terça-feira, 18 de março de 2025

A Fortaleza de 1810

 

Uma radiografia da futura cidade que surgia, como foram se projetando suas ruas, quando a urbanização não era cogitada. Fortaleza era a Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, a população contava com cerca de 1200 pessoas. Esse registro foi feito pelo jornalista João Brígido, com base nos apontamentos do antigo Senado da Câmara local, apesar da má letra, da tinta já sofrendo a ação do tempo e da péssima conservação dos arquivos da Província. Mas existem outros testemunhos da Vila naquela época, feitos por aventureiros e viajantes estrangeiros.

As edificações mais antigas são o quartel e Fortim de Nossa Senhora da Assunção, que recebeu o nome de Schoonenborch, em honra do governador holandês de Pernambuco. No Fortim residia o comandante do presídio que era a única autoridade da região. A construção dominava a barra do rio que eles chamavam de Marajaitiba, antes chamado de Ipojuca, Telha e por último, Pajeú. 



A edificação que seguia imediatamente depois do quartel, era a de Aldeota, povoação de índios, no sítio conhecido por esse nome, nas imediações do Pajeú. Mais tarde, portugueses e nativos começaram a construir pequenas casas de barro e telha, ou choupanas de carnaúbas, à margem direita do riacho Ipojuca. Na curva do regato, os índios colocaram sua igreja, no mesmo terreno onde hoje se encontra a catedral.


A província esteve sob a administração do português Luiz Barba Alardo Menezes, no período de 21 de janeiro de 1803 a 19 de março de 1812, que foi o tempo que a Vila conheceu algum desenvolvimento. O governador mandou estudar o porto de Fortaleza pelo capitão-de-fragata Francisco Antônio Marques Giraldes, que fez a perspectiva da povoação, vista do mar. Também fundou uma fábrica de louça vidrada no Outeiro, que não vingou por falta de consumidores. O período de governo de Barba Alardo coincidiu com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, e a abertura dos portos às nações amigas.   

Em 1809 partiu de Fortaleza o primeiro navio com destino a Londres, a galera “Dous Amigos” levando produtos da terra e amostras de algodão. A este se seguiram muitos outros. Em maio de 1811 estabeleceu-se a primeira casa estrangeira de comércio direto, propriedade do irlandês William Wara.

As ruas e praças existentes eram: do Quartel (atual Rua General Bezerril); Praça do Conselho (atual Praça da Sé); Rua das Flores (atual Castro e Silva); Rua Direita dos Mercadores (parte da atual Conde D’Eu parte da Sena Madureira); Rua do Rosário (que mantém o nome original); Praça do Palácio (atual Praça General Tibúrcio, popularmente chamada de Praça dos Leões) Rua do Monteiro (desaparecida); Beco das Almas (atual Rua São José); Rua Boa Vista (atual Rua Floriano Peixoto); Rua da Fortaleza (atual Dr. João Moreira, à época, apenas uma linha de casas que corria paralela à fortaleza).

O matadouro estava localizado próximo ao Largo da Fortaleza, na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco); o Largo da Fortaleza, atual Passeio Público, era lugar de execuções e assim continuou até 1825. No mesmo local existia o Paiol da Pólvora, que foi mudado para o Morro do Croatá e depois foi removida para a Lagoa Funda, nos arrabaldes da vila, que mais tarde viria ser o bairro Jacarecanga.

Passeio Público no final do século XIX

A vila estava sempre marcada pela pobreza, e a Câmara, responsável pela subsistência pública, empregava todas as medidas em uso naqueles tempos, abuso de autoridade, violência e ignorância. Até a venda de farinha era regulada pela Câmara, que a tomava onde encontrasse. A carne era vendida ao povo por preço fixado pela Câmara, ora por derramas, ora por contrato.

A derrama era uma obrigação que impunha aos criadores de gado, de talhar a carne no açougue exclusivo da câmara, a preço fixo, em dias determinados. Todos os fazendeiros cumpriam as determinações do governo. Os descumpridores da lei, estavam sujeitos a pesadas punições.

