terça-feira, 2 de julho de 2024

O Forte Holandês

 

O comandante holandês Mathias Beck, tendo desembarcado na enseada do Mucuripe, decidiu estabelecer-se à margem esquerda de um riacho, que alguns nomeavam de Marajaitiba, outros chamavam de Pajeú, ali construindo um forte que chamou de Schoonenborch, em homenagem ao então governador de Pernambuco. O desenho do forte coube ao engenheiro Ricardo Caar, que tendo examinado as condições do forte levantado na Barra do Ceará, optou pela construção de um novo, em novo local, levando em conta que, em caso de cerco, o riacho próximo asseguraria o suprimento de água, o que não acontecia no forte da Barra do Ceará, que, ficando a alguma distância do rio, seria facilmente interceptável em caso de ataque.


 Forte de São Sebastião. Fonte: Montanus, 1671

A segunda ocupação holandesa no Ceará durou cinco anos, retirando-se em os invasores em 1° de junho de 1654, dando cumprimento ao tratado de paz celebrado entre Portugal e Holanda. Antes, o comandante Matias Beck fez a entrega do Schoonenborch ao capitão português Álvaro de Azevedo Barreto, no dia 20 de maio daquele ano.


planta do forte Schoonenborch depois Nossa Senhora da Assunção (imagem Internet)

O forte foi aproveitado pelos portugueses apenas com a modificação do nome e algumas obras de reparo, passando a ter o patrocínio de Nossa Senhora da Assunção. A nomeação do comandante Álvaro de Azevedo Barreto, fora confirmada por Ordem Régia de 23 de novembro de 1654, mas, em 13 de setembro do ano seguinte, o rei Dom João IV expediu patente a Domingos de Sá Barbosa para capitão da Fortaleza do Ceará, de onde se presume que tenha sido específica a nomeação de seu antecessor, restringindo-se a executar o tratado de paz com a Holanda, ao recebimento do forte Schoonenborch.

Depois o forte passou pelo comando de diversos capitães. Por essa época, os direitos sobre a Capitania do Ceará foram reclamados por João de Melo Gusmão, que se prontificou a povoá-la, e o rei Dom Afonso IV o nomeou para comandar o forte em 1660. Pode assumir o posto somente depois de três anos, e faleceu logo depois. Tendo sido o primeiro a trazer sua família, composta de mulher e três filhas para o Ceará, provavelmente com o propósito de aqui permanecer.

Para suceder ao capitão falecido, foi nomeado João Tavares de Almeida, que reconstruiu o forte, que se encontrava quase que em ruínas, atribuída à inexistência de comandante durante alguns anos; exerceu o cargo duas vezes , antes e depois de Jorge Correia da Silva, a quem coube combater , em princípios de 1672, os índios Paiacus.

Com a vacância devido ao falecimento de João Tavares de Almeida, o forte sofreu grandes avarias, sendo reedificado por Bento Correia de Figueiredo, comandante nomeado pelo governador e capitão-general de Pernambuco, mas preterido na escolha real, pelo homônimo Bento de Macedo de Faria, sobre quem recairiam acusações de conivência com contrabandistas holandeses, e por Sebastião de Sá, , este aliás, anteriormente, porém outra vez investido no comando, coube reconstruir o forte do Pajeú, inclusive a ermida.

Em seguida exerceu o comando Tomás Cabral de Olival, de cuja passagem pelo Ceará, pouco ou nada existe a assinalar. Merecendo, no entanto, maior relevância que Pedro Lelou, nomeado após ele, mas impedido de tomar posse, por estar sendo processado. Interinamente, Fernão Carrilho se saiu muito bem, vencendo os Paiacus e aldeando Anacés, e Jaguaribaras nas proximidades do forte.

Depois de empossado, Pedro Lelou não tardou que os moradores representassem contra ele, por excessos cometidos, e foi repreendido pelo próprio rei por ter criado postos no distrito do Ceará contra as ordens existentes. O maior serviço prestado por esse governante, foi ter escrito ao monarca em 1696 sugerindo a criação da primeira vila em território cearense.

Comandaram ainda o forte de Nossa Senhora da Assunção, em fins do século XVII, Fernão Carrilho e Francisco Gil Ribeiro. Os holandeses ao preferirem localizar o forte à margem do Marajaig, sobre o barranco ali existente, anteciparam-se aos portugueses no cumprimento de uma recomendação que o governador do Maranhão, Francisco Coelho fizera em carta de 6 de fevereiro de 1627, ao rei Felipe IV.


Extraído do livro “A Capital do Ceará”, de Geraldo da Silva Nobre.      

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