quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os Comunistas no Ceará



Durante o truculento governo do presidente Artur Bernardes (1922-1926), quase todo em Estado de Sítio, a repressão atingiu em cheio o movimento operário no País. Após o encerramento do mandato de Bernardes, percebeu-se que a liderança da classe trabalhadora no Centro-Sul havia passado para os comunistas.  Em 1922 fora fundado no Rio de Janeiro o Partido Comunista Brasileiro – PCB – os quais começaram a buscar a unificação do movimento sindical brasileiro, então enfraquecido e disperso em várias associações e federações.
É do contato com essas lideranças nacionais que surgiriam a partir de 1926, os primeiros simpatizantes  do Partido no Ceará, os quais se reuniam na antiga sede da União dos Pedreiros do Ceará (próximo à Igreja do Coração de Jesus, em Fortaleza).
Em 1926 o recém-empossado presidente Washington Luís (1926-1930) baixou a autoritária Lei Celerada, cujo efeito prático foi o de por na ilegalidade o PCB. Daí o motivo pelo qual os comunistas, para driblar a repressão, começaram a fundar pelo país, organizações esquerdistas denominadas Bloco Operário e Camponês (BOC), que serviam de fachada para a militância. 
Foi por intermédio do BOC que se iniciou a atuação do partido no Ceará. No ano de 1927 o sindicalista José Joaquim de Lima, mais conhecido como Joaquim Pernambuco, foi ao Rio de Janeiro a fim de participar do Congresso da Confederação Geral do Trabalho – entidade concebida pelo PCB – de onde voltaria com a missão de organizar em Fortaleza o Bloco Operário e Camponês e, consequentemente, a seção cearense do Partido Comunista. Participaram ainda dessa empreitada José Borges da Silva, Antônio de Oliveira, Luis Gomes, Lúcio Sotero, José Francisco Mendonça, Antônio  Marcos Marrocos, Paulino de Morais, Clóvis Barroso e Lafite Barroso. 

 Manifestação cívica da União Operária Santa Tereza, formada pelos empregados da fábrica de tecidos Santa Tereza, em 1940, em Aracati (foto Diário do Nordeste).

Além do BOC fundado em Fortaleza em 1927, foram criados núcleos comunistas em Camocim, Aquiraz, Aracati e Quixadá, munícipios onde a economia não mais se limitava a atividades de subsistência. As três primeiras cidades, em graus diferentes, eram centros portuários, escoadoras de mercadorias para exportação, enquanto a última prosperava em função do comércio desde a construção do açude do Cedro, iniciada em 1884 e finda em 1906. 
 prédio onde funcionou o Centro Artístico Cearense, na esquina das avenidas Duque de Caxias e Tristão Gonçalves 

A propagação das ideias marxistas na década de 1920 entre o ordeiro e bem comportado operariado local assustou ainda mais os setores conservadores. Em meados de 1925, a Maçonaria (detentora da hegemonia do Centro Artístico Cearense) e a Igreja, que até então rivalizavam-se na disputa do movimento de trabalhadores locais, passaram a desenvolver uma aproximação tática, visando barrar a expansão comunista, como fica evidente na criação da Federação Operária Cearense, com o apoio daquelas instituições.

 Instituto Epitácio Pessoa em Fortaleza, sede da União dos Moços Católicos, que promovia conferências anticomunistas 

Lideres maçons e católicos começaram a comparecer juntos, por exemplo, por ocasião dos festejos do 1° de Maio, dentre outros eventos. O Centro Artístico torna-se palco de diversas conferências sobre a questão social, o que é inclusive, noticiado pelo jornal católico O Nordeste, como no caso da palestra ministrada em 1923, pelo advogado José Lino da Justa.
Com a mesma proposta de combate às esquerdas, a União dos Moços Católicos, promoveu exaustivas conferências anticomunistas em sindicatos e associações beneficentes.  A igreja incrementou a atuação dentro das fábricas, com as práticas de catequese e primeira comunhão dos operários. Os sermões nas paróquias, tendo como público alvo os trabalhadores, falavam de resignação e da pobreza como fonte de virtudes.  
  
 Camocim foi a primeira cidade do interior do ceará a possuir um comitê do Partido Comunista Brasileiro, inaugurado em 1927. Era conhecida como a Cidade Vermelha (foto jornal O Povo)
 
A tese é que os cearenses, cristãos e pacíficos, jamais poderiam adotar uma ideologia estrangeira, ateia e promotora de distúrbios e radicalismos. Passeatas foram organizadas pelos Círculos Operários Católicos com o sugestivo cântico “a fé católica do Ceará ao socialismo derrotará”. E a repressão ocorria. Jornais esquerdistas eram apreendidos. Em Camocim “a cidade vermelha” onde havia uma considerável mobilização do PCB, o líder sindical e comunista Francisco Teodoro Rodrigues foi preso em 1928 por ordem do delegado e prefeito locais, que proibiram a reunião dos trabalhadores. Rotineiramente a policia espancava socialistas, enquanto patrões os demitiam ou negavam emprego.
Com efeito, as pregações anticomunistas e o próprio domínio e repressão das oligarquias acabaram por limitar e reduzir a atuação e liderança do PCB no Estado. Apesar da radicalização ideológica esquerda/direita, os conservadores continuaram à frente do movimento operário, com suas pregações filantrópicas e de conciliação de classes. 
Isto fica evidente quando se percebe que a citada aliança entre Maçonaria e Igreja, apesar de suas bases frágeis, seria o alicerce para a criação em 1931 da Legião Cearense do Trabalho, a qual expressa muito bem a ideologia de extrema-direita e anticomunista no seio da classe operária do Ceará.


Fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias

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