quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Os Casarões do Centro de Fortaleza

  

A maioria foi demolido, virou estacionamento. Casarões em perfeito estado, carentes de manutenção, é fato, mas perfeitamente recuperáveis. Uma mão de tinta, um remendo no piso, uma correção na fiação elétrica, uma atualizada nas instalações sanitárias, a conservação correta do teto, e pronto. A maioria dos poucos sobreviventes foram construídos em fins do século XIX/primeira metade do século XX. Os materiais empregados, eram importados (louças, pisos, telhas, madeiras, sacadas de ferro, azulejos etc.), e já não são mais empregados nas construções modernas. Tampouco existem peças de reposição disponíveis no mercado. As tintas também eram escassas pelo menos nas cores. Usava-se o cinza nas residências e amarelo nos prédios públicos.  


casarão da Família Gondim: demolido

segunda sede da Fênix Caixeiral: demolida 

Casarão da família de Joaquim Miranda, ultimamente Casarão dos Fabricantes: destruído num incêndio


Esses materiais de acabamento não eram produzidos no Ceará, daí a necessidade de importação deles. Aqui se fabricavam tijolos em quase todo o Estado, enormes, bem-feitos, ligados com massa de areia, cal de ostras e óleo de baleia quando em zonas de praia. Nessa arquitetura do tijolo, entretanto, verificou-se insistência do emprego da argamassa de barro e areia, cujos resultados tantas vezes negativos, punham em risco boa parte das obras, que se rachavam, ora sob o peso dos telhados, ora por acomodação do solo, ocado por formigueiros. Essa particularidade construtiva, comum em outras regiões do País, era notada pelos visitantes, que denunciavam as condições aparentemente pouco estáveis de igrejas, edifícios públicos e moradas de gente importante. Essa técnica de fabricação pode ter sido responsável pela perda de muitos imóveis antigos.  

A arquitetura também é típica daquele período, fachadas rebuscadas, com entalhes, relevos, pórticos, soleiras, lajes com pedra de lioz, importada de Lisboa. Os construtores eram verdadeiros artesãos, com figuras e acabamentos feitos à mão, caprichosamente desenhados, reproduzidas de plantas adquiridas no Velho Mundo. Os ornamentos internos falavam de seus moradores: políticos (sim, sempre foram ricos) ou homens em sua maioria enriquecidos com os lucros do algodão, das fazendas de café, e do comércio, portadores de títulos de nobreza, com título e brasão assinalados nas portas das residências.

Os belos casarões estão sumindo do centro de Fortaleza. O esvaziamento e a falta de novos empreendimentos ou propostas para requalificação da área, contribuem fortemente para essa cultura de apagar o passado. Para incentivar a recuperação e a ocupação, o governo municipal poderia conceder algum incentivo fiscal como a isenção de IPTU ou oferecer parceria na recuperação por um determinado período. Mas sem incentivo, sem interesse, sem valor comercial, muitas vezes produtos de heranças, com vários herdeiros, os imóveis acabam sendo demolidos. Mais fácil, mais barato, menos complicado.

Dos que ainda sobrevivem, ainda que só restem os traços da fachada está a antiga mansão da família Távora, em pleno centro da cidade na esquina das ruas Sena Madureira e Visconde de Saboia. Construído pelo coronel José Pacífico, rico cafeicultor da Serra de Baturité para sua filha Cândida. No velho casarão cinzento da Praça dos Leões nasceu o ex-governador Virgílio Távora, no dia 29 de setembro de 1929, filho de Carlota Augusta de Moraes (filha de Cândida) e do Dr. Manuel do Nascimento Fernandes Távora, militante do movimento tenentista do final da República Velha e plantador de café do Maciço de Baturité.


imagem Marciano Lopes
fachada do Solar dos Távora
a frente do imóvel é parcialmente encoberta por essa estrutura preta que piora a aparência e enfatiza o ar de decadência. 


