A incrível história da Igreja de Almofala
aparência atual da Igreja de Almofala
Almofala é
um pequeno povoado localizado no litoral norte do Ceará, a cerca de 280 km de
Fortaleza, no município de Itarema. Almofala é palavra de origem árabe, vem de
Al-Mahalla (acampamento).
A localidade
está inserida em uma belíssima paisagem de dunas e cajueiros. O início da
ocupação da região onde hoje se situa Almofala, remonta ao fim do século XVII,
quando a Carta-Régia do Governo de Portugal , de 08 de janeiro de 1697, deu de
sesmaria aos índios Tremembés as terras entre a barra do Rio Aracati-Açu. Sua
doação objetivou fixar os indígenas – que vagavam pela costa – em aldeias
permanentes.
Em 1712 foi
concluída a construção da igreja de Almofala levantada pelas antigas missões
jesuítas sob a invocação de N. S. da Conceição.
No início de
1898, em razão da constante força dos ventos, as dunas avançaram sobre a povoação dos
Tremembés e lentamente, foram soterrando
a Igreja de Almofala. O templo esteve quase meio século inteiramente coberto
pela areia, até começar a aflorar, vagarosamente, daquele imenso areal, sua única
e bela torre setecentista, moçárabe, até descobrir-se por inteira, com suas
volutas, nichos, seu crucifixo de ferro para
a luz.
Em 1943 foi
celebrada a primeira missa em regozijo à sua ressurreição. Em 18 de abril de
1980, a igreja N.S. da Conceição de Almofala, foi reconhecida como Monumento
Nacional.
Terra dos
Tremembés
Índios Tremembés de Almofala
imagem do site: http://www.ufpe.br/carlosestevao/museu-virtual-fotoetno
A população
de Almofala nos dias atuais ainda é composta em sua maioria por descendentes
dos índios Tremembés e alguns poucos indivíduos brancos, provindos dos europeus
(seriam, segundo o etnólogo Tomás Pompeu Sobrinho, derivados da Terceira
Corrente Migratória oriunda da Sibéria, que alcançou o Novo Mundo pelo Estreito
de Bering, durante o período que vai do 4° ao 3° milênio A.C. Esses povoadores
contornaram o litoral americano do Pacífico e do Atlântico Sul seguindo rumo
norte).
Gente de aparência mongólica relacionada com os povos do oriente
asiático (os imigrantes da Terceira Corrente) adaptou sua cultura de fundo
marinho ao novo habitat. Em vez de focas ou lobos marinhos, os Tremembés
caçavam as grandes tartarugas e os terríveis esqualos encontrados nas costas do
Maranhão ao Ceará. Moravam em choças semi-subterrâneas, circulares, com teto
coberto de areia. Possuíam uma cerâmica grosseira e haviam domesticado o cão.
O Projeto Tamar atua em Almofala em defesa das tartarugas-verdes que habitam a região e buscam suas águas para alimentação, desenvolvimento e descanso.
Ancestrais desses
ameríndios habitaram o litoral sul do Brasil e somente no início do século XVI
a área de dispersão dos Tremembés estendia-se por todas as praias e estuários
cobertos de mangues, do Maranhão, Piauí e Ceará.
Constituíam uma
entidade linguo-cultural autônoma, conclusão a que chegaram vários especialistas
após muita controvérsia. Eram povos turbulentos, robustos, de semblantes
desconfiados e violentos. Consumados nadadores e excelentes remadores foram apelidados
de "peixes racionais". Várias expedições mandadas às praias dos Tremembés pelos
administradores das capitanias do Maranhão e do Ceará, com o fim de
exterminá-los, tiveram seus navios afundados por estes indígenas.
índios Tremembés de Almofala dançando o Torém
Como armas
empregavam a lança, o arco, a flecha, a clava e machados de pedra semilunares,
de gume curvilíneo e base cônica, muito bem polidos e afiados. A confecção
desses machados obedecia a um ritual realizado durante a lua crescente, pois
acreditavam que combatendo com essas armas jamais seriam vencidos.
Os descendentes
dos Tremembés conservaram alguns costumes e tradições de seus ancestrais e,
embora incorporados à sociedade maior, constituem um grupo à parte,
diferenciado nas relações sociais. Ainda por lá se canta e dança o Torém,
manifestação do ethos tribal em estado de transição para o folclore – que em
todo o Ceará, é realizada apenas em Almofala.
Cemitério de Almofala
imagem do site:http://www.ufpe.br/carlosestevao/museu-virtual-fotoetno
O Torém é uma pantomímica,
transmitida oralmente de pai para filho, que remonta aos primitivos habitantes
do Ceará. Já perdeu seu significado original e sua função, hoje se constituindo
numa dança diversional. Seus versos
misturam palavras de origem Tremembé, tupi e portuguesa, e embora utilizem formas sincréticas do
folclore regional, conservaram suas características mais marcantes.
Os "Tiradores" do Torém efetuam a dança em ocasiões especiais: na colheita do caju – época do
mocororó (suco de caju fermentado, usado em substituição ao “cauim”)ou quando
solicitados, mediante certa gratificação pecuniária.
fotos da Igreja de N.S.da Conceição gentilmente cedidas por Erikson Salomoni
fonte:
O Ceará dos Anos 90 - Censo Cultural
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