As pescarias e o consumo de peixe, estava regulado de forma muito rígida, de forma que os pescadores ficavam em condições de subserviência diante da severidade das normas impostas. Um dos artigos da lei vigente, determinava que “todos os jangadeiros serão obrigados todos os dias a ir pescar com suas jangadas ao mar e isto a horas competentes, salvo quando o tempo for tal, que eles de força não possam ir ao mar, debaixo das penas de 30 dias de cadeia, cada um dos jangadeiros”.

Nenhum trabalho, arte ou ofício podia ser exercido sem permissão das autoridades. Determinação legal de 1912, ordenava que ninguém trabalhasse de carpina, pedreiro, sapateiro, ferreiro, alfaiate, marceneiro, e outros ofícios manuais, sem a devida licença, sob pena de multa. Só em dezembro de 1813 essas ocupações foram liberadas, continuando, no entanto, ainda por muito tempo, as corporações de ofício.

(As corporações de ofício eram associações de profissionais de uma mesma profissão, que surgiram na Europa Medieval. Tinham como objetivo regular o processo produtivo artesanal e garantir a segurança dos seus membros.)

 

Fontes:

Ceará (Homens e Fatos)/João Brígido/Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001

Fortaleza Velha: crônicas/João Nogueira/Fortaleza: Edições UFC/PMF, 1980  

Wikipédia/Google// imagens Pinterest

quinta-feira, 13 de março de 2025

As Tribos indígenas representadas nas ruas da Praia de Iracema

 

Primeiro surgiu o Porto das Jangadas, um pedaço do litoral com grande concentração dessas frágeis embarcações que proviam o sustento de famílias da beira da praia. Depois virou a Praia do Peixe, que começou a ganhar importância a partir dos anos 20, com o início da construção de casas de veraneio, sinalizando o início da mudança que estava por vir. Então, por volta da metade da década, foi proposta uma mudança de nome que passaria a ser chamada de Praia de Iracema, em homenagem à índia Iracema, heroína do romance indianista, criação do escritor José de Alencar. A mudança foi aprovada por votação, com ampla maioria.

O nome ampliado para o bairro, ganhou algumas ruas com nomes indígenas, em homenagem às inúmeras nações que habitaram as terras do Ceará e do Nordeste.

O Estoril fica na Rua dos Tabajaras

Não se sabe ao certo quantos povos nativos habitavam o Ceará quando da chegada dos primeiros conquistadores. Deviam ser numerosos, sobretudo porque nativos de capitanias vizinhas fugiram para esta capitania em busca de refúgio, uma vez que o Ceará foi uma das últimas áreas do atual Nordeste a ser conquistada pelos colonos nos séculos XVII e XVIII. Quando Pero Coelho alcançou atingiu a Ibiapaba em 1603, encontrou cerca de 70 aldeias indígenas. Denominação de algumas nações indígenas, lembradas nas vias da Praia de Iracema.

O bairro Praia de Iracema nos anos 80
    

Rua dos Ararius está localizada entre as ruas Gonçalves Ledo e historiador Guarino Alves. Por volta de 1700, os Ararius viviam no alto vale do rio Acaraú, próximo a suas nascentes, na região da serra da Ibiapaba.

Rua dos Cariris está localizada entre a Rua dos Tremembés e a avenida Almirante Tamandaré. Os povos Cariris tiveram participação marcante na “Guerra dos Bárbaros”. Habitavam o sul do Ceará e o sertão pernambucano.

A Guerra dos Bárbaros foi um conflito iniciado por volta de 1680, para combater o avanço dos colonos pecuaristas sobre as terras, escravizando e expulsando os povos nativos. As tribos indígenas do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí se uniram numa grande aliança para enfrentar os invasores. A guerra durou quase 50 anos, se prolongando das últimas décadas do século XVII até a segunda década do século seguinte.   

Rua dos Guanacés – fica entre as ruas dos Ararius e dos Tremembés. Os Guanacés eram indígenas que se estabeleceram nas proximidades do município de Horizonte.