A fachada como era comum às construções de fins do século XIX/início dos XX exibia inúmeras janelas guarnecidas de sacadas e portas de ferro. As linhas arquitetônicas eram exuberantes com figuras em relevo e arcos de meia volta.  A decoração interior do solar era das mais requintadas, com a utilização de objetos importados da Europa e do Oriente. Hoje, totalmente descaracterizado é utilizado em parte por uma loja de materiais de construção. A outra parte, inclusive a parte que contém um primeiro andar, está desativada e com a fachada preservada. As portas do andar inferior foram fechadas, talvez para evitar ocupações ilegais do imóvel.    

Outro imóvel de grande relevância histórica é o Palacete Carvalho Mota, na esquina das ruas Pedro Pereira com General Sampaio. O casarão foi construído em 1907 para residência da família do coronel Antônio Frederico de Carvalho Motta, comerciante ligado ao comércio de exportação presidente do Banco do Ceará, mais tarde Deputado Estadual; ocupou o cargo de 3° vice-presidente do Estado e chegou o ocupar o cargo de governador de 24 de janeiro a 12 de julho de 1912.



Palacete Carvalho Mota - imagem IPHAN




O palacete está situado na antiga Rua da Cadeia, atual General Sampaio esquina com a Pedro Pereira, em terreno medindo cerca de 700 m². Possui estilo eclético, numa mistura de elementos neoclássicos e art nouveau. Tem dois andares com janelas e portas em arco batido. A família ficou pouco tempo no local em razão de uma tragédia familiar.


Ao longo dos anos o palacete abrigou as instalações da IFOCS, posteriormente DNOCS, vindo a ser desocupado, apenas, ao final da década de 70 com a construção da nova sede da Diretoria Regional no Ceará. Em 1983, o imóvel foi restaurado com base em projeto elaborado pelo IPHAN, para a instalação do Museu das Secas, o qual abrigaria o acervo da instituição. Sem a devida manutenção o Museu das Secas que viria a ocupar uma área relativamente pequena do prédio, terminou por não ter condições de atender ao público que buscava visitá-lo. Ainda sobreviveu entre 1985 e 2004. Depois disso o prédio ficou desocupado, e desde então, está fechado. Hoje é um casarão triste e degradado.  

 

Fontes:

Mansões, Palacetes, Solares e Bangalôs de Fortaleza, de Marciano Lopes. ABC. Fortaleza.2000.

História Abreviada de Fortaleza e Crônicas sobre a Cidade Amada. Mozart Soriano Aderaldo. Fortaleza;/ UFC/Casa de José de Alencar, 1998.  

Virgílio Távora e a transição para o desenvolvimento do Ceará, de Juarez Leitão. Revista do Instituto do Ceará – 2013

Arquitetura no Ceará. O século XIX e algumas antecedências. José Liberal de Castro. Revista do Instituto do Ceará – 2014

http://www.fortalezaemfotos.com.br/2020/01/carvalho-mota-o-homem-por-tras-do.html

fotos acervo Fortaleza em Fotos


segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A Primitiva Sociedade Sertaneja

 

Basicamente a sociedade do século XVIII se dividia em duas classes sociais: de um lado, os senhores proprietários de terras, grandes latifundiários detentores do gado, escravos e principalmente, de terras; do outro lado, os “cabras”, constituídos de pequenos proprietários, arrendatários, médios e pequenos comerciantes, funcionários públicos, artesãos, agregados das fazendas, índios escravizados, negros, miseráveis, em diferentes níveis de relação ou dependências com relação aos proprietários de terras.

