Em 1799 todo o comércio do Ceará era com as praças da Bahia,
de Pernambuco e do Aracati. Os sertanejos vendiam ali os seus rebanhos, e se
proviam de tecidos e artigos importados exclusivamente de Portugal. A Vila do
Aracati tinha atingido grande prosperidade nos últimos tempos, e serviu de
entreposto do comércio de Pernambuco com a bacia do Jaguaribe e regiões
limítrofes. Ali se faziam anualmente charqueadas de 20 a 25 mil bois, e se
vendiam cerca de 160 contos de tecidos trazidos de Pernambuco.
Aracati (foto IBGE)
Era diminuta a
cultura de algodão. Só com a grande perda dos gados em 1792, se desenvolveu o
cultivo do produto, e três anso depois se exportavam 18 mil arrobas.
Pela lei colonial, não era lícito à capitania ter comércio
direto nem mesmo com Portugal. Esse privilégio cabia somente a certas praças.
Segundo os recenseamentos conhecidos, em 1765, a população do Ceará era de 34.000
pessoas de desobriga, quer dizer, superior a 50.000 indivíduos. Havia 20
freguesias.
O cultivo da cana de açúcar estava muito adiantado no Cariri, e
contavam-se 952 fazendas de criação. As sucessivas medidas tomadas pelo governo
de Lisboa, por solicitação dos jesuítas, puseram termo à captura dos índios,
sendo isto parte para a importação dos africanos, depois da expulsão dos
holandeses. Os escravos que existiam na província, tinham, pois, origem dupla.
Datam de Pero Coelho as notícias de grandes períodos de secas no Ceará, estando
hoje averiguado que elas constituem fenômeno próprio desta região, e que se
repetem formando ciclos de 100 anos. A de 1692 corresponde às de 1792 e 1891; as
de 1725, 1745 e 1777 às de 1825, 1845 e 1877.
açude seco no interior do Ceará (IBGE)
Destas calamidades ficaram tristes recordações. A estiagem de
1725 foi tão grande que fez secar até as correntes do Cariri; a de 1777, fez
perecer sete oitavos do gado existente na capitania. A de 1792, chamada de seca
grande, começou em 1791 e só terminou em 1793. Os sertões se despovoaram e dos
retirantes que se aglomeraram no Aracati, 600 pereceram. A varíola se associou
à fome como noutras épocas, mostrando-se inseparável das secas. Um terço da
população sucumbiu ao flagelo.
extraído do livro de João Brígido
Ceará (Homens e Fatos)
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