Devido a sua regularidade, as secas eram de grande importância
para a compreensão da história do Ceará, influenciando no dia-a-dia dos
habitantes, no movimento das populações e mesmo na produção da cultura local.
Assim, a seca não é somente um fenômeno climático, mas também social. A cada final e início de ano, o cearense busca
sinais de como será o período chuvoso – o comportamento de certos animais, de
insetos, manchas no sol ou no céu, o os ventos, podem ser indicativos de bom
inverno ou de mais um período de estiagem.
No encontro de amigos
nas vilas ou nas reuniões nos alpendres das casas sertanejas, o assunto
normalmente vem à tona. Nas orações diárias ou nas missas, o pedido aos Santos
era pela graça de se ter água em abundância.
Quando, porém, acabava o mês de
março chegava Abril, sem chuvas, as preocupações começavam: como encarar a escassez
de alimentos, a perda de safras, e a falta de pastos para
os rebanhos. Diante das grandes distâncias dos sertões, o calor insuportável, a
falta de água e alimentos, a seca poderia ser fatal.
As irregularidades das chuvas já são registradas nos
documentos desde os primeiros momentos da conquista do atual território do Ceará.
Em 1608, Pero Coelho retirou-se do Siará Grande em sua frustrada tentativa de
conquista da terra, em meio à calamitosa estiagem. Nos primeiros séculos da
conquista, há referências a diversos períodos de seca. Em todos eles,
normalmente ficavam nos sertões um rastro de morte e fome, pois se arruinava a
produção agrícola e pecuarista. Não raro ocorriam surtos de doenças como a varíola,
afligindo e dizimando a população.
O fenômeno
da seca atinge a todos, ricos e pobres. A falta de água e comida obrigava os
sertanejos a se deslocarem, num estratégia de sobrevivência. Vilas e fazendas ficavam despovoadas ou
precariamente habitadas.
Contudo, a maneira como os grandes fazendeiros e
comerciantes experimentavam a seca era distinta da forma sentida por pequenos
proprietários, escravos, agregados e outros. Como os grandes latifundiários tinham
propriedades em regiões diferentes (serras, vilas, etc) tinham mais opções de
deslocamento dos rebanhos e dos familiares, não sofrendo os infortúnios e
dependendo menos da ajuda de outros.
Já as camadas mais humildes da população buscavam refúgio
onde moravam familiares ou amigos. A presença destes era importantíssima,
afinal significava facilidade em obter comida, trabalho, teto, ou apoio para
recomeçar a vida e reconstruir suas modestas habitações.
Havia casos de os homens partirem na frente, em busca de uma
área propícia, deixando a mulher com os filhos para trás – isso para terem mais
facilidades nos deslocamentos, e não submeter a família às dificuldades da
viagem – muitos migrantes morriam
durante as longas caminhadas. Ao encontrarem uma região com melhores condições,
aqueles homens voltavam para buscar a mulher e os filhos. Existiam ocasiões,
contudo, dos homens nunca voltarem , ou quando voltaram, encontraram seus
parentes mortos.
As regiões cearenses eram atingidas pela seca de maneira
distinta. Vilas mais prósperas, situadas em regiões litorâneas ou áreas
serranas, a exemplo de Aracati e Crato, resistiram com menos dificuldades ao
flagelo, apesar de terem suas populações aumentadas com a migração dos
retirantes.
vídeo: musica Triste Partida, de Patativa do Assaré
voz de Luiz Gonzaga
fotos: Folha.Uol.
fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias
Se houvesse interesses políticos não haveria no nosso sertão fome e miséria.
ResponderExcluirSandra Regina,
ExcluirAs políticas públicas voltadas para o problema da seca são ineficientes e insuficientes. Falta vontade política e competência também. Além do mais é do interesse desses políticos manter essa população dependente deles, é assim que eles são eleitos, em troca de uma cesta básica, uma bolsa familia, uma dentadura, etc,etc