Casa grande do Umbuzeiro, construída no primeiro quartel do século XVIII, localizada na atual cidade de Aiuaba


Apesar da posse das riquezas e das relações de poder, o modo de vida dessas elites não se se diferenciava muito do restante da população, em virtude da fragilidade econômica local, com secas periódicas, solos ruins, baixa produtividade da terra etc. A diferença entre as casas grandes de fazendeiros e as dos vaqueiros e agregados, não eram tão grandes. Caracterizavam-se pela simplicidade da arquitetura e singeleza das mobílias. Todos tinham os mesmos hábitos alimentares e vestiam roupas simples.

Com a contínua expansão da pecuária e especialmente com os lucros vindos do comércio do charque no século XVIII, tornou-se comum dos fazendeiros com mais posses terem casas nas vilas, onde passavam temporadas como o Natal, a festa da padroeira e as eleições. Contudo, o local de residência do fazendeiro e de sua família, continuava sendo a fazenda de criar gado.

Na terra imperava a violência. As famílias frequentemente mobilizavam seus recursos contra ameaças vizinhas: ataques de outros latifundiários, roubo de gado, disputa por terras, fontes de água ou por razões morais, defesa da honra ofendida. Igualmente havia violência entre as camadas mais humildes. A pobreza, a fome e a escassez de recursos. Os bens eram reduzidos à propriedade de instrumentos de trabalhos, como enxadas, machados e foices, que a dificuldade de os obter os tornavam valiosos, e eram motivo de roubos e assassinatos.

Casa grande do Sitio São Romão, em Orós, construída há mais de 200 anos, com 40 cômodos. Antiga fazenda de exploração agrícola, criação de gado e engenho de cana de açúcar 
imagem DN 


O uso corriqueiro de armas era uma constante preocupação das autoridades que tentavam limitá-las sem muito sucesso. Dessa forma, em qualquer atrito, havia a possibilidade de os envolvidos usarem suas armas e provocarem vítimas.

A autoridade do homem predominava e as mulheres e crianças viviam sob grande opressão, situação ainda mais grave para as mulheres pobres, discriminadas também pela condição social. A mulher deveria ser obediente, submissa e cuidar casa, do homem e da criação dos filhos. O adultério era a maior das afrontas ao marido, punível com derramamento de sangue da adúltera, no chamado “crime de honra”.  

No período colonial eram comuns nas camadas mais pobres da população, os concubinatos (amantes) e amasiamentos (união consensual e estável) considerados crimes pelas autoridades civis e religiosas. Para as camadas dominantes o casamento oficializado era fundamental, por motivos religiosos e manutenção das aparências. Nessas classes sociais os casamentos eram maneiras de reafirmar relações de amizade e manutenção de patrimônio, o interesse dos noivos não era levado em consideração, daí que, muitas vezes estes tinham laços de parentesco e eram prometidos desde o nascimento; ou se conheciam já como noivos, em datas próximas ao casamento.

Entre os proprietários geralmente os casamentos ocorriam entre pessoas da mesma condição social. Contudo, o concubinato poderia quebrar essa regra, pois acontecia de fazendeiros ou autoridades se sentirem atraídos de moças solteiras, pobres, que em troca, ganhavam um certo status, desde que se mantivessem discretas e não afrontasse a boa moral da sociedade. Eram as chamadas “cunhãs” ou a “teúda e manteúda”, que viam na condição de amante uma forma de obter melhores condições de sobrevivência.

Na colônia era crime grave a “alcoviteria”, ou seja, explorar a prostituição. Haviam as chamadas casas de alcouce, um prostibulo eventual, onde o alcoviteiro propiciava o encontro entre homens e mulheres. Tal atividade garantia certa renda para o alcoviteiro que arranjava os encontros, não foram poucos os homens que exploravam seus familiares e senhores que alcovitaram suas escravas.

A sociedade sertaneja caracterizava-se ainda por extremo misticismo e religiosidade, sendo sobretudo, católica, apesar de o catolicismo ter sofrido um processo de sincretismo misturando-se a símbolos religiosos africanos e indígenas.

