terça-feira, 29 de outubro de 2013

Museu Sacro São José de Ribamar


O Museu Sacro São José de Ribamar destina-se à preservação da arte da religiosidade no Ceará e à sua divulgação na forma sistemática da museologia.
O acervo compõe-se de peças de caráter sacro, como imagens talhadas em madeira, castiçais, cruz processional, turíbulos, navetas, missais e prataria do século XVIII.  
Foi criado em junho de 1967 e inaugurado em setembro do mesmo ano.  O fato de Aquiraz ter sido a Primeira Vila definitivamente instalada na então Capitania do Siará Grande por Ordem Régia de 1711, executada em 1713, e a instalação da freguesia religiosa por volta de 1756 sob a invocação de São José de Ribamar, favoreceu a escolha da localização do museu.








Instalado no velho sobradão construído por volta de 1880, onde funcionava, na parte superior, a Câmara Municipal e, na parte térrea a Cadeia Pública, tendo recebido as necessárias e adequadas adaptações, o museu, com seu valioso acervo exposto à visitação pública, incentiva o cultivo do espírito no reviver da memória da crença dos antigos.


fonte:
O Ceará dos anos 90 - Censo Cultural
fotos: Rodrigo Paiva - julho/2011


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Histórias de Cococi


Cococi é um distrito do município de Parambu, sertão dos Inhamuns Cearenses. A pequena localidade foi sede de município entre 1954, e o final dos anos 60, com Posto Fiscal, Prefeitura, Matriz, Escola e Hotel. Hoje quase vazia de pessoas,  permanece em sua arquitetura e na memória de antigos moradores.  
Povoado fantasma, museu vivo de épocas memoráveis, está localizado em terreno de Eládio Feitosa, herdeiro mais rico do famoso clã dos Inhamuns, que conserva a antiga vila como uma relíquia.


Cococi fica a 27 km da sede do município de Parambu, tendo como único cesso uma estrada de piçarra. (foto G1)

Fundada no início do século XVIII por Francisco Alves Feitosa, o primeiro coronel da família, Cococi transformou-se no reduto maior, marco principal do império dos Feitosas, a mais poderosa oligarquia da história da colonização cearense.
Sua capela mandada construir pelo coronel fundador da vila, dedicada a N. S. da Conceição em 1740, encontra-se até hoje perfeitamente conservada, na harmonia singela de sua arquitetura neoclássica.

Os enormes casarões que formam a larga e única rua da antiga cidade, pertencentes aos diversos ramos da família, guardam  memória dos dramas e feitos daqueles que ao longo dos séculos dominaram os sertões quase selvagens dos Inhamuns. Histórias fantásticas de sinhazinhas, como Ana Feitosa, que morreu picada por uma das serpentes que criava. De Maria Alves Feitosa, cujo marido, embriagado, costumava agredi-la em plena procissão. Ou de Francelina, amante do major Feitosa, derradeiro chefe do clã, que ao morrer lhe destinou parte da herança. 
Episódios heroicos e tenebrosos da luta pela conquista de terra, gado e gente, façanha dos capitães-mores, exterminando índios, escravizando negros e domesticando mestiços.


A igreja é o único imóvel preservado de Cococi. De 29 de novembro a 8 de dezembro, o Distrito recebe cerca de 300 pessoas por dia que vem participar das novenas dedicadas a N. S. da Conceição. (foto G1) 

Cococi perdeu o status de cidade e voltou a ser Distrito de Parambu em 1968, por conta de questões ligadas a verbas públicas: Segundo a versão popular, o Major Feitosa, em seu segundo mandato de prefeito utilizou verbas destinadas a investimentos locais na compra de gado. O fato repercutiu e criou insatisfação entre os próprios membros da família. Diante da irregularidade, a Ditadura Militar decidiu rebaixar o município à condição de Distrito.

