segunda-feira, 4 de março de 2013

A Revolta dos Negros do Laura II


Figura de proa da escuna Laura II, cenário de um levante de escravos que culminou com a morte de toda a tripulação da embarcação que seguia de São Luís do Maranhão para o Rio de Janeiro. Os rebelados foram presos, trazidos para Fortaleza e executados em praça pública em 1839. A peça faz parte do acervo do Museu do Ceará 

Eram quatro horas da tarde do dia 11 de junho de 1839, quando uma escuna se aproxima da praia de Arapaçu (atual Iguape), vinda do norte. Não conseguindo alcançá-la faz-se ao mar novamente e numa segunda tentativa consegue aportar, ficando com as velas arriadas.  Ninguém foi visto a bordo.
No dia seguinte, pessoas que foram colher mariscos viram muitas pegadas sobre a areia dos morros e concluíram que as pegadas eram de pessoas que desembarcaram daquele barco misterioso. À tarde um morador comunicou ao inspetor de Arapaçu, que tinham ido à sua casa 17 homens, sendo 15 pardos, um europeu e um preto que trazia com um ferimento de faca.  Todos estavam armados e fugiam, e o morador acreditava que fossem embarcadiços.
Em consequência, Antônio José de Souza, o inspetor de Arapaçu resolveu ir a bordo, e com oito homens do quarteirão, em duas jangadas, transportou-se para lá. Descobriu que a escuna estava despovoada, havia, porém vestígios de sangue. Foi objeto de muitos comentários no pequeno arraial o caso da escuna que não tinha gente, mas trazia manchas de sangue.
No dia 13, uma quinta-feira, também o inspetor do Cajueiro do Ministro reuniu os seus homens em número de 9 e se dispôs a sair no encalço dos embarcadiços. Foi informado por um passante que vira os fugitivos escondidos no mato alto. Estavam todos armados.
O europeu soube-se depois, era o português de Almada Bernardo José da Silva, andava à frente daquela turma de homens com o título de Senhor e os pretos lhe chamavam de “manjor”.
O navio encalhado era o Laura II proveniente do Maranhão, o qual tinha partido dali no dia 10 de maio com carregamento de arroz, milho, farinha de trigo, manteiga, barricas vazias e dinheiro de cobre, que se avaliava em quatro ou cinco contos de réis.
Era comandado pelo português Francisco Ferreira que se fazia acompanhar de seu escravo preto Antônio, incumbido da cozinha do navio, além do prático Felipe e de um contramestre. Havia ainda três marinheiros, e seis ajudantes com funções diversas; treze tripulantes ao todo.
Vinham também como passageiros dois homens forros, 6 escravos e dois moleques, total de 23 pessoas. Lutando contra os ventos e as correntes, a Laura II tinha conseguido amarrar no porto de Fortaleza após 49 dias de viagem. Reabastecido de provisões, tomou o rumo de Pernambuco no dia 9 de maio e na noite seguinte achava-se apenas na altura de Arapaçu, cerca de oito léguas ao sul.

 O Passeio Público em Fortaleza ficou marcado como local de execução de pena de morte em Fortaleza. Aqui foram executados os mártires da Confederação do Equador em 1825, e dos escravos do levante da escuna Laura II em 1839. (arquivo Nirez)


