sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero


População (IBGE, estimativa 2011) - 252.841 habitantes
Área da unidade territorial  - 248,223 Km²
Densidade demográfica – 1.006,91 hab/Km²
Limites:
Norte – Caririaçu
Sul: Barbalha;
Leste: Missão Velha;
Oeste: Crato.
Distância de Fortaleza – 533 km
Localização:
microrregião Cariri
mesorregião Sul Cearense  

centro da cidade década de 30
foto do site:  http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=903370

Em 1827 foi erigida uma capelinha, pelo Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, no local denominado Tabuleiro Grande, em frente a um frondoso juazeiro, na estrada real que ligava Crato a Missão Velha, à margem direita do rio Batateira. Esta é a origem de Juazeiro do Norte. A denominação deve-se justamente à árvore, notável por manter-se verdejante no rigor das maiores secas.
A pequena capela foi consagrada a Nossa Senhora das Dores, padroeira do Município, a quem o Padre doou, como patrimônio, as suas terras e onze escravos. O povoado não teve grande desenvolvimento até que a 11 de abril de 1872, lá chegou o Padre Cícero Romão Batista, como sucessor do Padre Pedro Ferreira de Melo. O pequeno núcleo contava, então, com 12 casas de tijolos e 20 de taipa e palha. 

Igreja de Nossa Senhora das Dores
foto do site: http://www.panoramio.com/photo/70763317, por Eduardo Câmara 

Com relutância, apenas para atender a convite dos amigos, Padre Cícero foi a Juazeiro do Norte celebrar a missa de Natal de 1871. Não tinha a menor intenção de ficar – mas acabou ficando mais 60 anos. 
O motivo da permanência, segundo o padre, fora um sonho. Após um dia exaustivo em que passara horas a fio confessando moradores do arraial, Padre Cícero se recolheu a sala da pequena escola onde estava provisoriamente alojado. Ali adormeceu  e teve a “visão” que mudou drasticamente sua vida. Sonhou que Jesus Cristo e os 12 apóstolos entravam na sala, acompanhados de um grupo de sertanejos maltrapilhos. Cristo então comentava as ofensas de que vinha sendo vítima, prometendo um último esforço para salvar o mundo. Para tal, pedia que o padre o ajudasse, cuidando dos sofredores dos sertões. Padre Cícero acordou espantado, mas logo concluiu que o sonho fora uma ordem do Messias e que deveria se fixar em Juazeiro para ajudar os necessitados.

Juazeiro nas antigas
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=903370

A 11 de abril de 1872 mudou-se para o povoado, levando mãe e irmãs, tornando-se em pouco tempo, uma figura amada e estimada na região. Com escassos recursos e esmolas, restaurou e ampliou a Igreja de Nossa Senhora das Dores, desenvolvendo grande trabalho pastoral. Visitava os sítios, ensinava receitas de remédios caseiros e noções de higiene ao povo humilde e sem instrução, pregava constantes missões, coordenava novenas, terços, e procissões, multiplicava as festas religiosas.
À medida que a fama do padre Cícero se espalhava, o povoado ia crescendo em população, multidões dirigiam-se ao lugarejo. Depois da divulgação do “milagre”, no qual uma beata sangrava pela boca todas as vezes que recebia a hóstia, a cidade inchou de maneira espetacular. 

 Igreja de Nossa Senhora das Dores, em sua primeira reforma de 1928
foto do site: http://lucianopaixaopelojuazeiro.blogspot.com.br

Paralelamente à questão religiosa outro milagre desenvolveu-se em Juazeiro, de consequências socioeconômicas importantes e provocadas por Padre Cícero. Enquanto milhares de nordestinos migravam para os cafezais do Sudeste brasileiro e, sobretudo para a Amazônia, provocando uma escassez crônica de mão-de-obra no final do século XIX e início do seguinte, o Cariri surgia como uma das poucas regiões do sertão que adquiriam, em vez de perder, capital humano.
O Padre, na intenção de ajudar os romeiros que não paravam de chegar a Juazeiro, mandava-os comprar ou arrendar as terras dos latifundiários caririenses, mandando os camponeses cultivar os solos locais ainda virgens, em especial nas serras do Araripe e de São Pedro, e viver sob sua proteção espiritual. 
Não tardou, dessa forma, que os planaltos da chapada fossem subjugados pela enxada dos romeiros. Eram de tal forma numerosos os que se dirigiam à região que acabaram transformando o apagado município de São Pedro numa cidade florescente que ficou conhecida como a cidade dos afilhados do Pe. Cícero.
Com isso há uma impressionante produção de excedentes de alimentos no Vale do Cariri. As feiras locais ficavam abarrotadas de produtos agropastoris que passaram a ser exportados para outras partes do Estado e para Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, confirmando ao Cariri o título de “celeiro do Ceará”.   
Por iniciativa de Padre Cícero foi introduzida na área a produção de borracha de maniçoba; o algodão, cuja cultura estava em decadência volta a expandir-se entre 1908 e 1911, logo depois do patriarca ter adquirido uma das primeiras máquinas de descaroçar algodão, movidas a vapor. Aumentou o número de casas de farinha e engenhocas, fabricando rapadura, cachaça e açúcar.  

