sábado, 2 de março de 2013

Imagens do Poder: entre o Sagrado e o Profano




Quando Padre Cícero foi eleito para o cargo de prefeito de Juazeiro, em 1911, o evento foi marcado por uma fotografia em forma de medalhão. Feita a partir de um close, o retrato apresenta a imagem oficial de um padre que havia assumido significativo lugar na política. Trata-se do rosto emoldurado que foi colocado nas paredes da prefeitura. Ao mesmo tempo foi um dos retratos que mais despertaram a vaidade do Padre Cícero. A partir dessa matriz, ele mandou imprimir uma infinidade de cartões-postais. Seguindo a moda de então, o padre desenvolveu o hábito de oferecer a própria imagem como prova de amizade e estima. 

No centro Presidente  do Estado Moreira da Rocha; a esquerda, Padre Cícero e à direita, Floro Bartolomeu

Grande parte das fotos nas quais o Padre Cícero aparece ao lado de políticos é composta por registros das visitas de três presidentes de Estado a Juazeiro: João Thomé de Saboya, em 1917, José Moreira da Rocha, em 1925 e José de Mattos Peixoto, em 1929.
Os envolvidos nas tramas da política dos coronéis sabiam que o apoio de Padre Cícero tinha inestimável importância. As poses programadas diante do flash constituíam ritos de sacralização dos interesses que caracterizavam as classes dominantes.

Presidente joão Thomé e Padre Cícero em 1917

Aos 80 anos, Padre Cícero serviu de modelo para uma estátua de bronze em tamanho natural. Seguindo as orientações de Floro Bartolomeu. O escultor Laurindo Ramos fez uma imagem que procurava ser a mais realista possível, com grande riqueza de detalhes. O rosto, as mãos, o caimento da batina, foram esculpidos de modo a reproduzir, com perfeição os traços físicos do padre. Como previsto, a estátua do Padre Cícero foi colocada na praça mais importante de Juazeiro.  O lugar, antes chamado de Praça da Independência, ganhou outro nome: Praça Almirante Alexandrino. A inauguração da praça em 1925 assumiu ares de cerimônia oficial e patriótica, contou com a presença de várias autoridades e desfiles de um destacamento da Escola de Aprendizes Marinheiros da Capital. 

Praça Almirante Alexandrino
foto: http://historiadejuazeiro.blogspot.com.br

A estátua de bronze transformou-se em um dos símbolos do progresso da cidade. Para as classes dominantes de Juazeiro, Padre Cícero não poderia ser visto como um santo de fanáticos. A exaltação que muitos membros das classes média e alta desenvolveram em torno do Padre Cícero, até mesmo chamando-o de santo, construiu-se com a preocupação de não apresentar manifestações de ignorância religiosa. É um culto racionalizado, que coloca em destaque as virtudes pessoais do patriarca: o padre virtuoso, perseguido pela igreja junto com a imagem do prefeito, honesto, caridoso, trabalhador e que promoveu o desenvolvimento da cidade.  

extraído do artigo de Francisco Régis Lopes Ramos
Juazeiro e Caldeirão: espaços de sagrado e profano
publicado no livro uma Nova História do Ceará 
 

Um comentário:

  1. Muito bem, usa o cajado q Deus lhe deu e taca na cabeça desse padre cicero, por q esse cajado d padre cicero só servia para ser um mercenario.

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