O historiador Capistrano de Abreu afirmava que a ocupação do
Nordeste brasileiro teria ocorrido seguindo duas grandes rotas: a do sertão de
dentro – dominada pelos baianos, que teriam sido responsáveis pela ocupação do
Piauí e do Sul do Ceará, partindo do rio São Francisco; e a do sertão de fora-
dominada pelos pernambucanos, que se deslocando pela faixa mais próxima do
litoral, seguiram pela Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará em direção ao
Maranhão. No Ceará, as duas correntes de interiorização se confluem.
O Mapa Y-59 feito pelos holandeses, descreve a costa cearense, com o título "A costa do Brasil entre Jabarana (Ponta Grossa) até a Barra do Ceará (foto do Diário do Nordeste)
Até então a presença do invasor europeu na Capitania do
Siará estava restrita ao forte de Nossa Senhora da Assunção, no litoral, onde
uma guarnição militar composta por brancos, negros e mestiços provava
simbolicamente o domínio português em companhia de índios aliados. Foi exatamente
para os ocupantes do forte que foram dadas as primeiras sesmarias na foz dos
rios Pacoti, Choró e Piranji (mais tarde chamado de Rio Ceará). A seguir foram doadas sesmarias para os colonos
vindos de capitanias vizinhas – Pernambuco, Bahia, Paraíba e Rio Grande do
Norte. Do litoral os conquistadores
passaram a ocupar definitivamente o interior, apossando-se, sobretudo, das
terras próximas ao curso dos rios de maior volume. Concedendo sesmarias, o governo português
estimulava a ocupação dos sertões, uma vez que estaria garantindo não só o seu
domínio sobre as terras, mas também a arrecadação, com a cobrança de impostos
sobre o gado, o couro, a carne tudo o mais que pudesse ser produzido na região.
No período compreendido entre 1679 a 1699, num espaço de 40 anos, foram
doadas 261 sesmarias, numa média de 13 cartas por ano. No período seguinte,
entre 1700 e 1740 foram doadas 1700 sesmarias, média de 42 sesmarias por ano.
Foi nesse período que o conflito entre indígenas e fazendeiros tornou-se mais
agudo. No entanto há uma fase entre
1700-1720, em que o conflito deu-se de forma mais aberta. Nesses anos foram
doadas 923 cartas, dando uma média de 46 por ano.
No período 1679-1699, constata-se que a maioria dos
solicitantes eram moradores em outras capitanias (55,3%). No entanto, no
segundo período 1700-1740 este percentual caiu para apenas 17%. Cabe destacar que no primeiro período, um
percentual significativo de solicitantes não ocupou suas datas. No Pacoti, por
exemplo, Manuel Cabral de Melo, em 3 de setembro de 1739, requer por prescrição
a data que foram concedida, 58 anos antes, a Feliciano de A. Bulhões e sua
mulher Domingas do Rego.
Barra do Rio Ceará
Um dado importante a ser observado é o número de
prescrições. No período inicial, de 20 anos, foram apenas quatro prescrições,
enquanto que entre 1701 e 1710, em apenas dez anos ocorreram 31 prescrições. Outro
dado para ser ressaltado é a relação entre a queda do absenteísmo e as
prescrições no período em que se está consolidando a ocupação da capitania. A partir
de 1701 teve início uma queda nos índices de absenteísmo que em 1720 atingiu
patamares insignificantes, quando já estava consolidada a ocupação da
capitania.
Constata-se tendência inversa em relação as prescrições até
1730, que teve um movimento crescente para em seguida declinar, ficando
demonstrado que uma parcela significativa das sesmarias que haviam sido
solicitadas no período de 1679 a 1699, não foram ocupadas. A partir de 1740, o
número de prescrições e absenteísmo praticamente desapareceram ou atingiram
patamares irrelevantes.
fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias
Mundos em Confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo território,
de Francisco José Pinheiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário