Durante o truculento governo do presidente Artur Bernardes
(1922-1926), quase todo em Estado de Sítio, a repressão atingiu em cheio o
movimento operário no País. Após o encerramento do mandato de Bernardes,
percebeu-se que a liderança da classe trabalhadora no Centro-Sul havia passado
para os comunistas. Em 1922 fora fundado
no Rio de Janeiro o Partido Comunista Brasileiro – PCB – os quais começaram a
buscar a unificação do movimento sindical brasileiro, então enfraquecido e
disperso em várias associações e federações.
É do contato com essas lideranças nacionais que surgiriam a
partir de 1926, os primeiros simpatizantes do Partido no Ceará, os quais se reuniam na antiga
sede da União dos Pedreiros do Ceará (próximo à Igreja do Coração de Jesus, em
Fortaleza).
Em 1926 o recém-empossado presidente Washington Luís
(1926-1930) baixou a autoritária Lei Celerada, cujo efeito prático foi o de por
na ilegalidade o PCB. Daí o motivo pelo qual os comunistas, para driblar a
repressão, começaram a fundar pelo país, organizações esquerdistas denominadas
Bloco Operário e Camponês (BOC), que serviam de fachada para a militância.
Foi por
intermédio do BOC que se iniciou a atuação do partido no Ceará. No ano de 1927
o sindicalista José Joaquim de Lima, mais conhecido como Joaquim Pernambuco,
foi ao Rio de Janeiro a fim de participar do Congresso da Confederação Geral do
Trabalho – entidade concebida pelo PCB – de onde voltaria com a missão de
organizar em Fortaleza o Bloco Operário e Camponês e, consequentemente, a seção
cearense do Partido Comunista. Participaram ainda dessa empreitada José Borges
da Silva, Antônio de Oliveira, Luis Gomes, Lúcio Sotero, José Francisco Mendonça,
Antônio Marcos Marrocos, Paulino de
Morais, Clóvis Barroso e Lafite Barroso.
Manifestação cívica da União Operária Santa Tereza, formada pelos empregados da fábrica de tecidos Santa Tereza, em 1940, em Aracati (foto Diário do Nordeste).
Além do BOC fundado em Fortaleza em
1927, foram criados núcleos comunistas em Camocim, Aquiraz, Aracati e Quixadá,
munícipios onde a economia não mais se limitava a atividades de subsistência. As
três primeiras cidades, em graus diferentes, eram centros portuários,
escoadoras de mercadorias para exportação, enquanto a última prosperava em
função do comércio desde a construção do açude do Cedro, iniciada em 1884 e
finda em 1906.
prédio onde funcionou o Centro Artístico Cearense, na esquina das avenidas Duque de Caxias e Tristão Gonçalves
A propagação das ideias marxistas na década de 1920 entre o
ordeiro e bem comportado operariado local assustou ainda mais os setores
conservadores. Em meados de 1925, a Maçonaria (detentora da hegemonia do Centro
Artístico Cearense) e a Igreja, que até então rivalizavam-se na disputa do
movimento de trabalhadores locais, passaram a desenvolver uma aproximação
tática, visando barrar a expansão comunista, como fica evidente na criação da
Federação Operária Cearense, com o apoio daquelas instituições.
Instituto Epitácio Pessoa em Fortaleza, sede da União dos Moços Católicos, que promovia conferências anticomunistas
Lideres maçons e católicos começaram a comparecer juntos,
por exemplo, por ocasião dos festejos do 1° de Maio, dentre outros eventos. O Centro
Artístico torna-se palco de diversas conferências sobre a questão social, o que
é inclusive, noticiado pelo jornal católico O Nordeste, como no caso da
palestra ministrada em 1923, pelo advogado José Lino da Justa.
Com a mesma proposta de combate às esquerdas, a União dos
Moços Católicos, promoveu exaustivas conferências anticomunistas em sindicatos
e associações beneficentes. A igreja
incrementou a atuação dentro das fábricas, com as práticas de catequese e
primeira comunhão dos operários. Os sermões nas paróquias, tendo como público
alvo os trabalhadores, falavam de resignação e da pobreza como fonte de
virtudes.
Camocim foi a primeira cidade do interior do ceará a possuir um comitê do Partido Comunista Brasileiro, inaugurado em 1927. Era conhecida como a Cidade Vermelha (foto jornal O Povo)
A tese é que os cearenses,
cristãos e pacíficos, jamais poderiam adotar uma ideologia estrangeira, ateia e
promotora de distúrbios e radicalismos. Passeatas foram organizadas pelos Círculos
Operários Católicos com o sugestivo cântico “a fé católica do Ceará ao
socialismo derrotará”. E a repressão ocorria. Jornais esquerdistas eram
apreendidos. Em Camocim “a cidade vermelha” onde havia uma considerável
mobilização do PCB, o líder sindical e comunista Francisco Teodoro Rodrigues
foi preso em 1928 por ordem do delegado e prefeito locais, que proibiram a
reunião dos trabalhadores. Rotineiramente a policia espancava socialistas,
enquanto patrões os demitiam ou negavam emprego.
Com efeito, as pregações anticomunistas e o próprio domínio
e repressão das oligarquias acabaram por limitar e reduzir a atuação e
liderança do PCB no Estado. Apesar da radicalização ideológica esquerda/direita,
os conservadores continuaram à frente do movimento operário, com suas pregações
filantrópicas e de conciliação de classes.
Isto fica evidente quando se percebe
que a citada aliança entre Maçonaria e Igreja, apesar de suas bases frágeis,
seria o alicerce para a criação em 1931 da Legião Cearense do Trabalho, a qual
expressa muito bem a ideologia de extrema-direita e anticomunista no seio da
classe operária do Ceará.
Fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias
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