Revoltados, os Feitosas começaram a se retirar do local, no que foram seguidos pelos demais moradores em razão da falta de oportunidade de emprego e trabalho, já que eram os membros do clã que moviam a economia local. 

Hoje apenas 2 famílias compostas de 7 pessoas residem em Cococi, que sobrevive sem abastecimento regular de água, sem energia elétrica, sem calçamentos nas ruas, sem transportes públicos, sem postos de saúde, sem vizinhos... 

Fonte: 
O Ceará dos Anos 90, censo cultural.    

domingo, 20 de outubro de 2013

Literatura de Cordel

A literatura de cordel é assim chamada devido a forma como os folhetos são vendidos, pendurados em barbantes.  São mais comuns em cidades do interior, principalmente do Nordeste brasileiro

Apesar das novas e sofisticadas tecnologias de comunicação, o povo no Ceará ainda dá mais crédito e um bom folheto de versos, Literatura de Cordel, como chamam os estudiosos. Narrações metrificadas e rimadas, tendo por tema histórias de amor e heroísmo, crônicas de casos intrigantes e misteriosos, reportagens de fatos desastrosos e de feitos miraculosos, críticas de costumes, gracejos, enfim, todas as infinitas facetas de fatos do cotidiano. No cordel, tudo adquire um gosto especial.


O folheto de cordel, na sua forma tradicional, mede geralmente 11x16,5 cm, impresso em papel jornal. Sua capa confeccionada  em xilogravura ou clichês tipográficos, contendo antigas estampas representa todo um ciclo de criações artísticas.
Até os anos 90 a venda do folheto de cordel, também ela, assume uma expressão artística peculiar. Os vendedores (sendo ou não eles também poetas) constituem-se verdadeiros atores e mestres na arte de narrar. Perambulam por praças, mercados e feiras e esquinas movimentadas onde levantam suas tendas, ou simplesmente abrem suas malas. Atraem seus fregueses contando, muitas vezes em forma de canto, trechos dos folhetos do seu acervo.


No passado, edições de cordéis chegavam a centenas de milhares de folhetos. Hoje alcança um público muito maior devido ao alcance das redes sociais e da rede mundial de computadores.  Dessa forma, em várias regiões do Estado e principalmente em Fortaleza, aparecem novos autores e ilustradores de capa. Através deles, o cordel se mantém vivo e renovado.  


Nos anos 60 Juazeiro do Norte foi sede da maior editora e distribuidora de literatura de cordel do país, a Tipografia São Francisco, de José Bernardo da Silva, que foi sucedida pela Lira Nordestina, editora dirigida pelo poeta Expedito Sebastião da Silva, também na terra do Padre Cícero. 

extraído do livro O Ceará dos anos 90 - Censo Cultural
Governo do Estado do Ceará - Secretaria da Cultura e Desporto

sábado, 12 de outubro de 2013

Icapui - Ce


A história de Icapuí é muito especial. Começa quando era apenas uma pequena vila, chamada Caiçara, que significa cerca de galhos, que protegia as tribos dos índios. O Distrito foi criado em 1938, com a denominação de Caiçara, com terras desmembradas do distrito de Areias, subordinado ao município de Aracati. Em 1943, o distrito de Caiçaras passou a denominar-se Icapuí.  
No começo Icapuí tinha poucos habitantes. Depois, com o passar dos tempos, a população aumentou e aconteceu a primeira tentativa de torná-la município, através de Orlando Rebouças e Marcondes de Oliveira, em 1957, o que não foi possível, devido às forças políticas que eram contrárias ao movimento. Vinte e sete anos após a primeira tentativa, um grupo de nativos conseguiu transformar Icapuí em município, desmembrando-o política e administrativamente de Aracati, a partir de 22 de janeiro de 1984. O município é dividido em três distritos: Icapuí (sede), Ibicuitaba e Manibu.

