sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A Gestão do Governador Sampaio

 Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire foi o quarto governador do Ceará no período colonial. Seu mandato de governador entre 1812 e 1820 foi um dos mais polêmicos, feito de realizações, autoritarismo, perseguições e repressões. Ficou famosa sua fidelidade ao governo central português. Hoje Governador Sampaio nomeia uma rua do Centro de Fortaleza.

Foi o primeiro administrador a incentivar as artes e as letras no Ceará, promovendo outeiros ou serões literários; criou os Correios e a implementou as Alfândegas provisórias de Fortaleza, em 1812 e das cidades de GranjaSobral e Crato; construiu novos edifícios públicos, entre os quais o Mercado Municipal. Coube também ao governador Sampaio a recuperação do Forte de Nossa Senhora da Assunção, que se encontrava em estado precário e quase em ruínas. Sampaio contratou os serviços do engenheiro Silva Paulet que elaborou o projeto. Os fundamentos do edifício foram lançados pelo governador em 12 de outubro de 1812. A obra foi feita principalmente com donativos angariados pelo governador e seu antecessor Barba Alardo de Menezes, a quem, segundo João Brígido, coube a ideia de reedificar a fortaleza.

 A casa que pertenceu a José Antônio Machado e onde estiveram diversos órgãos públicos, foi a primeira sede dos Correios. Foi demolida para a construção do Fórum Clóvis Beviláqua. (Imagem Arquivo Nirez)

No quesito servilismo, mandou que a população da vila de Fortaleza festejasse com luminárias, por três noites consecutivas, o nascimento do filho de D. Pedro Carlos, o infante D. Sebastião de Bourbon e Bragança. Quando foi notificado da morte de D. Maria I (primeira rainha reinante de Portugal), em 15 de junho de 1816, determinou que todo povo da vila e distritos vestisse luto rigoroso por seis meses e aliviado por igual período. 

Dona Maria I, a louca. Rainha reinante de Portugal e Algarves, faleceu a 20 de março de 1816, no Convento do Carmo, no Rio de Janeiro (imagem wikipédia)

Atendendo que os pobres e os escravos não podiam atender rigorosamente a esta determinação, por questões econômico-financeiras, permitiu que os homens trouxessem no chapéu e as mulheres na cabeça, qualquer retalho preto. Os que se recusassem seriam punidos com 30 dias de cadeia, para cada vez que fossem pegos sem o distintivo.

Segundo historiadores o Sampaio foi o responsável pela prisão e tortura de Bárbara de Alencar, mantida prisioneira em uma pequena cela subterrânea da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Além de Bárbara, outros membros da família Alencar foram presos, acusados de subversão pelo governador, devido ao envolvimento da família com a Revolução Pernambucana de 1817.

Prisão de Bárbara de Alencar no subterrâneo da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção (imagem da internet)

O governador Sampaio deixou o Ceará em 12 de janeiro de 1820 para assumir o governo da Capitania de Goiás, por ordem do reino de Portugal, sendo substituído no Ceará pelo Francisco Alberto Rubin, Capitão de Mar e Guerra, Comendador da Ordem de Cristo, nomeado por decreto de 4 de julho de 1818.

O Manuel Sampaio permaneceu no posto de governador de Goiás, até 1822, data da proclamação da Independência do Brasil. Ao voltar a Portugal recebeu da rainha Maria II o título de visconde, tornando-se então o primeiro Visconde de Lançada. Casou-se, em 1 de fevereiro de 1826, com Helena Teixeira Homem de Brederode, com quem teve dois filhos. Manuel Sampaio nasceu em Bragança, Portugal em 1778 e faleceu em 1856.  

No período colonial, visando manter o controle e centralização da administração nas colônias, e mais tarde, visando o desenvolvimento, o Governo de Portugal instituiu o sistema de Capitanias Gerais, em vigor até 1821. A partir de 1821 as capitanias foram convertidas em províncias. O Governador Sampaio veio dentro desse contexto.  