 

Fonte:

História do Ceará, de Airton de Farias

  

sábado, 16 de setembro de 2023

As Centenárias Igrejas do Centro

 O nosso centro da cidade, que perdeu importância econômica, financeira, política e social nos últimos tempos, ainda detém as construções mais representativas de uma época em que os templos católicos refletiam o status e a fé da população, e atingiam todas as classes sociais: As Igrejas Católicas. A maioria construída com donativos, enfrentando os desafios dos tempos atuais, as igrejas resistem: cercadas de grades, fechadas em boa parte do tempo, enfrentando a concorrência de igrejas evangélicos, mas ainda acolhedoras e receptivas aos homens e mulheres de boa vontade.

Estas são cinco primeiras igrejas de Fortaleza, que já foram fundadas nos mesmos locais onde se encontram até os dias atuais. Algumas foram reconstruídas com características totalmente diferentes dos modelos originais, como as Igrejas do Coração de Jesus, de São Benedito e a de São José (Catedral Metropolitana); a maioria, no entanto, sofreu ampliações e adaptações, no entanto, foram poucas as modificações em relação a construção original.      


1 – Igreja do Rosário - 1730




A Igreja do Rosário foi construída por volta de 1730, pelos negros da Irmandade de Nossa Senhora dos Pretos, em uma época em que havia separação de raças e classes sociais em templos religiosos. Era uma pequena capela de taipa e palha, erguida com donativos ofertados pelos fiéis, num arrabalde da vila, que muitos anos mais tarde se tornaria a atual Praça General Tibúrcio.

Em 1753, a capela foi reconstruída com pedra e cal, porque ameaçava desabar. A capela mor ficou pronta em 1755. No período de 1821 a 1854, Igreja do Rosário serviu de matriz enquanto a Catedral Metropolitana passava por reformas. Construído em estilo barroco, é o mais antigo templo de Fortaleza, tombada pelo Estado em 1983. Fica na Rua do Rosário, s/n, Praça General Tibúrcio, Centro.



2 – Igreja do Patrocínio – 1852



A pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio foi lançada em 02 de fevereiro de 1850, e ficaria pronta dois anos mais tarde. Em 1849 o cabo da esquadra Fortunato José da Rocha disparou um tiro contra o Capitão Jacarandá, mas acertou o joelho do Alferes Luís de França Carvalho, que estava ao lado do capitão. Vendo-se em risco de perder a vida, Luís de França fez voto à Senhora do Patrocínio, que se escapasse, faria uma igreja em sua devoção.

No ano seguinte, curado do ferimento, lançou a pedra fundamental da igreja, ao norte da atual Praça José de Alencar. O oficial teve que deixar Fortaleza e os trabalhos de construção passaram a ser muito lentos, apesar da ajuda de muitos fiéis que apoiaram a ideia do militar. A planta do templo foi feita pelo mestre Antônio de Rosa e Oliveira.

As obras iniciadas por França só foram concluídas devido aos esforços do cônego João Paulo Barbosa, que contou com o auxílio de particulares, das Assembleias Provinciais, da Sociedade Auxiliadora dos Templos, e dos materiais foram doados pelo governo nos períodos de secas. Situada na Rua Guilherme Rocha, 536, Praça José de Alencar.



3 – Igreja de São Bernardo – 1854



Em 1854 o Tenente Bernardo José de Melo construiu uma pequena capela de taipa e palha, em honra de Nossa Senhora do Bom Parto. No primeiro inverno, com a força das chuvas que caíram, a capela foi ao chão. Graças ao seu prestígio, o tenente Bernardo conseguiu um empréstimo do governo, e com esse dinheiro construiu a atual Igreja de São Bernardo. A igreja sofreu um único acréscimo em relação a construção original: a sacristia, feita por Monsenhor Quinderé, durante os anos 40.

