e Soure, respectivamente os atuais Distritos de Parangaba e Messejana e o município de Caucaia.


Planta de Fortaleza 1811

A capitania do Siará, doada ao fidalgo Antônio Cardoso de Barroso, nunca fora objeto de ação colonizadora, até uma primeira e malfadada tentativa da expedição do nobre açoriano Pero Coelho de Souza.  Depois, em 1612, novo esforço de colonização, dessa vez  com o também açoriano Martim Soares Moreno.
Quando Martim Soares Moreno deixou o Ceará em definitivo, no ano de 1631, a região voltou ao domínio dos indígenas, após o extermínio dos portugueses remanescentes. Em 1649, o Ceará é invadido pela expedição holandesa de Matias Beck que constrói o Forte Schoonenborch, à margem do Riacho Pajeú. 
Sitiado pelos portugueses comandados por Álvaro de Azevedo Barreto, em 1654, Beck se rende e o forte que construira é rebatizado com o nome de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.  
Por Carta Régia de 13 de fevereiro de 1699, a coroa portuguesa autoriza a criação de uma vila no Ceará. Depois de muitas discussões em torno da localização, a vila foi instalada em Aquiraz. Mas uma invasão dos índios Paiacus, Anassés e Jaguaribaras, resultou no massacre de 200 dos seus habitantes, provocando a debandada dos sobreviventes e dando motivo para a criação de uma segunda vila no Ceará.
Em consequência, a 13 de abril de 1726, junto ao forte, é instalada a Vila de Fortaleza de Nossa senhora de Assunção. E por quase um século a história narra um lento desenvolvimento que conduz ao povoamento desolado da primeira década do século XIX.

primitiva Casa dos Governadores na antiga Rua dos mercadores (atual Conde d'Eu) no local onde hoje se encontra o centro de referência do professor) 


Transformações importantes viriam com o governador Manoel Ignácio de Sampaio, responsável pelo que seria o primeiro plano urbanístico de Fortaleza. Essa nova realidade marca decisivamente a vida local, ensejando possibilidades animadoras. E resulta no Decreto do Imperador d. Pedro I, a 17 de março de 1823, logo após a independência  do país do domínio português, elevando a antiga vila à cidade com o nome de Fortaleza de Nova Bragança, denominação não aceita pela população.
No ano seguinte, para efetivar a adesão da província à monarquia brasileira, chega à Fortaleza, a bordo da nau Pedro I, o almirante Lorde Thomas Cochrane, que cumpre seus objetivos políticos e não se esquece de oferecer sua contribuição à ambientação da cidade, plantando fileiras de árvores de ambos os lados das ruas. 
No entanto, o povo, movido talvez pela antipatia ao almirante ou por qualquer outro motivo, derrubou as árvores e arrancou-lhes as raízes, destruindo um melhoramento que teria sido de grande utilidade, dadas as altas temperaturas, o forte calor e fortes ventos que assolavam a capital.
Tempos depois outro visitante oferece uma narrativa mostrando a nova realidade e a perspectiva de soluções para alguns dos graves problemas de Fortaleza, então com 25.000 habitantes. 


A iluminação pública surgiu em Fortaleza a partir da segunda metade do século XIX. 

A. de Belmar, escreve no livro Voyage aux Provinces, suas impressões a respeito, de  Fortaleza, uma cidade nova, de aspecto europeu,  ruas alinhadas e alguns edifícios de notável elegância, dentre os quais estão o Palácio do Governo, um  quartel e a Catedral. 
Acrescenta que a cidade contava ainda com um liceu, uma junta de comércio, hospitais, e, nos arrabaldes, cerca de 1.500 casas de palhas que abrigavam os pobres. E que não restam dúvidas que o melhoramento do porto e outras medidas realizadas pelo governo acabarão de assegurar sua prosperidade.

Prédio da primeira Assembleia Provincial, esquina da rua Conde d'Eu e rua Sobral, na Praça da Sé

Evidencia-se que os recursos rudimentares da vela de carnaúba, de sebo ou de gordura animal de fabricação caseira, e os lampiões, candeeiros, ou lamparinas com azeite extraído da mamona, são de uso frequente  da população da primitiva vila e no período inicial da história da cidade de Fortaleza. 
Eram as soluções práticas para produzir iluminação residencial e os trechos fronteiriços das casas. Era comum ainda o uso de lenha de árvores resinosas como archotes, nas caminhadas nas noites escuras, e na queima nos fornos residenciais. 


   Uma verdadeira maravilha vegetal, particular a este terreno: é a carnaúba ou palmeira cerífera. As folhas são tapeçadas de uma espécie de cera ou sebo, de que os habitantes fazem pequenas candeias. (A. Belmar, em Voyage aux Provinces)

Carnaubeiras às margens do Rio Cocó - 1964
(imagem http://www.ibamendes.com)

Não se tem noticia de qualquer fluxo importador expressivo de produtos com fins de iluminação, o que pode comprovar a quase exclusiva utilização dos recursos regionais para suprir o consumo da população. O acesso fácil a plantas oleaginosas da região indicava a saída natural que a população de Fortaleza, a exemplo de toda a província, utilizava para a satisfação de suas necessidades de iluminação, cujas fontes, eram aparentemente inesgotáveis e de baixo custo.


As lamparinas à querosene ainda hoje são usadas em algumas localidades do interior do Ceará

Os candeeiros, lamparinas e velas constituem o padrão comum de artefatos geradores de iluminação nessa fase da vida provincial. Por volta de 1865, é comercializado também o querosene, que substituirá outros combustíveis na alimentação das tradicionais lamparinas. E somente quando surge uma classe mais culta e economicamente mais favorecida são introduzidos no cenário doméstico o requinte dos lustres de cristais ou castiçais ou candelabros de prata, por assimilação dos referenciais de elegância e riqueza próprios dos centros desenvolvidos.
fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro
História da Energia no Ceará,
De Ary Bezerra Leite