Fontes: Ceará (homens e fatos), de João Brígido

Revista do Instituto do Ceará/Administração Manoel Ignácio de Sampaio

Wikipédia 


sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Associação dos Merceeiros

 

A foto mostra o prédio original, rodeado de portas com varandas, piso alto, porões com as aberturas para a rua. Pela rua Major Facundo, passavam os trilhos dos bondes e sua fiação

associação dos Merceeiros foi fundada no dia 5 de abril de 1914, para proteger os interesses de pequenos comerciantes – retalhistas de secos e molhados, de estivas e miudezas. (retalhistas refere-se a pessoas ou empresas que vendem ou compram a retalho, ou seja, em pequenas quantidades ou unidades para o consumidor final. No caso, os bodegueiros). A Associação oferecia atividades de assistência de caráter social, instrutiva e financeira. Foi instalado no dia 10 de maio do mesmo ano, num pequeno prédio da Rua Floriano Peixoto, com status de Sociedade Civil, de caráter indissolúvel, sem fins lucrativos beneficente e filantrópica, sendo considerada de utilidade pública tanto pelos Governos Estadual quanto pelo Federal.


A Associação foi fundada no dia 5 de abril de 1914 por um grupo de 14 merceeiros, num pequeno prédio da rua Floriano Peixoto, com o fim de proteger os pequenos comerciantes naqueles tempos difíceis da Primeira Guerra Mundial

Em 1925 a Associação criou o Crédito Auxiliar dos Merceeiros (Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda), mais tarde, Banco de Crédito Auxiliar. A sede própria foi construída a partir de 1926, em uma casa pequena comprada de um bodegueiro associado e construída em etapas, com ajuda de associados que trabalhavam gratuitamente. Depois o imóvel foi ampliado a partir de uma casa desapropriada pelo governo e anexada à Associação. O prédio de arquitetura eclética tem características Art Décor, muito em voga nas construções dos anos 1930/40 em Fortaleza.

A Associação dos Merceeiros angariou grande número de sócios, e além de prestar assistência jurídica e médica aos associados, mantinha uma farmácia, criou um cinema, inaugurado no dia 1 de novembro de 1930 e uma escola de primeiro grau mantida em convênio com o governo do Estado. Em 1935, na sessão comemorativa do 5° aniversário, um incêndio destruiu as instalações do Cinema dos Merceeiros. Depois do sinistro, o cinema encerrou as atividades em definitivo.

A própria Associação, que já vinha enfrentando diversas dificuldades, encerrou as atividades na sua sede própria no dia 13 de agosto de 2018, devido a dívidas acumuladas em várias gestões. Desde então, o belo edifício de sua propriedade, permanece fechado. Dizem que a Associação reabrirá em novo endereço.


Atualmente o prédios dos Merceeiros encontra-se fechado, todo pichado e com placa de "Aluga-se" 

Algumas instituições de assistência a trabalhadores de classe encerram as atividades porque perderam suas finalidades. A Associação dos Merceeiros é uma delas. O seu público-alvo desapareceu com as novas práticas comerciais e de varejo, com o advento dos supermercados, que oferecem produtos fracionados de todas as formas. Assim, as  bodegas e pequenos comércios de antigamente foram praticamente extintos. A saída é se readaptar, identificar novo público e ampliar suas possibilidades, com novos serviços.


Fotos do Arquivo Nirez 

Publicação Fortaleza em Fotos/Fátima Garcia

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Colégios Religiosos Católicos

 Os colégios religiosos em atividade têm pontos em comum que se destacam: a antiguidade -- alguns são centenários; apenas um deles  tem menos de 50 anos de funcionamento -- e a estabilidade: funcionam em prédios próprios e no mesmo endereço. Um deles, o Imaculada Conceição é a segunda escola secundária mais antiga de Fortaleza, antes dela, só o Liceu do Ceará, fundado em 1845. Todos recebem alunos do Infantil ao Ensino Médio. Alguns deles funcionam em mais de uma unidade. 