Inicialmente o povo chamava a Igreja do Seu Bernardo, que com o tempo mudou para São. Ficou sendo a Igreja de São Bernardo, embora a devoção maior fosse em louvor a Nossa Senhora do Bom Parto. Para justificar o batismo da igreja o Tenente Bernardo mandou vir da Espanha uma imagem de São Bernardo, que passou a ser o titular da igreja.

A Igreja de São Bernardo conta com dois altares herdados da antiga Igreja da Sé, demolida em 1938: o Altar de São José e o de N. S. do Bom Parto.  Fica na esquina das ruas Senador Pompeu e Pedro Pereira.



4 - Igreja do Pequeno Grande – 1903

imagem: https://www.tiagoguedes.com.br/post/igreja-para-casar-em-fortaleza

imagem: https://www.tripadvisor.com.br

A história da Igreja do Pequeno Grande está intimamente ligada à história do Colégio da Imaculada Conceição.  A pedra fundamental foi lançada em 1898, pelo padre Chevalier, reitor do Seminário e capelão do Colégio da Imaculada.  As obras, mal iniciadas, sofreram paralisação no ano seguinte, sendo retomadas em 1898 até a sua conclusão em 1903, quando se verificou a benção do templo.

Para que o templo ficasse concluído, a Irmã Chambeaudrie doou à igreja uma herança de família. Por sua vez, os membros de diversas associações – Filhas de Maria, Senhoras de Caridade e as próprias freiras se dedicaram a missão de angariar recursos para a obra. Situada na Avenida Santos Dumont, 55.


5 – Igreja de Nossa Senhora do Carmo – 1906


imagem UOL

Originalmente era a capela de Nossa Senhora do Livramento, um pequeno templo erigido pela Irmandade dos Pardos, administrada pela Paróquia do Patrocínio, erguida em área distante do centro, cercada de árvores, com uma lagoa nas proximidades. No início do século XX, foi decidida a construção de uma igreja em substituição à capela, que se encontrava em péssimas condições. Ainda na construção, foi permitido que fosse mudada a invocação para Nossa Senhora do Carmo.

O templo foi inaugurado em 25 de março de 1906, sendo o primeiro capelão monsenhor José Gurgel do Amaral. A imagem que ocupa o centro do altar-mor tem uma história de desencontro: o Padre Dantas tinha encomendado a imagem de Nossa Senhora do Carmo em Portugal. Quando a efígie da santa chegou a Fortaleza, ele foi avisado de que deveria pagar os direitos alfandegários para que pudesse recebê-la, o que ele não fez por esquecimento.

Então a imagem foi a leilão, tendo sido arrematada pelo Sr. José Rossas, que procurado pelo padre negou-se a cedê-la por qualquer preço. Dias depois José adoeceu gravemente, e fez uma promessa de entregar a imagem à Igreja caso ficasse curado. Alguns dias depois, mandou que sua esposa procurasse o Pe. Dantas para entregar-lhe a imagem da Virgem Maria, sem qualquer compensação.  A Igreja do Carmo fica na Avenida Duque de Caxias, s/n.




Foram totalmente reconstruídas:


Igreja do Sagrado Coração de Jesus – 1886/1961

imagem Instituto do Ceará
imagem Pinterest

Inaugurada em 25 de março de 1886, a construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus foi uma iniciativa do casal José Francisco da Silva Albano e Liberalina Angélica da Silva Albano (Barão e Baronesa de Aratanha), com o apoio do bispo Dom Luís Antônio dos Santos. Ficou conhecida como Igreja dos Albanos. O templo era simples, em linhas neoclássicas e neogóticas, se assemelhava à Igreja do Carmo.

Em 1952, os engenheiros Luciano Pamplona e Valdir Diogo aumentaram a altura da torre e colocaram um imenso relógio trazido de Roma na fachada. Cinco anos depois, em 1957, a torre cedeu e soterrou a entrada da igreja. Não houve vítimas. Ao invés de reconstruir a igreja, pois apenas a torre fora afetada, os capuchinhos optaram por derrubar toda a igreja para construírem um templo maior, com rampas para subida dos carros, uma torre vazada e uma grande cúpula sobre a nave principal.  A nova igreja foi inaugurada em 1961. Localizada na Avenida Duque de Caxias,135, Centro.



