Praça do Cristo Rei (imagem do livro Ceará Terra da Luz)
Como sempre, o pomo da discórdia era a posse de terras. Manoel Ferreira Ferro – filho de Francisco Alves Feitosa – proprietário de terras no Brejo Grande, limítrofe do sítio Ponta da Serra, na mesma falda do Araripe e pertencente a José Pereira Lima, se desentenderam por divergências quanto aos limites das propriedades, e saindo do terreno das discussões, partiram para a hostilidade armada.
Pereira era um português rico e poderoso, com fama de valente. Levada a questão para o terreno da luta armada, não recuou. Passou a assinar o nome acrescido de “Aço”, numa alusão ao Ferro de seu desafeto, e acabou cometendo uma infinidade de crimes, que eram respondidos pelo rival com outros tantos.
Depois de muitos mortos, de parte a parte, Pereira Aço foi preso e remetido para Limoeiro de Lisboa; dizem outros que ele foi para as prisões da Bahia. Após cumprir longos anos de prisão, foi viver em Recife, ao lado da mulher que ali o aguardava.
Se os grandes proprietários eram de caráter altivo e violento, a população pobre era também turbulenta e sanguinária. Havia excesso de fanatismo em tudo e a autoridade, que tinha então a veneração de um mito, não estava ela própria a salvo de ataques de uns e de outros. O povo insurgia-se com alguma frequência, e era terrível em sua cólera.
Apesar das inquietações e da enorme insegurança que pautava o interior da província do Ceará, a região do Cariri era povoada com incrível rapidez, graças a facilidade com que eram encontrados ali os meios de subsistência. O solo era vasto e fértil, e a flora provida de uma grande variedade de frutos silvestres, que forneciam alimentação abundante às famílias pobres, carentes de meios para o trabalho rural, e, sobretudo, aos índios, aldeados e dispersos. Havia os inconvenientes: as epidemias, as moléstias endêmicas e as secas, que matavam muita gente e faziam que do Cariri saíssem pedintes para todo o Estado.
O Cariri foi a principio subordinado à jurisdição das autoridades de Aquiraz, de onde vinham juízes e diligências do seu ofício. Mas eram os párocos de Missão Velha que, ameaçando com a excomunhão, faziam a polícia e julgavam as questões que apareciam, depois que os missionários haviam partido.
Essa ordem de coisas durou meados de 1760, quando um alvará régio de, 1765, acabou com o abuso, quase geral em toda a capitania. A Coroa Portuguesa criou junta de recursos, sob a presidência dos ouvidores, para as causas de justiça eclesiástica, a fim de que cessassem os abusos que a cobiça do clero tinha cometido, apesar dos padres e ordens religiosas resistirem aos magistrados e tribunais civis, usando da arma da excomunhão e de outras violências.
Depois da inauguração da Vila de Icó, ocorrida em 1738, chegou a Missão Velha um sargento-mor, espécie de encarregado da polícia, porém muito desmoralizado pelo prestígio, influência e autoridade do pároco. A administração da justiça feita no Icó era extremamente cara para os que residiam no Cariri. Em razão disso, em 1743, o senado criou um juiz de vintena, com um escrivão, o qual deveria residir no Cariri. Tal era a falta de indivíduos aptos para exercerem os cargos, que foi necessário que tais funcionários viessem do Icó.
Em 21 de julho de 1764 foi inaugurada a Vila do Crato pelo Ouvidor Vitorino Pinto Soares Barbosa, sendo do ano seguinte, o decreto que criou os ofícios de justiça da nova vila. Foram escolhidos os primeiros juízes ordinários Francisco Gomes de Mello e o índio José de Amorim, e capitão-mor Arnaud Hollanda Cavalcante. Que teve por sucessores José Pereira Filgueiras em 1804, e Joaquim Antônio Bezerra de Menezes, a 8 de novembro de 1828.
Desde então o Crato passou a se destacar entre os povoados do Cariri e todos estes passaram a depender de sua jurisdição civil. Lançaram-se os fundamentos do edifício que seria utilizado como prisão, construiu-se o pelourinho. Criou-se também um Corpo de cavalaria, de que foi comandante Antônio Lopes de Andrade.
Fonte:
Ceará (homens e fatos), de João Brígido
Monte e Feitosa, foi "prato cheio" para nossos
ResponderExcluircronistas do passado. Estou sempre encontrando algo sobre eles.
Esse Joaquim Antônio Bezerra de Menezes, salvo engano, era meu tio-trisavô...vou descobrir...rsrs
seus parentes não perderam nenhum acontecimento, nenhuma encrenca, nenhum barulho. Estiveram em todas
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