A Estrada Geral do Jaguaribe partia de Aracati, um antigo
porto de barcos, que se tornaria o mais destacado empório comercial da Capitania.
Cortando inúmeras fazendas e currais, dirigia-se à região meridional do Ceará,
na Chapada do Araripe, continuando até as terras pernambucanas. Essa estrada
tornou-se a mais importante via de acesso aos sertões do Ceará colonial.
A progressiva conquista dos sertões fez-se de espaço a
espaço, à força bruta, com as famílias seguindo os rastros do gado vacum. Os
colonos adentravam regiões ainda virgens – os sertões de fora – nas zonas
litorâneas, vindos do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, e nos –
sertões de dentro – aqueles mais interiorizados, oriundos da Bahia e Sergipe.
Os primeiros desbravadores das terras na ribeira do Jaguaribe
foram os sesmeiros de 1681. Quinze nomes dos chamados “Homens do Rio Grande do
Norte”, provavelmente parentes entre si, obtiveram sesmarias ao longo do Rio
Jaguaribe, indo do Aracati ao Boqueirão do Cunha, no alto sertão.
Rio Jaguaribe na cidade do mesmo nome
Entre essa gente, dotada de “civilidade e polidez” estava a
família Gracismã, cujo patriarca, o Comissário-de-Cavalaria, Teodósio de
Gracismã é tido como um dos primeiros povoadores da ribeira do Jaguaribe, já
residindo nessa região em 1683. Alguns historiadores consideram Teodósio de Gracismã
descendente e provavelmente, filho do holandês Joris Garstman que na ocupação
flamenga desempenhou relevante papel no Nordeste brasileiro.
O tenente-coronel
Garstman foi em seu tempo, a maior autoridade holandesa do Castelo de Keulen,
depois Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte. Por ordem de Mauricio de
Nassau, conquistou o Ceará na campanha de 1637. Era de sua propriedade o
Engenho do Cunhaú, comprado por 60 mil florins em 1637, em terras potiguares e
que marcou a história colonial pelo hediondo massacre nele realizado contra
seus moradores, pelos índios comandados por Jacob Rabi. Garstman deixou descendência
no Brasil, de seu casamento com uma portuguesa, possivelmente da família Abreu,
antes de 1640.
Aracati - início do século XX
São os Gracismã ascendentes dos Costa Lima – fundadores do
Aracati – dos Pontes Vieira, dos Nogueira Borges da Fonseca, dos Dias da Rocha,
dentre outros. Entre Aracati e Icó outras sesmarias foram doadas aos
descendentes de Jerônimo de Albuquerque, o Adão Pernambucano, pai de 35 filhos
conhecidos e cadastrados como ascendentes da maior parte das antigas famílias
nordestinas.
Os Albuquerque, os Cavalcante, os Holanda, e outros se encontram
registrados desde aqueles primeiros tempos, no maior documento genealógico do
Nordeste brasileiro, a Nobiliarquia Pernambucana de Borges da Fonseca.
Destacam-se velhos troncos coloniais: Porto Saboia – de origem italiana,
Figueiredo, Caminha, Castro e Silva, Barbosa, Alves Ribeiro, Antunes de
Oliveira, Fidelis Barroso, Pamplona, Amorim Garcia, Costa Barros, Nogueira,
Ribeiro, Bessa, Maciel, Gurgel do Amaral, Barreto, Ferreira, Pereira de Brito,
Pinheiro, Bezerra de Menezes, Uchoa, Carvalho, Lira, Pereira, e muitos outros
ligados ao povoamento daqueles territórios. Segundo o historiador Carlos Xavier
Paes Barreto, a família Bandeira de Mello é uma das mais antigas do Brasil. “Com
Duarte Coelho, 1º Donatário de Pernambuco, vieram seus primos, Felipe e Pedro
Bandeira de Melo”.
No Boqueirão dos Cunha estabeleceu-se no final do século
XVII, a família do fidalgo português Pereira da Cunha, mais tarde ligado aos
Alencar. Luciano Cardoso de Vargas, deixou incontável descendência espalhada
pelas terras jaguaribanas. A esta se vincularam os Vidal de Negreiros, e os
Leitão Arnoso, que constituem a linhagem materna da família Gadelha.
Exercendo a medicina, na qual era licenciado, dono de botica
e de colégio em que estudavam os rapazes ricos do sertão, Luciano Cardoso de
Vargas residiu com sua mulher Maria Maciel de Carvalho, no arraial de São João,
na zona jaguaribana. Este casal foi ascendente da família Sombra – de Russas e
Maranguape – Vieira da Costa, Ramalho, Maia, Alarcon, Monteiro de Oliveira, Gondim, Nascimento, Caracas, Fiuza Pequeno, Campos, Cabral, Monteiro do
Nascimento, Almeida e Castro, Pires e Maia – de Russas, Pinto Lopes, Guerreiro,
Chaves, Lessa e Paula Pessoa.
Região de caatinga esparsa com casas de
adobe na margem da estrada e, ao fundo, a Serra de Camará que faz divisa
entre Jaguaribe e Icó.
Os Távora descendem do sargento-mor Manoel Peixoto da Silva
Távora, que obteve sesmaria nas adjacências do Rio Jaguaribe em 1723, deixando
numerosa linhagem. O sargento-mor, alcunhado de Peixotão por sua compleição
física avantajada, figura na citação de Gustavo Barroso, ao lado do Domingão de
Guaiuba, como os gigantes do Ceará Antigo, “tão avantajados no físico quanto no
moral”.