Em Fortaleza, Constantino, preto, baiano, escravo do armador, acompanhado de outros, foi à presença do capitão queixar-se do mal que passavam e da pouca comida que lhes distribuíam. A resposta do comandante foi dura: que eles mereciam era muito açoite.
Humilhados, e sem esperança no seu direito, os negros começaram a se rebelar contra as condições em que viajavam. Aos poucos, a  conspiração foi tomando corpo. A vingança foi acertada ao deixarem as águas de Fortaleza. Mal se aperceberam os oficiais e passageiros do navio.
O capitão foi atacado no seu camarote a golpes de faca; fugiu e se refugiou no lugar do leme, sendo lançado ao mar. O contramestre e o prático Felipe foram igualmente esfaqueados e jogados no mar. Os demais tripulantes e alguns passageiros foram assassinados a pauladas. O único que restava dos brancos foi posto a serviço dos revoltosos. Salvaram-se os que foram considerados inofensivos, como o cozinheiro do capitão, os negros passageiros, e os dois moleques.  Na manhã seguinte tratou-se de repartir os despojos e fugir. Todo dinheiro de papel existente a bordo foi repartido, cabendo aos mais fortes o maior quinhão, e dando-se uma parcela menor aos passageiros.
Só pelas duas da tarde, a escuna Laura II pode avizinhar-se da terra. Previamente lhe tinha sido feito um buraco com um pé-de-cabra para que fosse a pique.  No dia 11 de maio o grupo dos  revoltosos fez o seu desembarque. Ganhando os tabuleiros, à mercê dos acontecimentos e sem nenhuma ideia da região em que se encontravam. 
Ao acaso tomaram a estrada do Cajueiro do Ministro, enquanto a embarcação Laura II encharcava-se e acabou imergindo na noite do dia 12 deixando apenas as pontas dos mastros.  As autoridades locais, justamente indignados daquele atentado contra a vida e a propriedade, passaram a investigar, e a indagar  minuciosamente pelo dinheiro e pelas mortes. Presos, os negros desmentiram todo medo com que fugiam e confessaram, com assombrosa lealdade, o que havia feito cada um, dando seu testemunho na inocência dos demais.
O que havia na consciência deles era a melhor noção do direito; entendiam que podiam partir ao meio todo senhor que os tolhesse e matar os que lhe submetiam a um tratamento injusto e desumano.
De Cascavel, os presos foram transferidos para a cadeia de Fortaleza, vindo acompanhados do processo que foi iniciado naquela localidade. Grande foi a expectativa quando esta gente chegou à casa do juiz de paz Vicente Mendes Pereira, um sobrado na Rua Major Facundo. Todos queriam ver os criminosos, não pela estranheza do crime, da culpa assumida, mas pela sorte que os aguardava.
Submetidos ao júri, seis foram condenados a morte por enforcamento:  João Mina, Hilário, Benedito, Antônio, Constantino e Bento.  No dia 22 de outubro de 1839, no Passeio Público, Constantino - tido como chefe e mentor do ataque aos tripulantes da escuna Laura II - comandou a derradeira batalha da vida: mandou adiante cada um dos seus companheiros, e depois impávido, subindo no cadafalso como pelas vergas do Laura II, sacudiu, olhando ao redor para que vissem bem aquilo... pôs o laço e atirou-se no espaço.

 
Extraído do livro de João Brígido
Ceará (homens e fatos)

7 comentários:

  1. Interessante e trágica história. Nossa Cidade e Estado guardam muitos acontecimentos que ainda não descobrimos, principalmente os que ocorreram em séculos passados.

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  2. verdade Marcelo, apesar de esquecidas essas histórias certamente contribuiram para a formação do caráter e da justiça no nosso Estado. Obrigada pela visita. Também visito, algumas vezes o seu Estrela que nunca se apagam. Excelente!

