domingo, 7 de maio de 2023

Pero Coelho de Souza, o Pioneiro

 A primeira tentativa de ocupação da capitania do Ceará ocorreu pouco mais de um século depois do descobrimento, em 1603, quando Pero Coelho de Sousa, resolveu, por sua conta e risco, organizar uma bandeira, tentando diminuir os prejuízos que teve em outras empreitadas. Ao então governador-geral Diogo Botelho (8º Governador -Geral do Brasil – 1602/1607), declarou como seus objetivos descobrir minas de ouro e prata, expulsar os franceses que invadiram o Maranhão e estabelecer a paz com os nativos.


mapa da costa do Ceará, autoria de João Teixeira Albernaz - 1629


A cruz assinala o lugar onde teria sido edificado o forte de São Tiago 

Pero Coelho saiu da Paraíba a pé rumo ao Maranhão, acompanhado de 65 soldados (dentre eles o jovem Martim Soares Moreno) e 200 índios pacificados, até atingir a foz do rio Jaguaribe. Prosseguindo, atingiu a Ponta do Mucuripe, depois seguiu até a Ibiapaba, quando travou combates com índios da tribo dos Tabajaras e comandos franceses. Venceu o combate com grandes baixas e pretendia retomar sua viagem ao Maranhão, mas em razão da escassez de alimentos e das más condições físicas dos seus homens, decidiu retornar ao Ceará.


Estabeleceu-se na Barra do Ceará, onde levantou o forte de São Tiago. A região do entorno chamou de Nova Lusitânia, formada por uma tosca paliçada de paus de quina e umas poucas casinhas de palha. Mas Pero Coelho decidiu se estabelecer ali. Seguiu para Recife para buscar sua mulher Maria Thomazia e seus cinco filhos. Voltou um ano e meio depois para constatar que o relacionamento entre índios e soldados estava deteriorado, resultado da rígida obediência que os portugueses exigiam dos nativos para impor autoridade. Essa atitude implantou o ódio e a discórdia.


Acuado pelos inimigos (indígenas e soldados franceses), decidiu abandonar o forte e mudar-se para a foz do Jaguaribe. Nos anos de 1605/1607, o Ceará enfrentou uma forte estiagem que coincidiu com a viagem de Pero Coelho para a região do Jaguaribe. No percurso os viajantes encontraram rios e lagoas naturais totalmente secos, a vegetação morta, produzindo um cenário de fome, miséria e desespero.


Para completar a visão apocalíptica, apareceu nos céus o cometa de Halley, que os índios chamavam de “tata-bebe” (fogo voador), misturando terror e misticismo, uma vez que a aparição de fenômenos no céu eram considerados de mau-agouro.


Seguindo em sua árdua caminhada Pero Coelho perdeu alguns de seus soldados e seu filho mais velho, que morreram de inanição. Sua mulher Maria Thomázia, chegou ao Jaguaribe em grave estado de desnutrição, transportada numa espécie de maca. Depois se recuperou. Do Jaguaribe, com pouco mais da metade dos 50 homens que tinham iniciado a viagem, o aventureiro desloca-se até o forte de Reis Magos, em Natal, e depois à Paraíba, onde embarcou de volta para Lisboa.


a região da barra do Ceará foi a primeira área ocupada pelos exploradores 
postal dos anos 70

Na Corte fez um relato dramático de suas andanças pelas inóspitas terras do Nordeste, na esperança de receber alguma compensação pelos seus serviços. Não sensibilizou ninguém, porque todos conheciam sua impetuosidade. Martim Soares Moreno, que fez parte de sua expedição, registrou em sua “Relação do Ceará”, sem identificar nomes, que houve muita importunação aos indígenas sem razão. Pero Coelho de Souza morreu sem receber nada.


Na Revista do Instituto do Ceará, o historiador Studart Filho, deixou registrada sua impressão sobre a primeira investida colonizadora no Ceará. “efêmera e sem brilho havia de ser a vida desse reduto, testemunho mudo dos sofrimentos e das misérias dos primeiros colonizadores do Ceará. Evacuado em 1605, depois de ter servido de refúgio aos expedicionários durante mais de 18 meses, caiu em ruínas, desaparecendo sem deixar vestígios”.


A tentativa seguinte de colonização também falhou. Era a dos padres jesuítas Francisco Pinto e Luiz Filgueira.


Fonte:

Caravelas, Jangadas e Navios – uma história portuária, de Rodolfo Espínola.

         

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