Colégio Santa Isabel

Capela do Colégio Santa Isabel

Fundado em 1937, pela irmã Isabel Daniel, numa pequena sede na Praça São Sebastião. No ano seguinte mudou-se para sua sede atual, na Avenida Bezerra de Menezes. Vinculado à Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Fica na Avenida Bezerra de Menezes, 2840, São Gerardo

Colégio Santo Tomás de Aquino

O Colégio Santo Tomás de Aquino foi fundado no dia 07 de março de 1963, por iniciativa do pároco do Santuário de Fátima, Monsenhor Gerardo de Andrade Ponte, sob a denominação de Externato Santo Tomás de Aquino, contando, com apenas 52 alunos. O Colégio pertence à Paróquia de Fátima e é subordinado ao Conselho Paroquial Nossa Senhora de Fátima, sua entidade mantenedora. Localizado na Rua Mario Mamede, 750, Fátima. 

Colégio Santo Inácio

Colégio Santo Inácio fachada interna

Pertencente à Rede Jesuíta de Educação, o Colégio Santo Inácio Iniciou suas atividades educativas nos anos de 1955 e 1956 recebendo seus alunos em regime de semi-internato. No dia 1º de março de 1960, inaugurou a sua nova sede, localizada na Avenida Desembargador Moreira, 2355 – Dionísio Torres, onde permanece até os dias atuais. 

Colégio Imaculada Conceição

Colégio da Imaculada Conceição/Igreja do Pequeno Grande 

O Colégio da Imaculada Conceição funcionou a partir de 1867, num prédio construído para abrigar um hospital. Ao longo do tempo, o Colégio conquistou posição de destaque na educação das moças pertencentes a elite da cidade. Foi dirigido inicialmente por 19 irmãs de caridade, todas francesas. Entidade ligada à Ordem das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula. Fica na Avenida Santos Dumont, n° 55, Centro.

Colégio Santa Cecilia

Sede antiga no Benfica do Colégio Santa Cecília

O Colégio Santa Cecília faz parte do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã, congregação belga fundada em 1823 por Madre Agathe Verhelle. As religiosas Damas chegaram ao Brasil em 1896, estabelecendo-se em Olinda (PE), de onde se transferiram para Recife. Em Fortaleza, as Irmãs chegaram no início de 1952, onde vieram para continuar o trabalho de educação da juventude cearense, iniciado em 1911 por Dona Almerinda Albuquerque. Até 1959, o Colégio Santa Cecília funcionou no Benfica, e em  1960, instalou-se na Aldeota, na Avenida Senador Virgílio Távora, 2000.

Colégio Piamarta

A escola teve início no dia 25 de setembro de 1960 quando as aulas começaram com uma turma de vinte crianças, na sacristia da paróquia de Nossa Senhora de Nazaré. No ano seguinte foi iniciada a construção do prédio da escola, onde se encontra até os dias atuais, na Rua Padre João Piamarta, 161, Parreão. Estabelecimento dirigido pela Congregação Sagrada Família de Nazaré, fundada por São João Batista Piamarta.

Colégio Medalha Milagrosa

A escola surgiu em 1947, num antigo estábulo, que mais tarde foi transformado em sala de aula. Depois passou a atender crianças carentes do bairro Montese e adjacências, tendo a Sra. Adelaide Salvador como primeira professora. A Escola passa a funcionar regularmente em 1953. Entidade integrante da Rede de Educação Vicentina. Fica na Rua Padre João Piamarta, 415, Parreão.

Colégio Nossa Senhora das Graças

Sede no Benfica do Ginásio Americano 

O Colégio Nossa Senhora das Graças teve a sua origem no Benfica, com a denominação de Ginásio Americano. Em 1950, as Religiosas da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria – as Cordimarianas assumiram a direção do Colégio. Em 11 de fevereiro de 1958, transferiram-se para o bairro de Fátima, numa nova sede, a fim de atender as necessidades de novos alunos, de um bairro que nascia sob as bênçãos da Virgem de Fátima. Fica na Rua Monsenhor Otávio de Castro, 535, bairro de Fátima.