 centro de Juazeiro - 1962 (acervo IBGE)

Independentemente da polêmica sobre a questão religiosa, talvez o grande milagre de Padre Cícero foi ter transformado, em poucos anos, o pequeno povoado de Juazeiro, no mais importante centro do Cariri, ultrapassando cidades tradicionais como Missão Velha, Crato, e  Barbalha. 
Vale ressaltar, não obstante, que o crescimento de Juazeiro se realizava com as injustiças típicas do capitalismo, existindo uma pequena quantidade de ricos e um gigantesco número de pobres e miseráveis. Na Nova Jerusalém, na cidade do Padre Cícero, cresciam os contrastes sociais. E não só isso: em pouco tempo começaram a surgir rivalidades entre os nativos e os novos moradores, em geral romeiros que decidiram ganhar a vida em Juazeiro, abrangendo desde ricos comerciantes a humildes roceiros – estes forasteiros, com o tempo se tornaram a maioria da população.
O desenvolvimento juazeirense iria levar sua elite a pensar em emancipar-se da subjugação administrativa ao Crato. Esse seria mais um episódio em que Padre Cicero teria crucial participação, evidenciando sua condição de líder político. 
Apesar de toda pujança econômica, Juazeiro era ainda um simples distrito do Crato. Assim desenvolveu-se entre os dois núcleos uma certa rivalidade, pois os cratenses viram perder sua hegemonia no Cariri e os juazeirenses almejavam um poder político condizente com o crescimento econômico. 


dia de feira em Juazeiro - 1962 (acervo do IBGE)

A elite da meca do Cariri iniciou então forte campanha emancipacionista, a qual contou até com a fundação do Jornal o Rebate, em 1909. A pressão pela autonomia foi intensa, com passeatas, atos públicos e envio de cartas e telegramas por Padre Cícero ao presidente Nogueira Accioly, que cauteloso, nada decidia, temendo perder correligionários no Crato. Travou-se grande batalha pela imprensa, com ataques pessoais entre figuras iminentes das duas comunidades - nem Padre Cícero foi poupado. 
Em 1910 o Crato a pretexto de recolher impostos enviou um batalhão de polícia para Juazeiro. Em meio a grande tensão, o lugarejo mobilizou homens armados para um provável confronto, que acabou não ocorrendo. Contando com a ajuda de outros municípios da região, Juazeiro iniciou um boicote fiscal e deixou de recolher os impostos. 

Rua São Pedro, centro da cidade
foto do site  http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482326

Por fim, a 22 de julho de 1911, Nogueira Accioly, pressionado, fez a Assembleia Legislativa aprovar uma lei concedendo autonomia municipal a Juazeiro. Foi uma jogada astuta do velho oligarca, pois garantiu o apoio eleitoral de juazeiro (já então um dos maiores redutos do estado), onde os moradores seguiriam a orientação do seu padrinho Padre Cícero. 
Nomeado Intendente do novo município, uma das primeiras medidas do Padre Cícero foi  reunir os chefes políticos da região para apoiar Nogueira Accioly, pois no ano seguinte haveria eleições para o governo. Era o famoso Pacto dos Coronéis, um dos documentos mais significativos da história do coronelismo no Brasil.
No dia da pomposa festa de emancipação oficial do municio de Juazeiro, 4 de outubro de 1911, reuniram-se as 17 lideranças do vale, os quais assinaram e registraram em cartório o tal pacto.  

Bairro Lagoa Seca, o mais nobre da cidade
foto do site:http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482326  

Formação Administrativa

Distrito criado com a denominação de Núcleo de Juazeiro, pelo ato de 30-07-1858, e por lei municipal nº 49, de 12-11-1911, subordinado ao município de Crato.
Elevado à categoria de vila com a denominação de Juazeiro, pela lei estadual nº 1028, de 02-07-1911, desmembrado do município do Crato. Sede no atual distrito de Juazeiro ex-Núcleo de Juazeiro. Instalado em 04-10-1911. 
Elevado à condição de cidade com a denominação de Juazeiro, pela lei estadual nº 1178, de 23-07-1914. Pelo decreto estadual nº 1114, de 30-12-1943, retificado em virtude do parecer de 14-06-1946 do Conselho Nacional de Geografia, o município de Juazeiro passou a denominar-se Juazeiro do Norte.
Em divisão territorial datada de 1-07-1986, o município é constituído de 3 distritos: Juazeiro do Norte, Marrocos e Padre Cícero. 

Alteração toponímica municipal

Juazeiro para Juazeiro do Norte alterado, pelo decreto estadual nº 1114, de 30-12-1943, retificado em virtude do parecer de 14-06-1946 do Conselho Nacional de Geografia.


fontes:
História do Ceará, de Aírton de Farias
IBGE
Wikipédia

Nenhum comentário:

Postar um comentário