O escritor Mozart Soriano Aderaldo divide o estudo da
história do Ceará em dois períodos: antes e depois do Barão de Studart. Até então,
as pesquisas se baseavam mais na tradição, sem possibilidade de comprovação dos
fatos.
Guilherme Chambly Studart nasceu em 5 de janeiro de 1856, em
Fortaleza, filho do inglês John William Studart – primeiro vice-cônsul do Ceará
e de Leonísia Castro Studart, neta do Major Facundo, político de grande
influência em sua época.
Estudou inicialmente no Colégio Ateneu Cearense e em
seguida no Ginásio Baiano. Em 1872, matriculou-se na Faculdade de Medicina da
Bahia, concluindo cinco anos depois. Exerceu a profissão por muito tempo no Hospital
de Caridade de Fortaleza (Atual Santa Casa de Misericórdia).
Prédio da Faculdade de Medicina da Bahia
Católico militante, definido politicamente como
Conservador, Guilherme Studart participou da campanha pela libertação dos
escravos na província. Em 1880, seu nome estava incluído entre os 225 sócios da
“Sociedade Cearense Libertadora”, cujo presidente João Cordeiro, defendia a
libertação através de todos os meios, inclusive violência e furto de escravos.
Depois da morte do seu pai, Guilherme Studart herdou
o cargo de vice-cônsul no Ceará. Responsável por diversas transações
comerciais, ligadas a proprietários de fazendas que mantinham escravos, não
concordou com o caminho seguido pela “Sociedade Libertadora” posicionou-se contrário à qualquer perturbação
na ordem moral e econômica da cidade. Acreditava que a abolição seria alcançada
de modo pacífico. Fundou então, ao lado de Meton de Alencar, José Martiniano de
Alencar e outras personalidades, o “Centro
Abolicionista 25 de Dezembro” e escreveu seu manifesto, divulgado em 13 de
abril de 1883.
Instituto Pasteur criado pelo médico Guilherme Studart
em 1918, localizado na atual Avenida Bezerra de Menezes
Guilherme Studart sofreu criticas severas dos
libertadores mais radicais, por conta de tal iniciativa. Finalmente, em 24 de
maio de 1883, Guilherme Studart participou no salão nobre do Paço Legislativo,
da sessão em que se declarou a
libertação dos escravos em Fortaleza. Ele foi retratado, ao lado de 91
personalidades no quadro “Fortaleza Liberta”, do artista plástico José Irineu
de Souza.
O interesse pelos estudos históricos surgiu quando
Guilherme Studart retornou ao Ceará, depois de formado em medicina. Percebeu
que, basicamente, só existiam fragmentos sobre a história de sua terra,
faltando documentos informativos essenciais para a compreensão do passado. Com recursos
próprios, viajou várias vezes para Portugal, onde pesquisou intensamente na
Biblioteca Nacional de Lisboa. Trouxe assim, para o Brasil, documentos até então
inéditos entre os historiadores cearenses.
Quadro Fortaleza Liberta – de autoria do artista
cearense José Irineu de Sousa, retrata a solenidade de libertação dos escravos
de Fortaleza, no salão nobre da Assembleia Provincial. Hoje o quadro faz parte do acervo do Museu do Ceará (foto do site Fortaleza em Fotos)
Publicou o primeiro livro em 1883. “História do
Ceará. Família Castro. Apontamentos”. Dai por diante divulgou, através de sua própria
tipografia várias obras de porte sobre a história do Ceará. Escreveu ainda
trabalhos relacionados com a medicina. A produção intelectual de Guilherme
Studart abrangeu diferentes áreas do conhecimento humano, daí o destaque que
recebe na historiografia cearense.
Além de dedicar-se a cultura, foi benemérito de várias
entidades filantrópicas. Entre 1898 e 1931, esteve à frente do Conselho Central
Metropolitano das organizações vicentinas. Em 1900, por solicitação do bispo
Dom Joaquim Vieira, recebeu o título de “barão” da Santa Sé, assinado pelo Papa
Leão XIII.
Registro da fundação do Centro Médico Cearense no dia 20 de fevereiro de 1913. Nela estão da esquerda para a direita em pé: Adalberto Studart, Raimundo Gomes, José Frota, Nelon Catunda, Amâncio Filomeno, Afonso Pontes, Antônio Mesiano, Eliezer Studart e César Cals. Sentados, na mesma direção: Meton de Alencar, Eduardo Salgado, Barão de Studart, Manuelito Moreira e Costa Ribeiro com o menino José Carlos da Costa Ribeiro Filho. A foto foi feita na porta da Santa Casa da Misericórdia.
(foto e identificação Nirez)
O Barão de Studart, como ficou popularmente conhecido, foi responsável pela fundação de importantes entidades cearenses: Associação Médico-Farmacêutica do Ceará – 1834; Centro Médico Cearense – 1913; Circulo Católico – 1913; Circulo dos Operários Católicos – 1915; Instituto Pasteur – 1918 e uma filial da Cruz Vermelha no Ceará – 1918.
Palacete Jeremias Arruda, sede atual do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, instituição criada pelo Barão de Studart em 1887.
Juntamente com Paulino Nogueira, Joaquim Catunda,
Antônio Bezerra e Thomaz Pompeu de Sousa
Brasil, fundou o Instituto do Ceará, em 4 de março de 1887, uma sociedade civil
que ainda hoje tem por finalidade o estudo da História Geográfica,
antropológica e ciências correlatas. O Barão de Studart presidiu o Instituto no
período de 1929 a 1938.
No dia 15 de agosto de 1894, participou da
instalação de outro marco cultural para o Estado: a Academia Cearense, que em
1922 foi reorganizada com o nome de Academia Cearense de Letras, do qual é
patrono da cadeira n° 11. Ao seu lado estavam Justiniano de Serpa, Farias
brito, Franco Rabelo e outros escritores.
Guilherme Studart morreu no dia 25 de setembro de
1938, deixando grande quantidade de documentos originais sobre o Ceará. Infelizmente
abandonado, grande parte foi destruída pelo tempo. Graças a iniciativa individual
de Raimundo Girão, alguns trabalhos foram salvos, em deplorável estado de
conservação, constituindo-se depois na “Coleção Studart”, do Instituto do Ceará.
extraído do livro "A História do Ceará Passa por Esta Rua"
de Rogaciano Leite Filho
fotos do Arquivo Nirez
fotos do Arquivo Nirez
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