Rua dos Potiguaras se encontra entre as ruas dos Tabajaras e Groaíras. Eram indígenas que no século XVI habitavam a região costeira situada entre a foz dos rios Jaguaribe e Paraíba do Norte, que compreende os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Rua dos Cariris

Rua dos Tabajaras está situada entre o mar e a rua dos Potiguaras. Os Tabajaras viviam na Serra da Ibiapaba e deram boa acolhida aos missionários portugueses na época da colonização.

Rua Tijipió fica entre a avenida Almirante Barroso e a rua Dragão do Mar. A tribo Tijipió povoava o Estado de Pernambuco.

Rua dos Tremembés está localizada entre as ruas dos Guanacés e dos Cariris.  Os Tremembés habitavam a região que hoje corresponde aos municípios de Acaraú, Itarema e Itapipoca, dentre os quais o distrito de Almofala, em Itarema, é o mais conhecido.

Travessa Tupi está situada entre as ruas Historiador Guarino Alves e Tomás Lopes. É uma homenagem ao tronco linguístico ameríndio, formado pelos povos Tupi-Guarani, Mondukuru, Juruna, Arikén, Tupari, Romarâma e Mundé. No início da colonização europeia na América do Sul, os nativos pertencentes a esse tronco ocupavam vasto território, desde o rio Amazonas até o rio da Prata.

 

Fontes:

A Praia de Iracema dos anos 50/Jaildon Correia Barbosa/Fortaleza: Premius/2010

História do Ceará/Airton de Farias/Fortaleza: Edições Livro Técnico/2009.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A Seca dos Três Setes no Ceará

 


A tragédia já se anunciava desde o ano anterior. O ano de 1876 foi chuvoso durante os três primeiros meses, depois, de junho a dezembro, não caiu uma gota d’água. Em janeiro de 1877, apenas uma neblina e baixíssimos índices de pluviosidade nos meses seguintes. Em março os sertanejos já estavam alarmados e em abril, perdidas as esperanças de inverno, começou o êxodo de habitantes do sertão para o litoral.

O gado morria à falta de aguadas, as lavouras se extinguiram e a provisão de viveres, conservada como reserva de muitos sertanejos, pouco a pouco se esgotaram. De setembro em diante a fome era geral, os socorros públicos, mal administrados, não chegavam regularmente aos locais mais afetados. Quem possuía algum bem ou valor, desfazia-se dele em troca de algum gênero de primeira necessidade.

As poucas aguadas, como açudes e poços cavados nos leitos dos rios em épocas de chuvas, evaporaram-se. Mesmo as pessoas consideradas mais abastadas, receosas de ficarem bloqueadas e sem comunicação com o litoral, longe de qualquer auxílio, fugiram, abandonando suas casas, animais e fazendas. O sertão virou um deserto.

O governo, totalmente desarticulado, recusou enviar recursos para o interior, forçando desta forma, as pessoas a procurarem o litoral. O êxodo tornou-se geral. Para Fortaleza, Aracati, Sobral, Granja, Camocim e outros povoados, afluíram milhares de pessoas. Em todos esses municípios, a população, de um dia para o outro, estava multiplicada; e como faltasse casas para abrigar tanta gente, ficavam ao relento, debaixo de árvores ou amontoados em sítios estreitos. As consequências não demoraram: doenças, prostituição, vadiagem, saques, e todos os seus efeitos, que se desenrolaram frente às cidades, antes tranquilas, agora em estado de puro desespero.

O ano de 1878 chegou, e a província continuava mergulhada no caos, mas com grandes esperanças que o ano novo trouxesse de volta as chuvas que salvariam o Ceará. De janeiro a junho caíram apenas 503 mm. A última chuva foi em 26 de junho. Depois dessa data, o céu conservou-se sem nuvens, azul e límpido.

Perdidas as esperanças de inverno, o abandono do sertão foi completo; vilas inteiras, lugares antes prósperos, ficaram vazias ou com duas ou três casas habitadas, e estas mesmo porque o governo, já mudado e melhor estruturado para lidar com o problema, envidara todos os esforços para socorrê-las. (Júlio de Albuquerque Barros, foi presidente da província do Ceará, de 08/03/1878 a 02/07/1880.

