quinta-feira, 28 de março de 2013

A Modernização pelos Trilhos


Acompanhando o crescimento da produção e do comércio, e para ele contribuindo igualmente, verificou-se na segunda metade do século XIX a ampliação dos meios e vias de transporte, de forma a dotar a província de melhores estruturas para o escoamento das mercadorias em direção ao litoral.

Placa comemorativa do 1° centenário da Estrada de Ferro de Baturité (foto Rodrigo Paiva)

Após alguns planos que não saíram do papel, em 1870, o governo provincial assinou com a Companhia Cearense da Via Férrea Baturité, um contrato para a construção de uma ferrovia ligando a capital à vila do mesmo nome. Tal companhia tinha como diretores o Pe. Thomaz Pompeu de Souza Brasil (O Senador Pompeu), Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), os comerciantes Joaquim da Cunha Freire (Barão da Ibiapaba) e Henrique Broochlehurst, sócio da firma R. Singlehurst e Cia – a popular Casa Inglesa – e o engenheiro José de Albuquerque Cavalcante.
Em 1873 foi inaugurado o primeiro trecho da EFB entre Fortaleza e o Arronches (atual Parangaba) e em 1876, o de Pacatuba. Havia planos para estender os trilhos até o vale do Cariri, mas desde o início o empreendimento teve problemas financeiros – daí os atrasos nas obras e os constantes auxílios do governo.

Os trilhos da Estrada de Ferro e a antiga Estação de Baturité (foto Rodrigo Paiva)

Em 1878, a Estrada de Ferro Baturité acabou encampada pelo governo imperial. Cinco anos depois os trilhos finalmente chegaram a Baturité. Posteriormente, sucederam-se prolongamentos em direção ao sul cearense, chegando ao Crato em 1926.
A Estrada de ferro trouxe benefícios à produção agrícola e ao comércio do Ceará, facilitando o escoamento da produção sertaneja (especialmente algodão e café) para Fortaleza e daí para os centros consumidores do além-mar, e transportando a bens industrializados para o interior. 
Em 1878, durante a calamitosa estiagem (1877-79) o governo imperial determinou com seus recursos a construção de uma outra ferrovia no Ceará, ligando Camocim a Sobral, na qual por caridade, foi usada a mão-de-obra sertaneja. O trecho Camocim-Granja foi inaugurado em 1881 e em dezembro de 1882, inaugurada a estação de Sobral.

Estação de Camocim da Estrada de Ferro de Sobral (foto Rodrigo Paiva) 

A construção da Estrada de ferro Sobral trouxe alguma prosperidade para Camocim em detrimento de Acaraú, em virtude da decadência da histórica rota comercial antes feita pelo porto desta cidade. O surto da borracha na Amazônia na década de 1880 provocou euforia no norte cearense – o porto de Camocim, por ser mais próximo da Amazônia viveu grande agitação, com o comércio e a saída de cearenses para aquela região.
Com a ferrovia, Sobral incrementou o controle sobre o centro-norte do Ceará e com os prolongamentos da EFS – para Crateús em 1912 e Ibiapaba em 1918 – influenciou mesmo áreas do Piauí e Maranhão.

Estação de Sobral foi inaugurada em 1882 como ponta de linha da Estrada de ferro de Sobral (foto de 1957 do site estações ferroviárias do Brasil) 

A cidade conheceu igualmente uma fase de expansão urbana e aformoseamento (construção do Teatro São João, do Jockei Club, casas elegantes, etc.) em 1950, após muitas interrupções, se concluiria a estrada de ligação entre a EFS e a EFB, iniciada em 1910.
Além de várias estradas de rodagem abertas na segunda metade do século XIX entre as vilas, ampliou-se a navegação de cabotagem no litoral cearense. Até 1858, a única companhia marítima nacional a vapor que frequentava a província era a Companhia Pernambucana, a qual enviava um único navio aos portos locais. 

teatro São João em Sobral, inaugurado em 1875 (foto do site da prefeitura de Sobral) 

A partir de 1865 por contratos do governo cearense outras companhias começaram a fazer escalas nos portos do Ceará, como a Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão, a do Rio de Janeiro e algumas companhias estrangeiras. Fortaleza assim passou a ter nos anos 1860, não só a primazia do comércio direto com a Europa, favorecida pelas linhas de vapores ingleses e pelo fechamento da Alfândega de Aracati em 1851, mas também com outras províncias  uma vez que seu porto foi incluído nas rotas que se estendiam para a região Sudeste, ligando-a aos mais importantes portos do País.

extraído do livro de Aírton de Farias
História do Ceará

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