sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Barão de Studart – o Historiador do Ceará

O escritor Mozart Soriano Aderaldo divide o estudo da história do Ceará em dois períodos: antes e depois do Barão de Studart. Até então, as pesquisas se baseavam mais na tradição, sem possibilidade de comprovação dos fatos.


Guilherme Chambly Studart nasceu em 5 de janeiro de 1856, em Fortaleza, filho do inglês John William Studart – primeiro vice-cônsul do Ceará e de Leonísia Castro Studart, neta do Major Facundo, político de grande influência em sua época.

Estudou inicialmente no Colégio Ateneu Cearense e em seguida no Ginásio Baiano. Em 1872, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, concluindo cinco anos depois. Exerceu a profissão por muito tempo no Hospital de Caridade de Fortaleza (Atual Santa Casa de Misericórdia).

Prédio da Faculdade de Medicina da Bahia

Católico militante, definido politicamente como Conservador, Guilherme Studart participou da campanha pela libertação dos escravos na província. Em 1880, seu nome estava incluído entre os 225 sócios da “Sociedade Cearense Libertadora”, cujo presidente João Cordeiro, defendia a libertação através de todos os meios, inclusive violência e furto de escravos. 

Depois da morte do seu pai, Guilherme Studart herdou o cargo de vice-cônsul no Ceará. Responsável por diversas transações comerciais, ligadas a proprietários de fazendas que mantinham escravos, não concordou com o caminho seguido pela “Sociedade Libertadora”  posicionou-se contrário à qualquer perturbação na ordem moral e econômica da cidade. Acreditava que a abolição seria alcançada de modo pacífico. Fundou então, ao lado de Meton de Alencar, José Martiniano de Alencar e outras personalidades,  o “Centro Abolicionista 25 de Dezembro” e escreveu seu manifesto, divulgado em 13 de abril de 1883. 

Instituto Pasteur criado pelo médico Guilherme Studart em 1918, localizado na atual Avenida Bezerra de Menezes

Guilherme Studart sofreu criticas severas dos libertadores mais radicais, por conta de tal iniciativa. Finalmente, em 24 de maio de 1883, Guilherme Studart participou no salão nobre do Paço Legislativo, da sessão em que se  declarou a libertação dos escravos em Fortaleza. Ele foi retratado, ao lado de 91 personalidades no quadro “Fortaleza Liberta”, do artista plástico José Irineu de Souza.

O interesse pelos estudos históricos surgiu quando Guilherme Studart retornou ao Ceará, depois de formado em medicina. Percebeu que, basicamente, só existiam fragmentos sobre a história de sua terra, faltando documentos informativos essenciais para a compreensão do passado. Com recursos próprios, viajou várias vezes para Portugal, onde pesquisou intensamente na Biblioteca Nacional de Lisboa. Trouxe assim, para o Brasil, documentos até então inéditos entre os historiadores cearenses.


Quadro Fortaleza Liberta – de autoria do artista cearense José Irineu de Sousa, retrata a solenidade de libertação dos escravos de Fortaleza, no salão nobre da Assembleia Provincial. Hoje o quadro faz parte do acervo do Museu do Ceará (foto do site Fortaleza em Fotos)

Publicou o primeiro livro em 1883. “História do Ceará. Família Castro. Apontamentos”. Dai por diante divulgou, através de sua própria tipografia várias obras de porte sobre a história do Ceará. Escreveu ainda trabalhos relacionados com a medicina. A produção intelectual de Guilherme Studart abrangeu diferentes áreas do conhecimento humano, daí o destaque que recebe na historiografia cearense. 

Além de dedicar-se a cultura, foi benemérito de várias entidades filantrópicas. Entre 1898 e 1931, esteve à frente do Conselho Central Metropolitano das organizações vicentinas. Em 1900, por solicitação do bispo Dom Joaquim Vieira, recebeu o título de “barão” da Santa Sé, assinado pelo Papa Leão XIII.


Registro da fundação do Centro Médico Cearense no dia 20 de fevereiro de 1913.  Nela estão da esquerda para a direita em pé: Adalberto Studart, Raimundo Gomes, José Frota, Nelon Catunda, Amâncio Filomeno, Afonso Pontes, Antônio Mesiano, Eliezer Studart e César Cals.  Sentados, na mesma direção: Meton de Alencar, Eduardo Salgado, Barão de Studart, Manuelito Moreira e Costa Ribeiro com o menino José Carlos da Costa Ribeiro Filho. A foto foi feita  na porta da Santa Casa da Misericórdia.
 (foto e identificação Nirez)

O Barão de Studart, como ficou popularmente conhecido, foi responsável pela fundação de importantes entidades cearenses: Associação Médico-Farmacêutica do Ceará – 1834; Centro Médico Cearense – 1913;  Circulo Católico – 1913; Circulo dos Operários Católicos – 1915;  Instituto Pasteur – 1918 e uma filial da Cruz Vermelha no Ceará – 1918.

Palacete Jeremias Arruda, sede atual do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, instituição criada pelo Barão de Studart em 1887.

Juntamente com Paulino Nogueira, Joaquim Catunda, Antônio Bezerra  e Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, fundou o Instituto do Ceará, em 4 de março de 1887, uma sociedade civil que ainda hoje tem por finalidade o estudo da História Geográfica, antropológica e ciências correlatas. O Barão de Studart presidiu o Instituto no período de 1929 a 1938.

No dia 15 de agosto de 1894, participou da instalação de outro marco cultural para o Estado: a Academia Cearense, que em 1922 foi reorganizada com o nome de Academia Cearense de Letras, do qual é patrono da cadeira n° 11. Ao seu lado estavam Justiniano de Serpa, Farias brito, Franco Rabelo e outros escritores.

Guilherme Studart morreu no dia 25 de setembro de 1938, deixando grande quantidade de documentos originais sobre o Ceará. Infelizmente abandonado, grande parte foi destruída pelo tempo. Graças a iniciativa individual de Raimundo Girão, alguns trabalhos foram salvos, em deplorável estado de conservação, constituindo-se depois na “Coleção Studart”, do Instituto do Ceará.  

extraído do livro "A História do Ceará Passa por Esta Rua" 
de Rogaciano Leite Filho 
fotos do Arquivo Nirez

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