Colégio Shalon

Fundado em 13 de fevereiro de 1987, visando a educação infantil. Ao longo dos anos passou por diversas sedes e expandiu-se para os ensinos fundamental e médio. Fica na rua Oswaldo Cruz, 3401. Colégio vinculado à Comunidade Católica Shalon

Colégio Juvenal de Carvalho

Capela do Colégio Juvenal de Carvalho - 1931

O Colégio Juvenal de Carvalho, foi fundado em 26 de abril de 1933; está  completando em 2025, 92 anos de serviços prestados à sociedade cearense. O Juvenal de Carvalho é uma Unidade Educacional da Inspetoria Maria Auxiliadora e integra a maior rede católica de educação das Américas, a Rede Salesiana Brasil de Escolas. Fica na Avenida João Pessoa, 4279, Damas. 

Colégio Nossa Senhora Auxiliadora

Localizado na Avenida Imperador, 1490, Centro. Entidade da Rede de Educação Vicentina.

Colégio Salesiano Dom Bosco

 Fica na Avenida Antônio Sales, 116, bairro Joaquim Távora. Escola vinculada à Rede Salesiana Brasil de Escolas. 


pesquisa nos sites das escolas. fotos do Arquivo Nirez e da Internet

por Fátima Garcia 


quinta-feira, 14 de agosto de 2025

oficina do Urubu - Rede de Viação Cearense

  

A chegada do trem e da Estação da Estrada de Ferro Baturité representou um grande progresso para a cidade provinciana que era Fortaleza. E veio aos poucos, primeiro, uma estação improvisada, um percurso que foi sendo ampliado à medida que aumentavam os recursos financeiros e a demanda pelo transporte.

Estação João Felipe, na Praça Castro Carrera, Centro

Em 1925, já em poder da Rede de Viação Cearense, a rede ferroviária iniciou a construção de sua oficina, com projeto do engenheiro Emílio Henrique Baumgart. Era um projeto grandioso, composto de oficinas de montagem e reparação de locomotivas, reparação de carros e vagões, pintura de carros e vagões, fundição, ferraria, casa de força (termoelétrica), almoxarifado e administração. O projeto previa 12 pontes rolantes, formando um conjunto harmônico em 16 mil metros quadrados de área edificada com concreto armado

As novas oficinas da Rede Viação Cearense (RVC) foram inauguradas em 04 de outubro de 1930. O espaço estava apto para atender 125 locomotivas e 1200 carros de passageiros e carga. Foi considerada a oficina ferroviária mais completa do país, admirada por muitos como uma obra prima da engenharia nacional. Foi construída em terras do Sítio Santo Antônio da Floresta, doadas pelo coronel Antônio Joaquim de Carvalho, que tinha interesse em valorizar suas terras. O empreendimento ficou conhecido como “Oficina do Urubu” porque havia nas proximidades um grande aterro de lixo, que atraía muitas aves da espécie. A própria avenida era chamada informalmente de “Estrada do Urubu”, atualmente chama-se Avenida Francisco Sá.



Oficina do Urubu

Ao mesmo tempo que construía novas locomotivas e fazia manutenção em máquinas e equipamentos utilizados no funcionamento das locomotivas, as Oficinas do Urubu passaram a funcionar como centro de treinamento e habilitação de trabalhadores e espaço de formação de alunos aprendizes do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

O Ensino profissional e Industrial foi instituído em 1937, pela Constituição promulgada no governo Getúlio Vargas, que definiu que as indústrias e os sindicatos econômicos deveriam criar escolas de aprendizes na esfera da sua especialidade. No Ceará, o nascimento do SENAI está ligado ao Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São Paulo. Dessa relação foi criada a Escola Profissional de Fortaleza, que tinha como diretor Antonio Urbano de Almeida, chefe das oficinas do Urubu, nomeado em 1943 administrador do SENAI Ceará. Em 1944, foi firmado plano entre a RVC e o SENAI para oferecimento de diversos cursos que foram ministrados nas oficinas da RVC.


oficina do Urubu

Assim, a nova oficina era local de trabalho, manutenção e construção das locomotivas, e espaço de formação dos aprendizes e alunos do curso do SENAI. A preocupação com a formação dos trabalhadores incluía como pano de fundo a necessidade de mão de obra qualificada para atender à crescente demanda da indústria nacional por operários, que além dos conhecimentos básicos precisavam deter, sobretudo, os conhecimentos técnicos para operar, consertar e fabricar o maquinário presente nas empresas.