Fazendas de criação, com 200, 300 e 500 cabeças de gado, ficaram reduzidas a nada. Os fazendeiros que tentaram a retirada do gado para o Piauí, acabaram perdendo para as moléstias, furtos ou extravio. Pelas estradas morreram famílias inteiras de fome e sede, e muitas que conseguiram atingir o litoral, chegaram tão fragilizadas, que caiam agonizantes pelas calçadas e praças da capital e de outras cidades que conseguiam chegar.

A emigração para o Amazonas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo foram incrementadas, centenas e milhares de cearenses foram apinhados no convés de vapores e navios que demandavam aquelas províncias, sem o mínimo de cuidados e sofrendo toda sorte de privações.

Dos fins de 1878 até meados de 1879, uma violenta epidemia de varíola atingiu proporções nunca vistas. Em mais de um dia o número de vítimas na capital excedeu a 1000 pessoas. Muitos mortos ficaram insepultos, não havia local nem quem realizasse os sepultamentos. Havia então na capital cerca de 180 mil pessoas, 100 mil em Aracati, e na mesma proporção, nas localidades próximas à Fortaleza, como Pacatuba, Arronches, Granja e Camocim.

Havia esperança de que o ano de 1879 viria a por termo a tanto sofrimento, mas foi só mais um ano de terríveis provações. Como pouco ou nada restava no interior, a seca não teve grande repercussão. A atenção se concentrou na capital, nos auxílios do governo, na acomodação dos emigrantes, na busca de soluções.


A população ficara reduzida talvez em um terço; cerca de 100 mil pessoas haviam falecido ou emigrado; o governo gastara 72 mil contos, fora os subsídios da caridade particular. A província ficou arruinada, sua principal atividade econômica, a criação do gado, quase foi extinta; a população ficou dispersa e reduzida; a flora e a fauna desapareceram em grandes áreas; só Fortaleza aumentou a população devido em parte ao fluxo de emigrantes e ao desenvolvimento do comércio.

As esperanças se renovaram com a chegada de 1880. Os dois primeiros meses foram desanimadores, o de março foi pouco chuvoso, em abril choveu bastante. A grande seca terminara.


Fonte: Documentos: Revista do Arquivo Público do Ceará: Ciência e Tecnologia/Arquivo Público do Ceará, v 1 – 2005/Fotos Memorial da Democracia e ANPUR.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Tristão Gonçalves, um Homem e seu Ideal

 


Tristão Gonçalves Pereira de Alencar, mais tarde Alencar Araripe, nasceu no Sitio Salamanca, atual cidade de Barbalha, então distrito do Crato, filho do português José Gonçalves dos Santos e da pernambucana de Exu, Bárbara Pereira de Alencar. Começou sua atuação política na região do Cariri, ainda em 1817, quando seu irmão, José Martiniano de Alencar, destacava-se como líder republicano.

Alencar chegou ao Crato, vindo de Pernambuco a 30 de abril de 1817, e a 3 de maio proclamava o triunfo republicano, movimento real, mas efêmero, devido a vigilância exercida na Província pelo então governador Sampaio e o poder repressivo de José Pereira Filgueiras, figura saliente do monarquismo do Cariri, que venceram os ideais revolucionários dos republicanos.

Presos na cadeia pública do Crato, José Martiniano de Alencar, Dona Bárbara de Alencar, Tristão Gonçalves e outros integrantes do movimento, foram transferidos para presídios em Fortaleza, viajando por mais de 500 quilômetros de distância entre as duas cidades, no lombo de cavalos, com os braços acorrentados e comida racionada. Foram confinados em cubículos individuais, no Quartel de 1ª. Linha (atual 10ª. Região Militar).

Depois de dois meses de cárcere na 10ª. Região, foram transferidos para uma prisão na Bahia, onde seriam fuzilados, já que haviam sido condenados por atos revolucionários contra o Imperador. No entanto, foram beneficiados pelo indulto concedido após os anos 20, devido à mudança estrutural do Brasil, com a sua independência e o regime constitucionalista.

Nessa nova fase do Brasil, os antigos revolucionários de 1817 voltaram a formar alianças, na tentativa de implantar na província, novas regras políticas, e Tristão Gonçalves formando aliança com José Pereira Filgueiras, tornou-se figura de proa nos destinos políticos da província.