Igreja de São Benedito – 1885




                                                     imagem Arquidiocese de Fortaleza

A inauguração da Igreja de São Benedito ocorreu na manhã do dia 8 de abril de 1885.  Era uma igrejinha pequena, original, com quatro frentes para os quatro pontos cardeais, com torre de madeira envidraçada, situada ao lado oriental do Boulevard do Imperador, atual Avenida do Imperador. No dia 27 de julho de 1938 foi instalado o Santuário da Adoração Perpétua, na Igreja de São Benedito. Depois nos anos 1960 foi construída uma nova igreja na Rua Clarindo de Queirós, que fica ao lado, e o antigo templo foi transformado em uma livraria, e foi demolido em 1974.


Catedral Metropolitana – 1795/1978

imagem Arquivo Nirez


A primeira Igreja da Sé, que tem São José como patrono, foi concluída em 1795 e demolido em 1820.

Em 1854 teve início a construção da segunda igreja de São José, em estilo colonial, o espaço em frente passou a ser chamado de Largo da Matriz; Hoje é conhecida por Praça da Sé. Essa segunda igreja foi demolida em 1938.

A Catedral Metropolitana atual foi inaugurada no dia 22 de dezembro de 1978, tendo o padre Tito Guedes à frente de suas obras e como Arcebispo Metropolitano, Dom Aloísio Lorscheider. Fica na Rua Conde D' Eu. entre as ruas General Bezerril, Dr. João Moreira, Castro e Silva e Rufino de Alencar.

As nossas igrejas são bastante modestas se comparadas aos imponentes templos construídos na Bahia, Pernambuco e Minas Gerais,  sob os ciclos da cana de açúcar e do ouro. A arte do Ciclo do Gado é a mais humilde, toda a sua arquitetura se faz, pela falta da pedra apropriada para a obra, em simples alvenaria, na qual se executa uma ornamentação própria. Nem esculturas, nem cinzeladuras, nem obras de talha, nem ouro, nem mármore e só algumas exibem azulejos.    

 

Fontes:

FONTES, Eduardo. As Pouco Lembradas Igrejas Fortaleza: subsídio à história dos templos católicos de Fortaleza. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1983.

BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e Notas de Raimundo Girão. UFC/Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1992

BARROSO, GUSTAVO. À Margem da História do Ceará. Imprensa Universitária do Ceará,  1962 

terça-feira, 16 de maio de 2023

A Segunda Tentativa de Colonização do Ceará

 Mal Pero Coelho de Souza havia se retirado da região, derrotado pelos ataques indígenas e pela violenta estiagem que ainda assolava a capitania do Siará Grande, quando em janeiro de 1607, dois religiosos portugueses da ordem dos jesuítas, se assentaram na capitania, dispostos a conquistar os indígenas, não pela força das armas, mas pelos ensinamentos cristãos. Os padres Francisco Pinto e Luís Figueiras tinham o Maranhão como destino, onde pretendiam enfrentar os franceses e organizar uma missão religiosa da Companhia de Jesus, destinada a catequizar os nativos.




Vindos de Pernambuco e tendo desembarcado em Mossoró, os dois religiosos acompanhados de cerca de 70 índios cristianizados, caminharam até as dunas do Mucuripe, onde se estabeleceram depois de fazerem as pazes com um morubixaba de grande prestígio na região, o famoso chefe Amanai, nome que os historiadores traduziam por Algodão. Pregando habilmente os ensinamentos cristãos, converteram inúmeros selvagens e, auxiliados por eles, fundaram aldeamentos juntos às tribos dos Aratanhas, Caucaias e Parangabas, dando início ao núcleo de evangelização que serviriam de base para pequenos povoados nas imediações da futura cidade de Fortaleza.


