Os partidos políticos do Ceará originaram-se das
revoluções libertárias realizadas no Nordeste, revoluções que a muito custo
conquistaram a identidade histórica e a formação do caráter político da
sociedade cearense. A partir delas, a aristocracia rural se organizou em
partidos políticos dirigidos pelas famílias proprietárias dos mais importantes
domínios de terra da Província.
O primeiro partido político propriamente dito do
Ceará, o Partido Republicano, surgiu na Revolução Pernambucana de 1817, quando,
liderado pela família Alencar, ocorreu a Proclamação da República, no Crato.
Posteriormente, uniu-se a esse Partido Republicano, o Partido Constitucional,
no tempo em que a família Castro, do Aracati, ascendia na política da
Província.
vista panorâmica do Crato (foto IBGE)
Durante o movimento da Independência do Brasil
formaram-se dois partidos: o Patriota – favorável à separação do Brasil de
Portugal, e o Corcunda – constituído em sua maioria por portugueses, contrários
à independência do Brasil. Nesse cenário firmou-se na política da Província, a
abastada família Fernandes Vieira, conhecido por Carcará, como referência a sua
propriedade.
Os Carcarás, liderados pelo futuro Visconde do Icó uniram-se aos
Castro, no partido Corcunda. No tempo da República do Equador, o Partido
Corcunda tornou-se Partido Imperialista e o Patriota identificou-se com o
Partido Republicano. Este último foi extinto depois da execução dos seus
líderes revolucionários, no município de Santa Rosa e no Campo da Pólvora,
atual Praça dos Mártires em Fortaleza.
bandeira da Revolução Pernambucana de 1817 (imagem wikipédia)
Esses movimentos
políticos foram consequentes a transformações mais amplas nas esferas
econômica e social ocorridas no mundo.A Revolução Pernambucana de 1817 iniciou-se na elite
de Recife com a participação de grandes proprietários rurais do Estado. O clero
teve participação ativa, apregoando as ideias iluministas e liberais europeias,
importadas para o Seminário de Olinda.
José Martiniano de Alencar |
José Martiniano recebeu o apoio de sua mãe, Dona
Bárbara de Alencar, de seu tio, o Capitão Leonel Pereira de Alencar, de seu
padrinho, o vigário do Crato, Miguel Carlos da Silva Saldanha, de seus irmãos
Tristão e Carlos e numerosa parentela.
Casa na Villa do Crato, onde nasceu Bárbara de Alencar
A Revolução Pernambucana foi uma das únicas revoluções antes da Independência,
em que os revoltosos assumiram temporariamente o poder político. Apesar de sua
existência efêmera e da derrota dos insurretos, a Revolução Pernambucana que
durou 75 dias em Pernambuco e 8 dias no Ceará, teve repercussão no movimento
constitucionalista de 1821, na campanha da Independência de 1822 e na
Confederação do Equador, de 1824.
A proclamação da Independência do Brasil não teve
aceitação unânime na ex-colônia portuguesa, acirrando a antiga rivalidade entre portugueses e brasileiros. Muitas províncias
governadas por juntas dominadas por portugueses não aceitaram a separação do
Brasil de Portugal. Nutriam a esperança de um retorno ao colonialismo, visto
que D. Pedro I continuava sendo herdeiro do trono português.
Integrando o governo provisório cearense, Tristão
Gonçalves e Pereira Filgueiras chefiaram a Junta Expedicionária que exigiria a
rendição da Província do Maranhão, em 1823. Enquanto Tristão Gonçalves batalhava pela autonomia
política brasileira, seu irmão José Martiniano de Alencar representava o Ceará
na Constituinte aberta em 3 de maio de 1823, com o propósito de organizar o
novo Estado Brasileiro.
Numa atitude despótica o novo imperador dissolveu a
Constituinte seis meses depois de tê-la instalado, outorgando uma Constituição –
a primeira constituição brasileira imposta de cima para baixo – em 25 de março
de 1824. Esta, de inspiração europeia, impedia a participação
da maioria da população, diminuindo o poder político das províncias,
concentrando-o nas mãos do imperador.
Deixando a Corte no Rio de Janeiro, Martiniano de
Alencar passou por Recife em dezembro de 1823. Retornando ao Ceará, os irmãos
Alencar encontraram um governo desmoralizado e o descontentamento dos liberais
com o absolutismo imperial – grande impulsionador do novo movimento
revolucionário.
No dia 26 de agosto de 1824, Tristão Gonçalves,
então presidente temporário da Província do Ceará, reuniu o Grande Conselho no
Palácio Presidencial. Com a presença de representantes de todas as Câmaras do
Ceará, do Clero, dos Corpos Militares e dos Colégios Eleitorais. Foi aprovada,
por unanimidade, a anexação do Ceará à Confederação do Equador.
O Ceará foi a última província a render-se. Quase
só, abandonado por seus companheiros, Tristão Gonçalves foi morto, lutando
contra os inimigos, no dia 31 de outubro de 1824, no município de Santa Rosa. Ao
contrário da revolução Pernambucana, na qual não se derramou sangue cearense,
na Confederação do Equador houve muitos sacrifícios de vidas humanas. O imperador,
inflexível, não concedeu a anistia prometida pelo inglês Lord Cochrane, que
comandou a repressão do movimento separatista.
Praça dos Mártires em 1943 |
Extraído do livro
Ideal Clube – História de uma sociedade: memórias, documentos, evocações. De Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos arquivo Nirez
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