Chamado a combater forças rebeldes na vizinha província do Piauí, Tristão Gonçalves só retornou ao Ceará em 1824. Encontrou a província mergulhada no caos, sob a gestão de um governo provisório, com lutas políticas internas, assassinatos entre rivais, indisciplina militar e risco de uma guerra civil. Houve então o governo meteórico do presidente Pedro José da Costa Barros, sua deposição logo em seguida e a ascensão de Tristão Gonçalves ao governo, em data de 29 de abril de 1824.

O governo de Tristão Gonçalves teve duas fases distintas, uma vinculada ao regime imperial, com subordinação política ao imperador e outra por adesão ao sistema governativo de Pernambuco instalando-se no Ceará a chamada “República do Equador”.

Durante a primeira fase, tudo caminhou dentro da normalidade. Tristão governava a província de forma equilibrada, cumprindo as normas constitucionais em vigor, porém, de forma clandestina participava de conspirações, mantendo estreito relacionamento com antigos conspiradores pernambucanos.

Com a eclosão do movimento revolucionário, envolvendo as províncias do Rio Grande do Norte e Paraíba, tendo Pernambuco na liderança, Tristão declarou apoio ao movimento republicano. Quando, no entanto, começaram a surgir informações sobre o fracasso da revolta, as forças de adesão que estavam compromissadas e fiéis ao novo sistema, trataram de desertar, deixando as lideranças sozinhas.

A participação de Tristão Gonçalves ficou declarada quando concebeu a ideia de enviar ao Recife a comitiva de apoio ao recém-instalado sistema republicano. A comitiva era composta pelos deputados republicanos José Martiniano de Alencar, padre Manuel Pacheco Pimentel, José Ferreira Lima Sucupira, Francisco Manuel Pereira Ibiapina e João da Costa Alecrim.  Em outra projeção, por determinação de Tristão Gonçalves, seguiu com destino ao Recife um comando militar sob o comando do sargento-mor Luiz Rodrigues Chaves, este comando, no entanto, não ultrapassou os limites do Rio Grande do Norte, ao saber dos frustrados destinos republicanos, o sargento mor tratou de salvar a própria pele, deixando-se aprisionar, delatando os companheiros.

Ao tomar conhecimento da traição, e da informação de que Rodrigo Chaves montara seu quartel-general na Vila de Aracati, Tristão resolveu ir pessoalmente dar combate ao desertor e impedir que, por essa rota tivesse acesso o inimigo. Deixou, então, o governo com o 1° vogal José Felix de Azevedo e Sá e partiu acompanhado das tropas que lhe restaram.

Andou por várias cidades da região, e quando o cerco apertou, com vários comandos no seu encalço, resolveu liberar suas tropas, partindo quase sozinho e sem chances de vencer. Acampou na fazenda Santa Rosa, às margens do Jaguaribe, no local denominado Olho d’água e aguardou o desenrolar dos acontecimentos.

Na manhã do dia 31 de outubro de 1824, enquanto descansava ao pé de uma árvore, Tristão Gonçalves foi morto a tiros de carabina, desferidos por Venceslau Alves de Almeida, integrante das forças legalistas e segundo dizem, defensor de seus próprios interesses. Matara por duzentos mil reis, prometido pelo sargento-mor Manuel Pereira da Cunha, que fora encarregado de exterminá-lo.

Monumento em memória de Tristão Gonçalves - desaparecido com a inundação da antiga Jaguaribara (imagem IBGE) 

Seu corpo foi deixado no local totalmente mutilado. Mais tarde, foi sepultado na Capela de Santa Rosa. No local da morte foi inaugurada uma lápide comemorativa, mandada construir pelo Instituto Histórico e Geográfico do Ceará.


Fontes: Pena de Morte/R. Batista Aragão/Barraca do Escritor Cearense/Fortaleza, 1991/Caminhando por Fortaleza/Francisco Benedito/Destak-Gráfica e Editora/Fortaleza, 1999/Publicação Fortaleza em Fotos