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  3. A MeGaLOBO RACISMO? A violência do preconceito racial no Brasil personagem (Uma negra degradada pedinte com imagem horrenda destorcida e bosalizada é a Adelaide do Programa Zorra Total, Rede Globo do ator Rodrigo Sant’Anna? Ele para a Globo e aos judeus é engraçado, mas é desgraça para nós negros afros indígenas descendentes, se nossas crianças não tivessem sendo chamadas de Adelaidinha ou filha, neta e sobrinha da ADELAIDE no pior dos sentidos, é BULLIYING infeliz e cruel criado nos laboratórios racistas do PROJAC (abrev. de Projeto Jacarepaguá, como é conhecida a Central Globo de Produção) é o centro de produção da Rede Globo que é dominado pelos judeus Arnaldo Jabor,Carlos Sanderberg, Luciano Huck,Tiago Leifert, Pedro Bial, William Waack, William Bonner&Fatima Bernardes, Mônica Waldvogel ,Ernesto Paglial& Sandra Annenberg,Wolf Maya,Caio Blinder,Glenda Kozlowski, Daniel Filho e o poderoso Ali Kamel diretor chefe responsável e autor do livro Best seller o manual segregador (A Bíblia do racismo,que ironicamente tem por titulo NÃO SOMOS RACISTA baseado e num monte de inverdades e teses racistas contra os negros afro-decendentes brasileiros) E por Maurício Sherman Nisenbaum(que Grande Otelo, Jamelão e Luis Carlos da Vila chamavam o de racista porque este e o Judeu sionista racista Adolfo Block dono Manchete discriminavam os negros)responsável dirige o humorístico Zorra Total Foi o responsável pela criação do programa e dos programas infantis apresentados por Xuxa(Luciano Szafir) e Angélica(Luciano Hulk) ambas tendos seus filhos com judeus,apresentadoras descobertas e lançadas por ele no seu pré-conceitos de padrão de beleza e qualidade da Manchete TV dominada por judeus sionistas,este BULLIYING NEGLIGENTE PERVERSO que nem ADOLF HITLER fez aos judeus mas os judeu sionistas da TV GLOBO faz para a população negra afro-descendente brasileira isto ocorre em todo lugar do Brasil para nós não tem graça, esta desgraça de Humor,que humilha crianças é desumano para qualquer sexo, cor, raça, religião, nacionalidade etc.o pior de tudo esta degradação racista constrangedora cruel é patrocinada e apoiada por o Sr Ali KAMEL (marido da judia Patrícia Kogut jornalista do GLOBO que liderou dezenas de judeus artistas intelectuais e empresários dos 113 nomes(Contra as contra raciais) com o Senador DemóstenesTorres que foi cassado por corrupção) TV Globo esta mesma que fez anuncio constante do programa (27ª C.E. arrecada mais de R$ 10,milhões reais de CENTARROS para esmola da farsa e iludir enganando escondendo a divida ao BNDES de mais de 3 bilhões dollares dinheiro publico do Brasil ) que tem com o título ‘A Esperança é o que nos Move’, o show do “Criança Esperança” de 2012 celebrará a formação da identidade brasileira a partir da mistura de diferentes etnias) e comete o Genocídio racista imoral contra a maior parte do povo brasileiro é lamentável que os judeus se divirtam com humor e debochem do verdadeiro holocausto afro-indigena brasileiro é lamentavel que o Judeu Sergio Groisman em seu Programa Altas Horas e assim no Programa Encontro com a judia Fátima Bernardes riem e se divertem. (A atriz judia Samantha Schmütz em papel de criança no apoteótico deste estereótipo desleal e cruel se amedronta diante aquela mulher extremem ente feia) para nós negros afros brasileiros a Rede GLOBO promove incentivo preconceito raciais que humilha e choca o povo brasileiro. Organização Negra Nacional Quilombo – ONNQ 20/11/1970 – REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil quilombonnq@bol.com.br

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    1. Jama Lybia,
      assisto tão pouco a esse canal de TV, que tenho dificuldade em visualizar algumas das figuras que você cita, e não faço a mais remota ideia de qual programa e qual personagem você se refere. E não assisto por causa dessas atitudes que eles - notórios formadores de opinião - tentam disseminar na sociedade, através de suas novelas falidas, dos seus programas decadentes e seus apresentadores decrépitos. Acho abominável que, a essa altura essa emissora, esteja impondo seus valores distorcidos, suas ideias jurássicas, com seu elenco de quinta, e que boa parte da sociedade, especialmente os menos esclarecidos, estejam absorvendo esses valores e os pondo em prática.

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  4. Obrigado pelo resgate desta fascinante historia! Peço autorização para reproduzir esse artigo em meu blog, www.mardoceara.com.br .
    Muito obrigado e parabéns por este fascinante trabalho!
    Marcus D.

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