quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A Seca de 1932 e os Campos de Concentração no Ceará

O ano de 1932 foi mais um ano sem chuvas no Ceará. O ano anterior já fora um prenúncio de que viria mais um período de estiagem, já que o "inverno" fora ruim. 
Milhares de pessoas pereceram de fome, sede e doenças. O então presidente Getúlio Vargas (1930-1945) buscou combater a seca como uma questão nacional, ou seja, as medidas adotadas seriam tomadas diretamente pelo governo federal.
Liberou verbas para socorro aos flagelados, controlou o mercado para garantir um abastecimento mínimo e preços razoáveis e instruiu a Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS), a alistar sertanejos para trabalhar na construção de açudes, estradas, calçamentos, etc. .  
Mas nem todos os sertanejos conseguiam se engajar nas obras de emergência, pois não havia muitas vagas. Os trabalhadores, chamados pejorativamente de “cassacos”, trabalhavam de sol a sol, sempre sob o olhar repressor de feitores. A remuneração não era em moeda, mas em gêneros alimentícios, os quais na maioria das vezes eram desviados pelos encarregados da distribuição, ou tinham valores superfaturados.
Diante da penúria, inúmeros homens, mulheres e crianças se sujeitavam a migrar, a pé, ou em trens, em busca de auxilio e de outras cidades que lhes permitissem melhores condições de sobrevivência. 
As estações de trem passaram a ser locais de grandes tensões entre os retirantes e a polícia. Alguns trens chegaram a ser saqueados. Normalmente os trens despejavam os retirantes, na capital, perto do mar, onde se localizavam as últimas estações ferroviárias. Muitos erguiam casebres próximos à praia, o que contribuiu para a formação das primeiras grandes favelas de Fortaleza, a exemplo do Pirambu e Moura Brasil. 

Aquelas massas de miseráveis incomodavam aos moradores das cidades, pois levavam doenças, desordem e maus hábitos para onde iam e incomodavam aos comerciantes que temiam os saques e assaltos.
A solução encontrada pelas autoridades para enfrentar o problema foi desumana: para manter os retirantes em seus locais de origem e evitar que alcançassem Fortaleza ou outros centros urbanos do estado, as autoridades construíram campos de concentração, ou seja, acampamentos murados ou cercados de arame farpado onde eram alojados os flagelados.
A experiência dos campos de concentração já havia ocorrido na seca de 1915, no Alagadiço (atual São Gerardo). Os campos apresentavam uma estrutura básica, com posto médico, cozinha, barbearia, banheiros, capela e casebres, divididos em pavilhões para homens solteiros, viúvas e famílias, tudo muito precário.
Ninguém podia sair sem a permissão dos inspetores de campo – havia guardas para evitar fugas. As pessoas ficavam confinadas como animais. Todos tinham a cabeça raspada, vestiam roupas feitas de saco de farinha, passavam muita fome e sede, e eram controlados por senhas.
 Esses locais eram chamados pela população de “currais do governo”. As estatísticas oficiais dão conta da existência de quase 84 mil retirantes distribuídos em sete áreas de  confinamento: Buriti (distrito do Crato), Patu (Senador Pompeu), Cariús (São Mateus), Ipu, Quixeramobim, e em Fortaleza nos bairros do Pirambu (chamado Campo do Urubu) e Otávio Bonfim. 
Os campos foram estrategicamente construídos nas proximidades de uma estação ferroviária, com isso as autoridades controlavam a massa de retirantes, e evitavam sua migração de trem, para a capital cearense. 
Os campos eram locais insalubres. Entre abril de 1932 e março de 1933 foram registradas mais de mil mortes no campo de Ipu.

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias  

9 comentários:

  1. O Ceará tem muitas indústrias.Tudo muito bom, se traz trabalho e não prejudica o meio ambiente.
    A indústria da seca, que há muito impera nessa terra, essa é pra se repudiar. Um verdeiro holocaustro, você nos traz nesta postagem. Sem contar com as grandes secas anteriores.
    Cadê o DNOCS, a SUDENE...fizeram o quê? Continuam as calamidades, com inúmeras vítimas.
    Apontam tantas soluções, criam-se tantos projetos, gasta-se tanta verba.....E agora, José,
    quais são as últimas promessas?

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  2. Meu Deus, eu desconhecia esses campos e penso que muitos brasieliros também ignoram que isso tenha existido no Brasil!
    lamentavel , triste.

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    1. Na seca de 1932, um retirante cearense, dirigiu-se ao Sr. Antônio Lopes,no município de Picos PI. de joelhos implorou para que ele tomasse de conta de seus dois filhos menores para que eles não morressem de fome, pois três dos seus cinco filhos já haviam ficado enterrado a beira da estrada.
      2 Conheci um senhor que em 1932, escapou comendo carne de animais mortos, que quando encontrava um animal morto procurava o dono e pedia para aproveitar a carne como alimento; sua mãe, e seus irmãos em número de 6 ou 7, não conseguiam se alimentar das carniças, pois vomitavam e terminaram morrendo de fome.

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    2. histórias de horror, é inacreditável o que essas pessoas sofreram (e ainda sofrem) por causa de governantes irresponsáveis que não se preocupam em resolver o problema da seca no Nordeste.

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  3. Essa solução vergonhosa foi utilizada em mais de uma oportunidade nos períodos de seca, não só em Fortaleza, mas também em algumas cidades de interior. Até hoje esses governos cearenses, cada um pior do que outro, não encontraram solução para o problema da seca no Estado.
    abs Regina

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  4. Sabia dos campos de confinamento de 1915 para evitar a "invasão" de flagelados na capital cearense e cujas condições eram sub-humanas. Mas desconhecia a de 1932 e me pergunto, o que de fato mudou de lá para cá? A mídia pouco mostra, mas a seca nos últimos anos tem sido implacável, gado e animais morrendo de sede e o nordestino de fome. Em pleno século XXI, com tantas tecnologias disponíveis, é falta de vergonha na cara de todos governantes e de quem ganha com a seca. Vou divulgar o assunto.

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  5. Sylvia Lenz, essa "solução" dos campos de concentração se repetiu em várias ocasiões, sem servir de solução para absolutamente nada. É evidente que não há interesse político em resolver, muitos políticos pés-de-chinelo se elegem indefinidamente só prometendo acabar com a seca. Depois de eleitos, cuidam dos seus próprios interesses, que pra isso é que eles se apresentaram como candidatos. Atualmente o Nordeste atravessa um período de estiagem que já dura 2 anos. E com o que estão preocupados os governos da região? Com a copa do mundo. Essa é a nossa realidade.

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  6. Este é uma face de Getulio Vargas, que a história nao mostra

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  7. Este é uma face de Getulio Vargas, que a história nao mostra

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