É o mais lírico dos tipos característicos cearenses. Seu cavalo é a jangada. O mar concentra seu espirito. A jangada é uma invenção nativa com aperfeiçoamento da arte náutica ibérica. Descendente direto dos índios tupis, sua casa de palha de coqueiro é erguida na praia, sobre a areia solta. Veste calça e blusa de algodão tingido com cascas de árvores, como o cajueiro. Usa chapéu de palha de carnaúba, pintado de branco, com tinta impermeável.
Embora não se
aventure em viagens mais longas devido a fragilidade de sua embarcação, o
jangadeiro passa a maior parte de seu tempo no mar. A vida social em terra o
deixa pouco a vontade, para ele o mar é quase tudo. Amigo intimo, misterioso, e
cheio de perigos, a um só tempo. O brilho do sol sobre a água salgada
consome-lhe a vista muito cedo.
Os peixes e outros seres marinhos tomam-lhe a
imaginação, povoando-a de lendas e contos maravilhosos.
Histórias de sereias, toninhas, baratas do mar, peixes voadores, grandes naufrágios e salvamentos miraculosos. Para o jangadeiro o mar é algo grandioso do qual ele se defende e que guarda sempre alguma coisa profundamente desconhecida.
Histórias de sereias, toninhas, baratas do mar, peixes voadores, grandes naufrágios e salvamentos miraculosos. Para o jangadeiro o mar é algo grandioso do qual ele se defende e que guarda sempre alguma coisa profundamente desconhecida.
Se etnicamente o
jangadeiro não pode negar sua herança índia, seu espírito revela muito do
lirismo dos navegadores lusitanos. Lirismo
que aparece na Caninha-Verde, um dos seus folguedos preferidos, nas quadras
românticas de suas canções, nos improvisos dos puxadores de coco e até nos
folhetos de cordel dos seus poetas, como Zé melancia, poeta maior da vida
praieira, falecido há alguns anos em Canoa Quebrada.
O espírito lírico do jangadeiro reflete-se
também em sua mulher, quase sempre artesã do labirinto ou da renda. Há todo um
ciclo de contos tradicionais, envolvendo a angústia feminina na espera do homem
que foi para o mar.
Extraído do livro
Ceará dos Anos 90 – censo cultural
fotos: acervo do IBGE
Discovery (sereias)
Nenhum comentário:
Postar um comentário