segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Iluminação Pública nas Cidades do Interior do Ceará

Desde o século XIX, várias cidades cearenses que desfrutavam de maior relevância política, econômica e social, reivindicaram os melhoramentos decorrentes de avanços tecnológicos, que normalmente eram privilégio das capitais. O querosene, óleo mineral derivado do petróleo, importado dos Estados Unidos, tornou-se uma alternativa no Ceará desde a segunda metade do século. 
Sua comercialização em latas de 2 e 5 galões, em garrafas de 1 litro e no retalho, contribuiu para que se tornasse de uso corrente na iluminação residencial. Por demandar poucos investimentos, o querosene foi a solução adotada para a iluminação pública em algumas cidades do interior.

Sobral - Centro Comercial (acervo do IBGE)
A referência mais antiga é da cidade de Sobral, que o teria adotado por volta de 1884, com a utilização do querosene em combustores de madeira. Em 1893, Iguatu instala dois combustores na Praça da Matriz, por iniciativa do vigário Raimundo Hermes Monteiro, assegurando a despesa de manutenção com custeio aprovado pela Câmara Municipal.

 Crato - casas no centro (acervo IBGE)
A mesma modalidade de combustível é adotada no Crato em 1903, quando a Câmara Municipal autoriza a instalação do serviço de iluminação pública. Esta era composta de toscos postes de madeiras quadrilaterais, enfiados rentes com as calçadas sobre os quais assentavam lampiões, feitos com uma caixa de flandres, com quatro faces envidraçadas e cobertas também com flandres. Dentro desses lampiões eram colocados pequenos candeeiros, com mangas de vidros, cheios de querosene.  Todas as noites, via-se o empregado da Intendência, carregando uma escadinha de cedro, para acender os candeeiros, os quais, como os lampiões, eram fabricados por funileiros cratenses.

Iguatu (data não especificada) - arquivo Nirez
 
No final do século XIX o gás acetileno, introduzido no Ceará por importadores franceses, tornou-se o combustível alternativo, diante das boas possibilidades comerciais. Algumas cidades cearenses foram iluminadas por esse sistema: Aquiraz (1902), Tauá (1910),  Russas (1912), Lavras (1912). Nesse mesmo ano, a cidade de Iguatu adota também o acetileno em substituição ao querosene.  
O interesse de populações e líderes das cidades interioranas pela obtenção de modernos recursos para a geração de energia acompanha as transformações vividas na capital. Na virada do século, notadamente, começa a se expandir a busca por transporte coletivo e iluminação pública. 


Icó (entre 1910/20) - Arquivo Nirez
Pela lei n° 1057, de 23 de agosto de 1911, o Presidente do Estado autorizava as Câmaras Municipais de Messejana, Soure (Caucaia) e Redenção a contratarem  os serviços de transporte por tração elétrica. As cidades de Aracati, Icó e Iguatu obtêm, pela lei 1064, de 28 de agosto do mesmo ano, idêntica autorização para implantarem bondes de tração elétrica, ainda que não houvesse a menor condição do serviço ser implantado.
Quanto à implementação da iluminação pública por energia elétrica, leis sucessivas são sancionadas pelo presidente do Estado, autorizando a contratação desses serviços para os municípios que buscavam este melhoramento.  Em 1913 foram autorizados os municípios de Barbalha, Iguatu, Crato,  Ipu e Quixadá.  Três anos depois foi a vez dos municípios de Maranguape, Baturité, Camocim e Aracati.


Aracati, na foto, o cruzeiro da matriz (arquivo Nirez)
No ano de 1918, ainda no âmbito dos atos legais para contratação de usinas geradoras de energia elétrica, recebem a sanção do presidente do Estado os municípios de Cascavel, Lavras, União (atual Jaguaruana), Russas, Limoeiro, Crateús, Icó, Jaguaribe-Mirim e Tauá.
Em 8 de agosto de 1927 se encerra esse período de ação política, que se transforma em atos concessórios  para a contratação de serviços de luz e força, permitindo que qualquer Câmara Municipal no Estado buscasse a solução mais apropriada para sua comunidade.

Extraído do livro
História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite   

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