 Vista do Mirante 
Entrada da cidade

 Igreja Matriz de N. S. da Soledade





 Área de manguezal
Passarela do mangue

População estimada 2013 – 19.129 habitantes
População censo de 2010 – 18.392 habitantes
Área da unidade territorial – 423,448 km²
Densidade demográfica – 43,43 hab/km²

Limites do Município: Norte e Leste: Oceano Atlântico, Sul: Tibau (RN), Aracati, Oeste:  Aracati
distância de Fortaleza: 202 km
As terras de Icapuí são compostas de dunas móveis e fixas e de tabuleiros pré-litorâneos, com elevações inferiores a 100 metros acima do nível do mar (Morro do Timbaú).

fotos de Ricardo Vianna
outubro/2013 
fontes:
IBGE
Wikipédia

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Julgamento do Padre Mororó e Pessoa Anta

A Comissão Militar instituída para o Ceará, foi criada por Carta Imperial de 16 de dezembro de 1824, presidida por Conrad Jacob Niemeyer e tendo como juiz relator Pedro de Moraes Mayer, além de cinco vogais. O júri se instalou às 08h30min da manhã do dia 21 de abril de 1825, constando da pauta os processos relativos ao padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo Mororó e o coronel de milícias Joaquim de Andrade Pessoa Anta. No dia 25 do mesmo mês, graças ao açodamento com que os trabalhos foram tocados, os réus já haviam sido condenados à pena de morte, restando apenas os prazos finais para execução. 

Padre Mororó

Mororó teve no seu rol de culpas:
1 – haver proclamado a República de Quixeramobim;
2 – ter ocupado o cargo de Secretário do governo republicano, proclamado e instalado pelo Tenente-coronel Tristão Gonçalves de Alencar Araripe;
3 – ter sido o redator-chefe do jornal Diário do Governo do Ceará, o primeiro no gênero a ser instalado na Província;
Pessoa Anta, menos carregado de culpas, mais nem por isso digno de moderação, figurava como tendo sido Comandante Geral das Forças Revolucionárias sediadas na então vila de Granja, servindo como ponto de apoio a Tristão Gonçalves. Os fuzilamentos ocorreram sequencialmente a partir de 30 de abril de 1825, obedecendo a seguinte ordem:
Padre Mororó – por volta de 6 horas da manhã, fizeram-no descer do oratório. O cerimonial de suplício moral começou por despi-lo de suas vestes sacerdotais e substituição dessa indumentária pela alva, símbolo característico de degradação psicológica. Ao ser concluída essa operação, bem humorado e a zombar dos seus algozes, Mororó pilheriou: louvado Seja Deus que até a última camisa que me dão é curta. Não houve graça pelo menos da parte dos que se detinham em constrangê-lo e o cerimonial continuou.
Pessoa Anta – levado ao quadrado, onde tropas se posicionavam em ângulos perfeitos, procedeu-se ao ritual de degradação militar, conforme a praxe. Colocado no centro do quadrado, em posição de sentido, a tropa volveu à direção e deu-lhe as costas. Neste momento os tambores rufaram. Um soldado aproximou-se retirou-lhe dos ombros divisas e dragonas, arrancou-lhe do peito os galões e findou por despojá-lo da farda. Em seguida vestiu-lhe a alva.
Concluída essa parte e ainda não desfeito o quadrado, Mororó foi posto à direita de Pessoa Anta, ambos ladeados pelos seus respectivos confessores. O cortejo seguiu um trajeto previamente determinado: saiu do Quartel de 1ª. Linha em busca da Rua de Baixo (Sena Madureira), Igreja do Rosário e Paiol da Pólvora (atual Passeio Público). 

Os condenados por participação na Confederação do Equador foram fuzilados no então Campo da Pólvora, atual Passeio Público. O local exato seria correspondente ao antigo 3° plano, mais tarde denominado Avenida Carapinima, desativado para construção da usina termelétrica da Light. 