Em 1951 denominou-se este complexo de Demostenes Rockert. A Rede de Viação Cearense (RVC) foi extinta em 1975, quando foi transformada em 2ª Divisão Cearense pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que a havia incorporado em 1957. A RFFSA, por sua vez, foi extinta em 2007. Atualmente as antigas Oficinas do Urubu fazem parte da Ferrovia Transnordestina. Fica na Avenida Francisco Sá, 4289. 


 Fontes:

https://www.even3.com.br/anais/arte_patrimonio_industrial/220714-a-oficina-do-urubu-e-o-ensino-ferroviario--o-papel-do-senai-na-formacao-do-trabalhador-fortalezace-1928-1944/

LASTROS DE UM PASSADO INDUSTRIAL E FERROVIÁRIO EM FORTALEZA: O

PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO DAS “OFICINAS DO URUBU” TAINAH RODRIGUES FAÇANHA

file:///C:/Users/mfati/Downloads/2022_dis_trfa%C3%A7anha%20(1).pdf

https://mapacultural.secult.ce.gov.br/files/agent/27027/hist%C3%B3rico_do_museu_ferrovi%C3%A1rio_do_cear%C3%A1.pdf

https://www.ceara.gov.br/2024/01/07/museu-ferroviario-estacao-joao-felipe-e-destino-obrigatorio-para-conhecer-a-formacao-do-ceara/

Fotos Museu Ferroviário

terça-feira, 18 de março de 2025

A Fortaleza de 1810

 

Uma radiografia da futura cidade que surgia, como foram se projetando suas ruas, quando a urbanização não era cogitada. Fortaleza era a Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, a população contava com cerca de 1200 pessoas. Esse registro foi feito pelo jornalista João Brígido, com base nos apontamentos do antigo Senado da Câmara local, apesar da má letra, da tinta já sofrendo a ação do tempo e da péssima conservação dos arquivos da Província. Mas existem outros testemunhos da Vila naquela época, feitos por aventureiros e viajantes estrangeiros.

As edificações mais antigas são o quartel e Fortim de Nossa Senhora da Assunção, que recebeu o nome de Schoonenborch, em honra do governador holandês de Pernambuco. No Fortim residia o comandante do presídio que era a única autoridade da região. A construção dominava a barra do rio que eles chamavam de Marajaitiba, antes chamado de Ipojuca, Telha e por último, Pajeú. 



A edificação que seguia imediatamente depois do quartel, era a de Aldeota, povoação de índios, no sítio conhecido por esse nome, nas imediações do Pajeú. Mais tarde, portugueses e nativos começaram a construir pequenas casas de barro e telha, ou choupanas de carnaúbas, à margem direita do riacho Ipojuca. Na curva do regato, os índios colocaram sua igreja, no mesmo terreno onde hoje se encontra a catedral.


A província esteve sob a administração do português Luiz Barba Alardo Menezes, no período de 21 de janeiro de 1803 a 19 de março de 1812, que foi o tempo que a Vila conheceu algum desenvolvimento. O governador mandou estudar o porto de Fortaleza pelo capitão-de-fragata Francisco Antônio Marques Giraldes, que fez a perspectiva da povoação, vista do mar. Também fundou uma fábrica de louça vidrada no Outeiro, que não vingou por falta de consumidores. O período de governo de Barba Alardo coincidiu com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, e a abertura dos portos às nações amigas.   

Em 1809 partiu de Fortaleza o primeiro navio com destino a Londres, a galera “Dous Amigos” levando produtos da terra e amostras de algodão. A este se seguiram muitos outros. Em maio de 1811 estabeleceu-se a primeira casa estrangeira de comércio direto, propriedade do irlandês William Wara.

