segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Tristão Gonçalves, um Homem e seu Ideal

 


Tristão Gonçalves Pereira de Alencar, mais tarde Alencar Araripe, nasceu no Sitio Salamanca, atual cidade de Barbalha, então distrito do Crato, filho do português José Gonçalves dos Santos e da pernambucana de Exu, Bárbara Pereira de Alencar. Começou sua atuação política na região do Cariri, ainda em 1817, quando seu irmão, José Martiniano de Alencar, destacava-se como líder republicano.

Alencar chegou ao Crato, vindo de Pernambuco a 30 de abril de 1817, e a 3 de maio proclamava o triunfo republicano, movimento real, mas efêmero, devido a vigilância exercida na Província pelo então governador Sampaio e o poder repressivo de José Pereira Filgueiras, figura saliente do monarquismo do Cariri, que venceram os ideais revolucionários dos republicanos.

Presos na cadeia pública do Crato, José Martiniano de Alencar, Dona Bárbara de Alencar, Tristão Gonçalves e outros integrantes do movimento, foram transferidos para presídios em Fortaleza, viajando por mais de 500 quilômetros de distância entre as duas cidades, no lombo de cavalos, com os braços acorrentados e comida racionada. Foram confinados em cubículos individuais, no Quartel de 1ª. Linha (atual 10ª. Região Militar).

Depois de dois meses de cárcere na 10ª. Região, foram transferidos para uma prisão na Bahia, onde seriam fuzilados, já que haviam sido condenados por atos revolucionários contra o Imperador. No entanto, foram beneficiados pelo indulto concedido após os anos 20, devido à mudança estrutural do Brasil, com a sua independência e o regime constitucionalista.

Nessa nova fase do Brasil, os antigos revolucionários de 1817 voltaram a formar alianças, na tentativa de implantar na província, novas regras políticas, e Tristão Gonçalves formando aliança com José Pereira Filgueiras, tornou-se figura de proa nos destinos políticos da província.

Chamado a combater forças rebeldes na vizinha província do Piauí, Tristão Gonçalves só retornou ao Ceará em 1824. Encontrou a província mergulhada no caos, sob a gestão de um governo provisório, com lutas políticas internas, assassinatos entre rivais, indisciplina militar e risco de uma guerra civil. Houve então o governo meteórico do presidente Pedro José da Costa Barros, sua deposição logo em seguida e a ascensão de Tristão Gonçalves ao governo, em data de 29 de abril de 1824.

O governo de Tristão Gonçalves teve duas fases distintas, uma vinculada ao regime imperial, com subordinação política ao imperador e outra por adesão ao sistema governativo de Pernambuco instalando-se no Ceará a chamada “República do Equador”.

Durante a primeira fase, tudo caminhou dentro da normalidade. Tristão governava a província de forma equilibrada, cumprindo as normas constitucionais em vigor, porém, de forma clandestina participava de conspirações, mantendo estreito relacionamento com antigos conspiradores pernambucanos.

Com a eclosão do movimento revolucionário, envolvendo as províncias do Rio Grande do Norte e Paraíba, tendo Pernambuco na liderança, Tristão declarou apoio ao movimento republicano. Quando, no entanto, começaram a surgir informações sobre o fracasso da revolta, as forças de adesão que estavam compromissadas e fiéis ao novo sistema, trataram de desertar, deixando as lideranças sozinhas.

A participação de Tristão Gonçalves ficou declarada quando concebeu a ideia de enviar ao Recife a comitiva de apoio ao recém-instalado sistema republicano. A comitiva era composta pelos deputados republicanos José Martiniano de Alencar, padre Manuel Pacheco Pimentel, José Ferreira Lima Sucupira, Francisco Manuel Pereira Ibiapina e João da Costa Alecrim.  Em outra projeção, por determinação de Tristão Gonçalves, seguiu com destino ao Recife um comando militar sob o comando do sargento-mor Luiz Rodrigues Chaves, este comando, no entanto, não ultrapassou os limites do Rio Grande do Norte, ao saber dos frustrados destinos republicanos, o sargento mor tratou de salvar a própria pele, deixando-se aprisionar, delatando os companheiros.

Ao tomar conhecimento da traição, e da informação de que Rodrigo Chaves montara seu quartel-general na Vila de Aracati, Tristão resolveu ir pessoalmente dar combate ao desertor e impedir que, por essa rota tivesse acesso o inimigo. Deixou, então, o governo com o 1° vogal José Felix de Azevedo e Sá e partiu acompanhado das tropas que lhe restaram.

Andou por várias cidades da região, e quando o cerco apertou, com vários comandos no seu encalço, resolveu liberar suas tropas, partindo quase sozinho e sem chances de vencer. Acampou na fazenda Santa Rosa, às margens do Jaguaribe, no local denominado Olho d’água e aguardou o desenrolar dos acontecimentos.

Na manhã do dia 31 de outubro de 1824, enquanto descansava ao pé de uma árvore, Tristão Gonçalves foi morto a tiros de carabina, desferidos por Venceslau Alves de Almeida, integrante das forças legalistas e segundo dizem, defensor de seus próprios interesses. Matara por duzentos mil reis, prometido pelo sargento-mor Manuel Pereira da Cunha, que fora encarregado de exterminá-lo.

Monumento em memória de Tristão Gonçalves - desaparecido com a inundação da antiga Jaguaribara (imagem IBGE) 

Seu corpo foi deixado no local totalmente mutilado. Mais tarde, foi sepultado na Capela de Santa Rosa. No local da morte foi inaugurada uma lápide comemorativa, mandada construir pelo Instituto Histórico e Geográfico do Ceará.


Fontes: Pena de Morte/R. Batista Aragão/Barraca do Escritor Cearense/Fortaleza, 1991/Caminhando por Fortaleza/Francisco Benedito/Destak-Gráfica e Editora/Fortaleza, 1999/Publicação Fortaleza em Fotos