Gonçalo
Baptista Vieira nasceu em Arraial de São Mateus, atual município de Jucás, em
17 de maio de 1819 e faleceu em Fortaleza, em 10 de março de 1896, filho do capitão-mor,
do mesmo nome. Bacharelou-se em Direito
pela Faculdade de Olinda, em 1843, na mesma turma que Tomás Pompeu de Sousa
Brasil.
No
ano de sua formatura, foi diretor e acionista da Estrada de Ferro Baturité. Era filiado do Partido Conservador, foi
deputado à Assembleia Geral e exerceu o
cargo de vice-presidente da província em 1877. Gonçalo Batista foi um homem marcado pelas contradições do
tempo em que viveu. Sendo grande latifundiário, era simpatizante da causa
abolicionista e tinha fama de que maltratava seus escravos. Em 1871 recebeu de Dom Pedro II o título de Barão de Aquiraz.
Quase 120 anos após a sua morte, o Barão de Aquiraz é uma figura pouco conhecida
na História do Ceará. Em Assaré, município onde manteve uma fazenda, é lembrado
como um personagem distinto daquela que os historiadores esboçam. De líder
político e empreendedor, o Barão se converteu em personagem fantástico no
imaginário do povo.
Casarão do Infincado onde morou o Barão de Aquiraz
imagem: https://www.facebook.com/permalink.php
Em
péssimo estado de conservação em razão do abandono e do desgaste natural, o
casarão da fazenda que pertenceu ao Barão de Aquiraz, na localidade de
Infincado, em Assaré, alimenta as histórias em torno de seu antigo dono. Histórias de
assombração, de fortunas enterradas, protegidas por artifícios mágicos, além de
“causos” a respeito da crueldade do velho Barão. Na cidade, a casa grande do
Barão de Aquiraz e os causos são bastante conhecidos. No entanto, um número
muito pequeno teve a oportunidade de vê-la de perto. “Ela fica muito longe. A
estrada pra lá é ruim, além de não ter nada. É só mato”, conta o comerciante
João Palácio.
Assaré - Igreja de N.S. das Dores - foto do acervo do IBGE
A
localidade de Infincado fica em Genezaré, distrito de Assaré, distante 24 km da
sede do município. O terreno acidentado, da estrada carroçável, estende o tempo
de viagem, chegando a duas horas de carro. Quando se chega a Genezaré, é
preciso atravessar a área povoada, com casas, praça e capela própria. Seguem-se
outros 10 km até chegar ao casarão.
Casa
e personagem são protagonistas e coadjuvantes de histórias fantásticas. O
cenário é mesmo, mas mudam os tempos - indo de causos de quando o Barão de
Aquiraz era vivo ao tempo presente, quando este sobrevive como vestígio.
Douglas
Nogueira e Erisberto Gonçalves, da Associação de Jovens de Genezaré,
pesquisaram sobre a história da casa e colecionaram causos. No campo da
história, os dois jovens falam de um rico senhor de terras, que em seu auge
financeiro, teve propriedades em Campo Sales, Potengi, Araripe e para além dos
limites do Estado, em Pernambuco e no Piauí. Construído em meados do século XIX
(não há uma data precisa de sua fundação), o casarão é robusto, com 72 portas,
com paredes largas e estruturas em cedro. Foi erguida pelos escravos da
propriedade, que moldavam as telhas nas próprias pernas.
No
campo do imaginário, mantido por narrativas que passam de geração à geração, o
lugar foi palco de cenas de crueldade. Os
moradores mais antigos contam que o Barão era um homem muito perverso. Certa
vez teria feito um escravo carregar uma pedra enorme, de um córrego a
quilômetros da casa. Quando ele chegou lá, caiu morto, com a pedra por cima, conta Douglas Nogueira.
O
temperamento cruel do fazendeiro reaparece quando se conta dos escravos que
mandou matar. “Era um casal de negros, que tinham um caso. O Barão, que era
apaixonado por ela, ficou louco quando soube e pôs fim a vida deles. Depois
disso, o povo conta que ele passou a ser assombrado pela alma dos escravos.
Ouvia correntes sendo arrastadas, as redes da casa eram sacudidas. Ainda hoje
tem quem diga que você ouve essas correntes à noite”, narra Erisberto
Gonçalves.
Curiosa
a descrição da crueldade do Barão para com seus escravos, porque a história o
registrou como simpatizante do abolicionismo. Em março de 1883, antes da
abolição da escravidão no Ceará, o proprietário teria dado a carta de liberdade
para seus cativos. Outras histórias dão conta de aparições do fantasma do
Barão, que indicaria onde estão escondidas botijas contendo moedas de ouro, dentro
e fora da casa. Estas seriam protegidas por uma cobra, que ameaça devorar quem
escavar no lugar errado.
Caso
emblemático é o de uma narrativa sobre a morte do Barão de Aquiraz. É Douglas
Nogueira quem a reproduz: “quando ele morreu, o corpo saiu da sede da fazendo,
em cortejo, com familiares e escravos da propriedade. No meio do caminho, a
família encontrou dois escravos, que pediram para carregar a rede, por ordem do
cemitério. Eles partiram na frente e a família os perdeu de vista, quando
encontrou foi só a rede e as madeiras. Nenhum sinal do corpo ou dos homens que
iam carregando ele”.
Casa em que residiu o Barão de Aquiraz, que mais tarde pertenceu a Luiz Severiano Ribeiro e foi demolida para dar lugar ao Edifício São Luiz, na Praça do Ferreira. (foto do Arquivo Nirez)
A
história contradiz o que ficou registrado nos documentos do morto. Falecido em
1896, já não existiam escravos à época; e o Barão de Aquiraz faleceu em sua
propriedade na Capital, precisamente onde hoje se encontra o Cine São Luiz, e
foi sepultado no Cemitério de São João Batista.
Diario do Nordeste
wikipédia
Sou de Jundiaí-SP. Fátima, gosto muito de histórias antigas e fotos. Amei este artigo e se souber de mais histórias como essa, por favor , publique.
ResponderExcluirParabéns!
obrigada Gracinha, estamos sempre buscando boas histórias, abs
ExcluirHistória incrível, Fátima. São sempre bem-vindos esses relatos e causos.
ResponderExcluirParabéns.
História incrível, Fátima. São sempre bem-vindos esses relatos e causos.
ResponderExcluirParabéns.
Quando vejo uma dessas casas antigas gosto sempre de saber a história de cada uma delas, são sempre coisas do passado que me agradam muito. Muito obrigado.
ResponderExcluirMuito bom saber. Parabéns pelo "causo" Aqui explicitado. Sou descendente de uma irmã do Barão, Maria José de Oliveira.
ResponderExcluirO q vc chama descendente?
ExcluirIsso quer dizer que sou descendente, em linha reta, de Maria José Batista Vieira (Oliveira), irmã de Gonçalo Batista Vieira - Barão de Aquiraz - ambos filhos do Capitão-mor Gonçalo Batista Vieira.Ela, Maria José, casada com o capitão Manoel Gonçalves do Santos.
ExcluirA mesma era minha tetravó.
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