As ruas e praças existentes eram: do Quartel (atual Rua General Bezerril); Praça do Conselho (atual Praça da Sé); Rua das Flores (atual Castro e Silva); Rua Direita dos Mercadores (parte da atual Conde D’Eu parte da Sena Madureira); Rua do Rosário (que mantém o nome original); Praça do Palácio (atual Praça General Tibúrcio, popularmente chamada de Praça dos Leões) Rua do Monteiro (desaparecida); Beco das Almas (atual Rua São José); Rua Boa Vista (atual Rua Floriano Peixoto); Rua da Fortaleza (atual Dr. João Moreira, à época, apenas uma linha de casas que corria paralela à fortaleza).

O matadouro estava localizado próximo ao Largo da Fortaleza, na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco); o Largo da Fortaleza, atual Passeio Público, era lugar de execuções e assim continuou até 1825. No mesmo local existia o Paiol da Pólvora, que foi mudado para o Morro do Croatá e depois foi removida para a Lagoa Funda, nos arrabaldes da vila, que mais tarde viria ser o bairro Jacarecanga.

Passeio Público no final do século XIX

A vila estava sempre marcada pela pobreza, e a Câmara, responsável pela subsistência pública, empregava todas as medidas em uso naqueles tempos, abuso de autoridade, violência e ignorância. Até a venda de farinha era regulada pela Câmara, que a tomava onde encontrasse. A carne era vendida ao povo por preço fixado pela Câmara, ora por derramas, ora por contrato.

A derrama era uma obrigação que impunha aos criadores de gado, de talhar a carne no açougue exclusivo da câmara, a preço fixo, em dias determinados. Todos os fazendeiros cumpriam as determinações do governo. Os descumpridores da lei, estavam sujeitos a pesadas punições.

As pescarias e o consumo de peixe, estava regulado de forma muito rígida, de forma que os pescadores ficavam em condições de subserviência diante da severidade das normas impostas. Um dos artigos da lei vigente, determinava que “todos os jangadeiros serão obrigados todos os dias a ir pescar com suas jangadas ao mar e isto a horas competentes, salvo quando o tempo for tal, que eles de força não possam ir ao mar, debaixo das penas de 30 dias de cadeia, cada um dos jangadeiros”.

Nenhum trabalho, arte ou ofício podia ser exercido sem permissão das autoridades. Determinação legal de 1912, ordenava que ninguém trabalhasse de carpina, pedreiro, sapateiro, ferreiro, alfaiate, marceneiro, e outros ofícios manuais, sem a devida licença, sob pena de multa. Só em dezembro de 1813 essas ocupações foram liberadas, continuando, no entanto, ainda por muito tempo, as corporações de ofício.

(As corporações de ofício eram associações de profissionais de uma mesma profissão, que surgiram na Europa Medieval. Tinham como objetivo regular o processo produtivo artesanal e garantir a segurança dos seus membros.)

 

Fontes:

Ceará (Homens e Fatos)/João Brígido/Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001

Fortaleza Velha: crônicas/João Nogueira/Fortaleza: Edições UFC/PMF, 1980  

Wikipédia/Google// imagens Pinterest

quinta-feira, 13 de março de 2025

As Tribos indígenas representadas nas ruas da Praia de Iracema

 

Primeiro surgiu o Porto das Jangadas, um pedaço do litoral com grande concentração dessas frágeis embarcações que proviam o sustento de famílias da beira da praia. Depois virou a Praia do Peixe, que começou a ganhar importância a partir dos anos 20, com o início da construção de casas de veraneio, sinalizando o início da mudança que estava por vir. Então, por volta da metade da década, foi proposta uma mudança de nome que passaria a ser chamada de Praia de Iracema, em homenagem à índia Iracema, heroína do romance indianista, criação do escritor José de Alencar. A mudança foi aprovada por votação, com ampla maioria.

O nome ampliado para o bairro, ganhou algumas ruas com nomes indígenas, em homenagem às inúmeras nações que habitaram as terras do Ceará e do Nordeste.