Fundaram no seio das tribos das redondezas, que acampavam às margens de lagoas ou na aba das serras próximas, quatro aldeias ou reduções que ainda hoje figuram na toponímia local: Pitaguari, na Aratanha, Caucaia, Paupina e Parangaba, antigos aldeamentos, hoje integrados à Fortaleza ou à sua Região Metropolitana.


Os aldeamentos representaram uma forma diversa de violência, às vezes mais sutil, mas não menos prejudicial à integridade dos povos indígenas. Os missionários, imbuídos da necessidade de ensinar aos nativos a verdadeira religião cristã, escandalizavam-se com os hábitos e costumes locais, que incluíam as práticas pagãs, a nudez, a poligamia, encaradas como satânicas e pecaminosas. Deu-se então o inevitável confronto entre duas culturas desiguais.



Villa Nova de Arronches - antigo aldeamento da Parangaba
Gravura de José Reis de Carvalho que participou da Comissão Científica do Império, e visitou o Ceará entre 1859 e 1861.

Os jesuítas não entendiam que a relação dos nativos com a terra era bem diferente da visão mercantilista do mundo europeu. A maioria dos indígenas recusavam a delimitação da área do aldeamento, e ao trabalho de cultivar a terra, preferindo a liberdade natural de rios e matas.


Findos os trabalhos e deixando essas reduções funcionando, os dois sacerdotes deixaram essas reduções e continuaram sua marcha onde chegaram à Serra Grande ou Ibiapaba, reduto dos índios Ipus.


Depois subiram a serra e fizeram contato com os índios da nação dos Tabajaras, que os apelidaram abaúnas (homens pretos). Os jesuítas encontravam-se no seio da maior taba daquelas paragens, espécie de capital das nações indígenas, aliadas aos franceses que haviam enfrentado as tropas de Pero Coelho de Souza em 1604, e sido derrotados.


A indiada, ainda ressabiada com a derrota, recebeu-os com grande desconfiança, olhando com descrédito aqueles homens vestidos de preto e palavras mansas que lhe falavam de um Deus desconhecido. Alguns franceses que ainda permaneciam no meio dos gentios, os incitavam às escondidas contra os religiosos. Todavia, estes conseguiram com grandes esforços erigir uma capela, onde rezavam missa, pregavam e batizavam. 

 


chacina do Padre Francisco Pinto em 1608  
Por Michiel Cnobbaert - Biblioteca Nacional, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=17315678


Da mesma forma que ocorreu com Pero Coelho, a história não acabou bem para os dois jesuítas. Padre Francisco Pinto foi flechado e morto a golpes de tacape em janeiro de 1608, enquanto rezava uma missa na capela que ajudara a construir na Ibiapaba.  O padre Luiz Figueira escapou do ataque, e ajudado por alguns indígenas, varou os sertões inóspitos, alcançou as aldeias do litoral, onde o foi acolhido pelo chefe Algodão. O padre continuou sua missão evangelizadora até 1637, quando também foi morto por indígenas na Amazônia.



Fontes:

História urbana e Imobiliária de Fortaleza, de Lira Neto e Cláudia Albuquerque.

À Margem da História do Ceará, de Gustavo Barroso 

imagens da Internet   


domingo, 7 de maio de 2023

Pero Coelho de Souza, o Pioneiro

 A primeira tentativa de ocupação da capitania do Ceará ocorreu pouco mais de um século depois do descobrimento, em 1603, quando Pero Coelho de Sousa, resolveu, por sua conta e risco, organizar uma bandeira, tentando diminuir os prejuízos que teve em outras empreitadas. Ao então governador-geral Diogo Botelho (8º Governador -Geral do Brasil – 1602/1607), declarou como seus objetivos descobrir minas de ouro e prata, expulsar os franceses que invadiram o Maranhão e estabelecer a paz com os nativos.