Na região de Morada Nova, radicaram-se os Ferreira, os
Correia Vieira, os Gomes Barreto, os Rodrigues Machado, os Girão, os Pimenta de
Aguiar, os Rocha Pitta, os Carneiro de Souza.
Os Feitosas foram os primeiros habitantes do médio Jaguaribe
e ficaram famosos no tempo do Ceará Colonial por suas contendas com os Montes.
Essas duas famílias, a primeira originária de Pernambuco e a segunda de
Alagoas, passaram a morar no Ceará nos 10 últimos anos do século XVII, nas
imediações de Icó – nesse tempo um arraial quase despovoado. A disputa entre os dois poderosos clãs dividiu a
administração da capitania, quando a Câmara era sustentada pelos Montes e a
Ouvidoria pelos Feitosas.
No Icó radicaram-se também os Ferreira Lima, os
Mendonça, os Fernandes Vieira, os Leal, os Fiuza, os Bastos de Oliveira, os
Pinto Bandeira, os Pinto Accioly, e os Pinto Nogueira. Conforme registro de Raimundo Girão, esses últimos Pinto eram
os irmãos José Vitorino e Joaquim Pinto Nogueira, portugueses, moradores em
Olinda, que atraídos por interesses comerciais vieram para o Icó e ali
enriqueceram. Seu estabelecimento viria a ser a melhor loja de fazendas e
armarinhos, ferragens e louças que já se conheceu nos sertões do Ceará.
No Cariri se estabeleceram as famílias Alencar, Gonçalves,
Sampaio, Arnault, Figueiredo Pereira e Bezerra de Menezes. Entre os
representantes da corrente baiana cita-se Antônio de Sousa Goulart bisavô da heroína
Bárbara de Alencar, bandeirante que servia à poderosa casa dos Garcia D’Ávila. A
família dos Garcia D’Ávila, uma das mais poderosas do Brasil colonial, desbravou
o sertão nordestino por mais de dois séculos.
Para o Cariri a cana de açúcar veio logo com os primeiros
povoadores, dentre esses, Antônio de Sousa Goulart, que desde 1718, moía cana
em seu engenho, no Sitio Salamanca, certamente o primeiro engenho plantado no Cariri.
Composto na época pelas terras dos sítios Lambedor, Lama e Brito, Salamanca deu
origem à cidade de Barbalha.
Cortando a bacia do Jaguaribe, a Estrada Nova das Boiadas
estendia-se do Piauí até Pernambuco. Era a corda de um imenso arco formado pelo
velho caminho que beirando o mar, unia Camocim ao Recife. Essa Estrada Nova
concorreu para povoar a zona interiorana cearense, com moradores das capitanias
vizinhas, reforçando assim, o isolamento, por muito tempo, da Fortaleza de
Nossa Senhora da Assunção. Este longo percurso bipartia-se em Quixeramobim: o
caminho do Cavalo Morto levava a Crateús e daí para o Piauí; o outro, tomando o
rumo noroeste, chegava-se a Sobral.
Em Quixeramobim estabeleceram-se os Ferreira Santiago, os
Ramalho, os Souza Pimentel, os Araújo, os Maciel, os Saraiva Leão, e mais
tarde, os Câmara, vindos do Rio Grande do Norte. Em Quixadá floresceram as famílias Lemos de Almeida e
Queiroz, Facó, Barreiras, Marinho Falcão, Barreira Nanan, e Ferreira da Mota.
Na zona sobralense salientou-se a descendência de Manoel Vaz
Carrasco, pai das lembradas sete irmãs, origem das famílias Montenegro, Góes,
Gomes de Sá, Vasconcelos, Aguiar Oliveira, Porto, Ferreira da Ponte, Alves
Linhares, Araújo Costa, Uchoa, Prado e Parente. Nessa zona fixaram-se os Monte,
os Xerez, os Lopes Freire, os Frota, os Filgueiras de Melo, os Furtado de Mendonça
e os Rodrigues Lima.
Varando os tabuleiros agrestes, aqui e ali reverdecidos pelos
aluviões dos riachos, a Estrada da Caiçara levava à orla marítima os moradores
da ribeira do Acaraú, projetando-se também para o interior, em direção às
terras ressequidas de Santa Quitéria. Deixou grande descendência no Vale do
Acaraú, Manoel Ferreira Fonteles.
Em Santa Quitéria vicejou o clã dos Pinto de
Mesquita. Nos sertões de Crateús, residiam os Mello – apoiados pelos Feitosas –
e os Mourão – aliados aos Carcará, disputando o poder da região. Também ali
residiam outras famílias que povoaram as fronteiras do Ceará com o Piauí,
gerando guerreiros e pastores, vaqueiros, políticos e intelectuais.
Carta Geográfica do Seara. Fonte: Arquivo Histórico do Exército – Divisão de História
As missões dos padres jesuítas tiveram importante papel na
colonização dos silvícolas. O aldeamento das vizinhanças do Forte se deu em
missões situadas no Arronches (Parangaba), Paupina (Messejana), Monte-Mor, o
Velho (Pacajus) e Soure (Caucaia). Outras se formaram mais para o interior. Cada
aldeamento ocupava espaçosa praça diante de uma igreja. Essas praças ainda
podem ser identificadas em muitas cidades, como Baturité, Quixeré, Parangaba,
Messejana, Caucaia, Iguatu, Viçosa, Crato, Barbalha, Missão Velha, Missão Nova
e outras.
Fonte:
Ideal Clube – história de uma sociedade: memórias, documentos
e evocações, de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do acervo do IBGE
fotos do acervo do IBGE
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