A marcha era vagarosa e ensaiada, visando mostrar o espetáculo em seus mínimos detalhes e com isso desestimular os que ainda pensassem em sublevação contra o Império.  Uma multidão acompanhava o préstito sinistro. 
Durante o percurso entre a Igreja do Rosário e o campo de execução, o Padre Mororó, encanecido prematuramente aos 45 anos de idade,   tornou-se o polo de convergência  no qual todas as atenções se concentraram.  Perdeu-se de vista a igreja, entrou-se pela Rua da Palma (Major Facundo) até dobrar a esquina defronte ao n° 102, onde se encontrava o sobradão do Comendador Machado.  Em poucos instantes, o cortejo chegou ao local onde deveriam ser realizadas as execuções. 

Igreja do Rosário em 1908

Mororó teria a primazia. Colocado em posição, recusou a venda e pediu para que não lhe colocassem no peito a fita indicativa da mira da descarga. Os carrascos o atenderam. Em seguida, colocou sobre o coração a mão direita para que os carrascos não errassem o alvo. Receava o tiro de misericórdia, suplicio muitas vezes demorado e de extremo padecer.  Três dedos da mão direita foram arrancados com os tiros. Mororó tomba sem vida.
O segundo mártir do dia, Pessoa Anta, apenas aguardava a remoção do cadáver para que ocupasse o mesmo lugar. 
Comenta-se, à margem da história, que Jacob Niemeyer tinha uma visão particular de fidelidade. Era fiel ao império a que servia. Quanto ao zelo que dedicava a justiça e a sutileza com que sabia gerir as causas Reais, havia certas limitações, a depender do perfil econômico do réu. Dessa concepção ambígua, provinha o peso da balança, desde que o peso do réu lhe fosse adjudicado em ouro. Propala-se que com o coronel Manuel de Sousa Barroso essa operação tenha se realizado. Verdade ou não, fala mais alto a coincidência da exclusão de um do rol dos sublevados, e a esperança de outro, pelo menos até o momento final da execução.
Conta-se que, por intermédio da esposa do advogado Miguel Rocha Lima, de quem era amiga a esposa de Jacob Niemeyer, acertara-se essa composição salvadora, ficando os encargos complementares por conta do Dr. Francisco de Paula Pessoa, futuro senador do império e irmão de Pessoa Anta. Conhecedor das disponibilidades financeiras de seus familiares, parentes e amigos que residiam nas vilas de Granja e Sobral, reuniram o volume de ouro exigido em favor de Pessoa Anta, que não logrou sucesso em razão de uma incidente inesperado.
Quando atingira o Boqueirão dos Araras (Caucaia), distante quatro léguas de Fortaleza, os cavalos não suportaram mais a viagem e pararam. No local não havia mais como substituir os animais e a comitiva ali pernoitou. Na manhã seguinte, sem os cavalos refeitos e sem outros meios com que remediar a urgência, viu-se que os esforços tinham sido em vão, pois não havia mais como chegar a tempo de evitar a execução da sentença.


Antiga Igreja Matriz de Fortaleza para onde os corpos do Padre Mororó e Pessoa Anta foram levados 

Pessoa Anta foi conduzido ao local de fuzilamento exatamente as 9 horas da manhã. Seguiu-se em tudo a praxe, desde o aprisionamento dos punhos e afivelamento das correias à colocação da venda como arremate da cena. No momento da descarga houve falha da munição, de modo que, ao tombar, o réu recobrou as forças por instantes, pronunciou algo de ofensivo que a história não registrou e ficou cambaleante. Seguiu-se o tiro de misericórdia, que também falhou e o quase-morto ficou a rodopiar. Um soldado completou o espetáculo, desfechando-lhe uma coronhada estourando-lhe os miolos. 
A tropa retirou-se. Reuniram, então os dois cadáveres, que foram colocados em esquifes e os conduziram à Igreja Matriz, onde deveriam ter a paz da eternidade.


fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro Pena de Morte, de 
R. Batista Aragão.