domingo, 17 de novembro de 2013

Almofala - Terra dos Tremembés

A incrível história da Igreja de Almofala

aparência atual da Igreja de Almofala

Almofala é um pequeno povoado localizado no litoral norte do Ceará, a cerca de 280 km de Fortaleza, no município de Itarema. Almofala é palavra de origem árabe, vem de Al-Mahalla (acampamento).
A localidade está inserida em uma belíssima paisagem de dunas e cajueiros. O início da ocupação da região onde hoje se situa Almofala, remonta ao fim do século XVII, quando a Carta-Régia do Governo de Portugal , de 08 de janeiro de 1697, deu de sesmaria aos índios Tremembés as terras entre a barra do Rio Aracati-Açu. Sua doação objetivou fixar os indígenas – que vagavam pela costa – em aldeias permanentes.





Em 1712 foi concluída a construção da igreja de Almofala levantada pelas antigas missões jesuítas sob a invocação de N. S. da Conceição.
No início de 1898, em razão da  constante força dos ventos, as dunas avançaram sobre a povoação dos Tremembés e lentamente,  foram soterrando a Igreja de Almofala. O templo esteve quase meio século inteiramente coberto pela areia, até começar a aflorar, vagarosamente, daquele imenso areal, sua única e bela torre setecentista, moçárabe, até descobrir-se por inteira, com suas volutas, nichos, seu crucifixo de ferro  para a luz.
Em 1943 foi celebrada a primeira missa em regozijo à sua ressurreição. Em 18 de abril de 1980, a igreja N.S. da Conceição de Almofala, foi reconhecida como Monumento Nacional.

Terra dos Tremembés


Índios Tremembés de Almofala 

A população de Almofala nos dias atuais ainda é composta em sua maioria por descendentes dos índios Tremembés e alguns poucos indivíduos brancos, provindos dos europeus (seriam, segundo o etnólogo Tomás Pompeu Sobrinho, derivados da Terceira Corrente Migratória oriunda da Sibéria, que alcançou o Novo Mundo pelo Estreito de Bering, durante o período que vai do 4° ao 3° milênio A.C. Esses povoadores contornaram o litoral americano do Pacífico e do Atlântico Sul seguindo rumo norte). 



Gente de aparência mongólica relacionada com os povos do oriente asiático (os imigrantes da Terceira Corrente) adaptou sua cultura de fundo marinho ao novo habitat. Em vez de focas ou lobos marinhos, os Tremembés caçavam as grandes tartarugas e os terríveis esqualos encontrados nas costas do Maranhão ao Ceará. Moravam em choças semi-subterrâneas, circulares, com teto coberto de areia. Possuíam uma cerâmica grosseira e haviam domesticado o cão.


O Projeto Tamar atua em Almofala em defesa das tartarugas-verdes que habitam a região e buscam suas águas para alimentação, desenvolvimento e descanso. 

Ancestrais desses ameríndios habitaram o litoral sul do Brasil e somente no início do século XVI a área de dispersão dos Tremembés estendia-se por todas as praias e estuários cobertos de mangues, do Maranhão, Piauí e Ceará.
Constituíam uma entidade linguo-cultural autônoma, conclusão a que chegaram vários especialistas após muita controvérsia. Eram povos turbulentos, robustos, de semblantes desconfiados e violentos. Consumados nadadores e excelentes remadores foram apelidados de "peixes racionais". Várias expedições mandadas às praias dos Tremembés pelos administradores das capitanias do Maranhão e do Ceará, com o fim de exterminá-los, tiveram seus navios afundados por estes indígenas.


índios Tremembés de Almofala dançando o Torém

Como armas empregavam a lança, o arco, a flecha, a clava e machados de pedra semilunares, de gume curvilíneo e base cônica, muito bem polidos e afiados. A confecção desses machados obedecia a um ritual realizado durante a lua crescente, pois acreditavam que combatendo com essas armas jamais seriam vencidos.  
Os descendentes dos Tremembés conservaram alguns costumes e tradições de seus ancestrais e, embora incorporados à sociedade maior, constituem um grupo à parte, diferenciado nas relações sociais. Ainda por lá se canta e dança o Torém, manifestação do ethos tribal em estado de transição para o folclore – que em todo o Ceará, é realizada apenas em Almofala.


 Cemitério de Almofala

O Torém é uma pantomímica, transmitida oralmente de pai para filho, que remonta aos primitivos habitantes do Ceará. Já perdeu seu significado original e sua função, hoje se constituindo numa dança diversional.  Seus versos misturam palavras de origem Tremembé, tupi e portuguesa,  e embora utilizem formas sincréticas do folclore regional, conservaram suas características mais marcantes. 
Os "Tiradores" do Torém efetuam a dança em ocasiões especiais: na colheita do caju – época do mocororó (suco de caju fermentado, usado em substituição ao “cauim”)ou quando solicitados, mediante certa gratificação pecuniária.


fotos da Igreja de N.S.da Conceição gentilmente cedidas por Erikson Salomoni  
fonte:
O Ceará dos Anos 90 - Censo Cultural


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