mapa da costa do Ceará, autoria de João Teixeira Albernaz - 1629


A cruz assinala o lugar onde teria sido edificado o forte de São Tiago 

Pero Coelho saiu da Paraíba a pé rumo ao Maranhão, acompanhado de 65 soldados (dentre eles o jovem Martim Soares Moreno) e 200 índios pacificados, até atingir a foz do rio Jaguaribe. Prosseguindo, atingiu a Ponta do Mucuripe, depois seguiu até a Ibiapaba, quando travou combates com índios da tribo dos Tabajaras e comandos franceses. Venceu o combate com grandes baixas e pretendia retomar sua viagem ao Maranhão, mas em razão da escassez de alimentos e das más condições físicas dos seus homens, decidiu retornar ao Ceará.


Estabeleceu-se na Barra do Ceará, onde levantou o forte de São Tiago. A região do entorno chamou de Nova Lusitânia, formada por uma tosca paliçada de paus de quina e umas poucas casinhas de palha. Mas Pero Coelho decidiu se estabelecer ali. Seguiu para Recife para buscar sua mulher Maria Thomazia e seus cinco filhos. Voltou um ano e meio depois para constatar que o relacionamento entre índios e soldados estava deteriorado, resultado da rígida obediência que os portugueses exigiam dos nativos para impor autoridade. Essa atitude implantou o ódio e a discórdia.


Acuado pelos inimigos (indígenas e soldados franceses), decidiu abandonar o forte e mudar-se para a foz do Jaguaribe. Nos anos de 1605/1607, o Ceará enfrentou uma forte estiagem que coincidiu com a viagem de Pero Coelho para a região do Jaguaribe. No percurso os viajantes encontraram rios e lagoas naturais totalmente secos, a vegetação morta, produzindo um cenário de fome, miséria e desespero.


Para completar a visão apocalíptica, apareceu nos céus o cometa de Halley, que os índios chamavam de “tata-bebe” (fogo voador), misturando terror e misticismo, uma vez que a aparição de fenômenos no céu eram considerados de mau-agouro.


Seguindo em sua árdua caminhada Pero Coelho perdeu alguns de seus soldados e seu filho mais velho, que morreram de inanição. Sua mulher Maria Thomázia, chegou ao Jaguaribe em grave estado de desnutrição, transportada numa espécie de maca. Depois se recuperou. Do Jaguaribe, com pouco mais da metade dos 50 homens que tinham iniciado a viagem, o aventureiro desloca-se até o forte de Reis Magos, em Natal, e depois à Paraíba, onde embarcou de volta para Lisboa.


a região da barra do Ceará foi a primeira área ocupada pelos exploradores 
postal dos anos 70

Na Corte fez um relato dramático de suas andanças pelas inóspitas terras do Nordeste, na esperança de receber alguma compensação pelos seus serviços. Não sensibilizou ninguém, porque todos conheciam sua impetuosidade. Martim Soares Moreno, que fez parte de sua expedição, registrou em sua “Relação do Ceará”, sem identificar nomes, que houve muita importunação aos indígenas sem razão. Pero Coelho de Souza morreu sem receber nada.


Na Revista do Instituto do Ceará, o historiador Studart Filho, deixou registrada sua impressão sobre a primeira investida colonizadora no Ceará. “efêmera e sem brilho havia de ser a vida desse reduto, testemunho mudo dos sofrimentos e das misérias dos primeiros colonizadores do Ceará. Evacuado em 1605, depois de ter servido de refúgio aos expedicionários durante mais de 18 meses, caiu em ruínas, desaparecendo sem deixar vestígios”.


A tentativa seguinte de colonização também falhou. Era a dos padres jesuítas Francisco Pinto e Luiz Filgueira.


Fonte:

Caravelas, Jangadas e Navios – uma história portuária, de Rodolfo Espínola.