Clarindo de Queiroz governador do Ceará (1891-1892)
José Clarindo de Queiroz (28/04/1891-16/02/1892) foi indicado para o cargo de governador do Ceará pelo Marechal Deodoro da Fonseca através de decreto federal de 4 de abril de 1891. No período inicial da República, o marechal Deodoro mobilizou forças na tentativa de aplicar um golpe de estado, fechando o congresso nacional e decretando estado de sítio.
A maioria dos governos estaduais apoiou a iniciativa, pois tinham sido nomeados pelo próprio presidente. Ao dissolver o congresso em 3 de novembro de 1891, Deodoro pegou praticamente de surpresa as lideranças civis e militares. O vice-presidente Floriano Peixoto, com a ajuda do almirante Custódio José de Melo, reagiu ao golpe.
Com a saúde debilitada e sob criticas por parte da oposição, Deodoro renunciou vinte dias depois, passando a presidência para Floriano Peixoto. Este iniciou o novo governo mandando destituir todos os que se solidarizaram com o antecessor.
Clarindo de Queiroz passou a sofrer sistemática pressão do Governo Federal, apesar de ter o apoio do congresso do Estado, da maioria da imprensa, dos oficiais do 11° Batalhão do Exército e do povo. A princípio chamaram o governador, com urgência, ao Rio de Janeiro, sob a alegação de necessitarem de seus serviços militares ali; depois o intimaram a abandonar a presidência do Estado.
Em 16 de fevereiro de 1892, estrategicamente, havia sido mandado para Maranguape o 11° Batalhão, a pretexto de realizar treinamento; na tarde desse mesmo dia, a Escola Militar e o restante da força federal dirigida pelo major Manuel Bezerra de Albuquerque, iniciou o bombardeio ao Palácio do Governo.
Contava o governador tão somente com o corpo de segurança pública, constituída de soldados recrutas, e com a Guarda Cívica pouco numerosa e também sem treinamento, afora alguns civis que se encontravam na ocasião.
Dia da deposição do governador Clarindo de Queiroz, com os cadetes da Escola Militar do Ceará munidos de canhão e outros armas menores (arquivo Nirez)
O autor de História do Ceará R. Batista Aragão, narra o início das hostilidades:
Forças da Escola Militar e do Exército bombardeiam o Palácio num ataque repentino e decisivo, objetivando a deposição do governo. Reage o general Clarindo, protegido apenas por forças estaduais e consequentemente desaparelhadas para suportar o ataque. Contudo, resiste bravamente e a batalha se intensifica. Anoitece. Pouco a pouco o Palácio se esvazia. A resistência enfraquece.
Às seis da manhã do dia 17 de fevereiro de 1892, cercado por tropas fortemente armadas, o velho general, sem saída, sela os destinos do seu governo. Coloca na ponta de uma baioneta um lenço branco, chega à janela do Palácio e exibe a mensagem de rendição. Os agressores silenciam. Bezerril Fontenele, comandante da Escola Militar e principal responsável pelo ato de sublevação, assume o governo, recebendo o cargo das mãos do solitário governante.
Apenas o conselheiro Antônio Rodrigues Júnior, fiel aos seus princípios de solidária honradez, testemunha o melancólico desfecho. Não desertara. Como saldo negativo, além da intranquilidade causada pelo levante, treze vítimas fatais, colhidas acidentalmente em diversos locais.
No mesmo dia Clarindo de Queiroz embarcou para o Rio de janeiro, onde explicou os motivos da deposição através de um manifesto à nação, escrito por Farias Brito. Por ordem, de Floriano Peixoto, foi preso e desterrado para Cucui, juntamente com outros doze generais. O seu estado de saúde agravou-se e veio a falecer no Rio de janeiro, em 28 de dezembro de 1893.
José Clarindo de Queiroz nasceu a 22 de janeiro de 1841, em Fortaleza, filho de Inácio Lopes de Queiroz e de Ana Lopes de Queiroz. Depois de se alistar no Exército, com pouco mais de quatorze anos, partiu em 1865 para lutar na Guerra do Paraguai. Pela destacada atuação, ascendeu ao posto de tenente-coronel. Passou depois para coronel (1880), brigadeiro (1883) e general de divisão (1890). Ainda durante a monarquia, presidiu a província do Amazonas a partir de 1879. Recebeu em reconhecimento pela vida de soldado o “Hábito de Cristo” e as Grã-Cruzes de Avis e Cruzeiro.
estado em que ficaram o Largo e o Palácio da Luz depois dos ataques que culminaram com a deposição do governador Clarindo de Queiroz (acervo Marciano Lopes)
No livro História Política do Ceará – 1889-1930 – Aroldo Mota explica os acontecimentos principais que influíram na deposição de Clarindo de Queiroz. Segundo este autor, o golpe de Estado de Deodoro da Fonseca encontrou a classe política desinformada. O Secretário da Fazenda do Ceará, Waldemiro Moreira, em artigo assinado no Jornal O Libertador, de 5 de novembro, concitou a que todos pegassem em armas contra o golpe. Convocou uma reunião do Centro Republicano para o mesmo dia, a fim de eleger nova Comissão Executiva, e resistir em defesa da democracia republicana. Foi eleito presidente da Comissão Executiva, o Secretário de Justiça, Waldemiro Cavalcante. Enquanto isso, o governador Clarindo de Queiroz telegrafava a Deodoro se solidarizando com o golpe.
Em vista dos acontecimentos contraditórios dentro do governo, o Senado Estadual enviou ao governador Clarindo de Queiroz, um requerimento, no qual era solicitado que o governador esclarecesse quais as providências adotadas com relação ao artigo publicado no O Libertador, incitando o povo a revoltar-se e questionando o posicionamento dos seus dois secretários, autores e redatores do mencionado jornal.
O governador não respondeu ao Senado. Ordenou ao promotor público de Fortaleza que apurasse as responsabilidades pela publicação, especialmente quanto ao editorial, concebido em linguagem sediciosa, que injuriara os membros do Governo Provisório.
O juiz Abel Garcia, em artigo no mesmo Libertador, assumiu a responsabilidade do editorial do dia 5, isentando os secretários da Fazenda e da Justiça. O secretário de Justiça pediu demissão. O governo central, já com Floriano Peixoto no comando, encampou a crise e derrubou Clarindo de Queiroz.
Fonte:
A História do Ceará passa por esta rua, de Rogaciano Leite Filho
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