O Estoril fica na Rua dos Tabajaras

Não se sabe ao certo quantos povos nativos habitavam o Ceará quando da chegada dos primeiros conquistadores. Deviam ser numerosos, sobretudo porque nativos de capitanias vizinhas fugiram para esta capitania em busca de refúgio, uma vez que o Ceará foi uma das últimas áreas do atual Nordeste a ser conquistada pelos colonos nos séculos XVII e XVIII. Quando Pero Coelho alcançou atingiu a Ibiapaba em 1603, encontrou cerca de 70 aldeias indígenas. Denominação de algumas nações indígenas, lembradas nas vias da Praia de Iracema.

O bairro Praia de Iracema nos anos 80
    

Rua dos Ararius está localizada entre as ruas Gonçalves Ledo e historiador Guarino Alves. Por volta de 1700, os Ararius viviam no alto vale do rio Acaraú, próximo a suas nascentes, na região da serra da Ibiapaba.

Rua dos Cariris está localizada entre a Rua dos Tremembés e a avenida Almirante Tamandaré. Os povos Cariris tiveram participação marcante na “Guerra dos Bárbaros”. Habitavam o sul do Ceará e o sertão pernambucano.

A Guerra dos Bárbaros foi um conflito iniciado por volta de 1680, para combater o avanço dos colonos pecuaristas sobre as terras, escravizando e expulsando os povos nativos. As tribos indígenas do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí se uniram numa grande aliança para enfrentar os invasores. A guerra durou quase 50 anos, se prolongando das últimas décadas do século XVII até a segunda década do século seguinte.   

Rua dos Guanacés – fica entre as ruas dos Ararius e dos Tremembés. Os Guanacés eram indígenas que se estabeleceram nas proximidades do município de Horizonte.

Rua dos Potiguaras se encontra entre as ruas dos Tabajaras e Groaíras. Eram indígenas que no século XVI habitavam a região costeira situada entre a foz dos rios Jaguaribe e Paraíba do Norte, que compreende os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Rua dos Cariris

Rua dos Tabajaras está situada entre o mar e a rua dos Potiguaras. Os Tabajaras viviam na Serra da Ibiapaba e deram boa acolhida aos missionários portugueses na época da colonização.

Rua Tijipió fica entre a avenida Almirante Barroso e a rua Dragão do Mar. A tribo Tijipió povoava o Estado de Pernambuco.

Rua dos Tremembés está localizada entre as ruas dos Guanacés e dos Cariris.  Os Tremembés habitavam a região que hoje corresponde aos municípios de Acaraú, Itarema e Itapipoca, dentre os quais o distrito de Almofala, em Itarema, é o mais conhecido.

Travessa Tupi está situada entre as ruas Historiador Guarino Alves e Tomás Lopes. É uma homenagem ao tronco linguístico ameríndio, formado pelos povos Tupi-Guarani, Mondukuru, Juruna, Arikén, Tupari, Romarâma e Mundé. No início da colonização europeia na América do Sul, os nativos pertencentes a esse tronco ocupavam vasto território, desde o rio Amazonas até o rio da Prata.

 

Fontes:

A Praia de Iracema dos anos 50/Jaildon Correia Barbosa/Fortaleza: Premius/2010

História do Ceará/Airton de Farias/Fortaleza: Edições Livro Técnico/2009.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A Seca dos Três Setes no Ceará

 


A tragédia já se anunciava desde o ano anterior. O ano de 1876 foi chuvoso durante os três primeiros meses, depois, de junho a dezembro, não caiu uma gota d’água. Em janeiro de 1877, apenas uma neblina e baixíssimos índices de pluviosidade nos meses seguintes. Em março os sertanejos já estavam alarmados e em abril, perdidas as esperanças de inverno, começou o êxodo de habitantes do sertão para o litoral.

O gado morria à falta de aguadas, as lavouras se extinguiram e a provisão de viveres, conservada como reserva de muitos sertanejos, pouco a pouco se esgotaram. De setembro em diante a fome era geral, os socorros públicos, mal administrados, não chegavam regularmente aos locais mais afetados. Quem possuía algum bem ou valor, desfazia-se dele em troca de algum gênero de primeira necessidade.

As poucas aguadas, como açudes e poços cavados nos leitos dos rios em épocas de chuvas, evaporaram-se. Mesmo as pessoas consideradas mais abastadas, receosas de ficarem bloqueadas e sem comunicação com o litoral, longe de qualquer auxílio, fugiram, abandonando suas casas, animais e fazendas. O sertão virou um deserto.

O governo, totalmente desarticulado, recusou enviar recursos para o interior, forçando desta forma, as pessoas a procurarem o litoral. O êxodo tornou-se geral. Para Fortaleza, Aracati, Sobral, Granja, Camocim e outros povoados, afluíram milhares de pessoas. Em todos esses municípios, a população, de um dia para o outro, estava multiplicada; e como faltasse casas para abrigar tanta gente, ficavam ao relento, debaixo de árvores ou amontoados em sítios estreitos. As consequências não demoraram: doenças, prostituição, vadiagem, saques, e todos os seus efeitos, que se desenrolaram frente às cidades, antes tranquilas, agora em estado de puro desespero.

O ano de 1878 chegou, e a província continuava mergulhada no caos, mas com grandes esperanças que o ano novo trouxesse de volta as chuvas que salvariam o Ceará. De janeiro a junho caíram apenas 503 mm. A última chuva foi em 26 de junho. Depois dessa data, o céu conservou-se sem nuvens, azul e límpido.

Perdidas as esperanças de inverno, o abandono do sertão foi completo; vilas inteiras, lugares antes prósperos, ficaram vazias ou com duas ou três casas habitadas, e estas mesmo porque o governo, já mudado e melhor estruturado para lidar com o problema, envidara todos os esforços para socorrê-las. (Júlio de Albuquerque Barros, foi presidente da província do Ceará, de 08/03/1878 a 02/07/1880.

Fazendas de criação, com 200, 300 e 500 cabeças de gado, ficaram reduzidas a nada. Os fazendeiros que tentaram a retirada do gado para o Piauí, acabaram perdendo para as moléstias, furtos ou extravio. Pelas estradas morreram famílias inteiras de fome e sede, e muitas que conseguiram atingir o litoral, chegaram tão fragilizadas, que caiam agonizantes pelas calçadas e praças da capital e de outras cidades que conseguiam chegar.

A emigração para o Amazonas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo foram incrementadas, centenas e milhares de cearenses foram apinhados no convés de vapores e navios que demandavam aquelas províncias, sem o mínimo de cuidados e sofrendo toda sorte de privações.

Dos fins de 1878 até meados de 1879, uma violenta epidemia de varíola atingiu proporções nunca vistas. Em mais de um dia o número de vítimas na capital excedeu a 1000 pessoas. Muitos mortos ficaram insepultos, não havia local nem quem realizasse os sepultamentos. Havia então na capital cerca de 180 mil pessoas, 100 mil em Aracati, e na mesma proporção, nas localidades próximas à Fortaleza, como Pacatuba, Arronches, Granja e Camocim.

Havia esperança de que o ano de 1879 viria a por termo a tanto sofrimento, mas foi só mais um ano de terríveis provações. Como pouco ou nada restava no interior, a seca não teve grande repercussão. A atenção se concentrou na capital, nos auxílios do governo, na acomodação dos emigrantes, na busca de soluções.


A população ficara reduzida talvez em um terço; cerca de 100 mil pessoas haviam falecido ou emigrado; o governo gastara 72 mil contos, fora os subsídios da caridade particular. A província ficou arruinada, sua principal atividade econômica, a criação do gado, quase foi extinta; a população ficou dispersa e reduzida; a flora e a fauna desapareceram em grandes áreas; só Fortaleza aumentou a população devido em parte ao fluxo de emigrantes e ao desenvolvimento do comércio.

As esperanças se renovaram com a chegada de 1880. Os dois primeiros meses foram desanimadores, o de março foi pouco chuvoso, em abril choveu bastante. A grande seca terminara.


Fonte: Documentos: Revista do Arquivo Público do Ceará: Ciência e Tecnologia/Arquivo Público do Ceará, v 1 – 2005/Fotos Memorial da Democracia e ANPUR.