Palácio da Luz, residência oficial dos governadores do Ceará entre 1809 e 1963 (foto do arquivo Nirez)
Entre 1914 até 1930 nenhuma das oligarquias tradicionais
dominou monoliticamente o Ceará. Ao contrário, com a fragilidade estrutural das
classes dominantes cearenses, houve um equilíbrio oligárquico, levando à
formação constante de alianças e coalizões na escolha da maioria dos
governadores desse período. Isso fica evidente na escolha do sucessor de
Liberato Barroso (eleito em 1914 para os dois anos restantes do mandato de Franco Rabelo).
Diante do impasse na indicação de um nome, as diversas
facções políticas acabaram por realizar um acordo, escolhendo um governante
técnico, sem vínculo direto com nenhum dos grupos políticos, o então pouco
conhecido João Tomé Sabóia e Silva (1917-1920), engenheiro, empresário e rico
fazendeiro do norte do estado.
Outras vezes, era grande a influência do governo federal na
indicação do “candidato de consenso”, como se deu no ano de 1919, quando o
presidente Epitácio Pessoa impôs o nome de Justiniano de Serpa, à época
deputado federal pelo Pará – tal indicação não foi aceita pelo Partido Marreta,
que optou por lançar um candidato de oposição, Belisário Fernandes Távora.
Essa
ação dos Marretas, custou-lhes a demissão imediata de vários dos seus
correligionários, funcionários públicos federais e estaduais, numa clara
demonstração de que o poder público não admitia quem não seguisse a orientação
oficial.
Contando com o apoio da máquina estatal, Justiniano de Serpa (1920-23)
venceu tranquilamente a Belisário Távora nas eleições de 1920, a única, aliás,
no período pós-sedição de Juazeiro que teve alguma disputa. Novamente houve interferência
da do Governo Federal na escolha do sucessor de Justiniano de Serpa, que por
motivos de saúde, renunciou em junho de 1923, falecendo um mês mais tarde. O
seu vice, Idelfonso Albano, assumiu o poder e cumpriu o restante do mandato.
Perante a falta de consenso, entre democratas e conservadores, o presidente
Artur Bernardes indicou para o executivo cearense o desembargador José Moreira da
Rocha (do Partido Conservador), ficando na vice
Manoelito Moreira (vulgo Mané Onça) político cujo reduto se encontrava
em Caucaia e era líder do Partido Democrata, e saindo para o senado, o mesmo
João Tomé (Partido Democrata).
Governador Justiniano de Serpa
Acontecia igualmente das coligações vitoriosas nas urnas não
serem mantidas durante o mandato do governador. Caso exemplar disso deu-se na
gestão de José Moreira da Rocha (1924-1928), mais conhecido como Desembargador
Moreira (Moreirinha para os mais íntimos), uma das mais desastrosas da história
cearense. Eleito como candidato de consenso, entregou-se de corpo e alma ao
Partido Conservador de José Accioly e promoveu brutal perseguição aos
democratas e demais setores oposicionistas.
Inicialmente
denominado de Pelotão de Bombeiros, o Corpo de Bombeiros do Ceará foi criado oficialmente em
08 de agosto de 1925 pela Lei no 2.253, pelo então Governador Desembargador José Moreira da Rocha.
Naquele momento, final dos anos 20,
o País todo passava por profundas agitações políticas, com revoltas feitas por
jovens militares (tenentes) e manifestações das classes média e populares. Em sua
gestão foram rotineiros os espancamentos, assassinatos, saques, incêndios,
invasões de domicílios, empastelamento de jornais, demissões arbitrárias de
funcionários públicos, além das práticas de nepotismo, clientelismo e
corrupção.
Mas como ficar longe do poder e dos cargos da máquina
pública era um pesadelo para as oligarquias, não surpreende que as mesmas
acabassem se entendendo para as eleições seguintes. Foi o que aconteceu em
1928: em maio daquele ano, o desembargador José Moreira da Rocha, por motivos
de saúde, renunciou ao poder e dirigiu-se para a capital da república,
falecendo logo depois.
Assumiu interinamente o presidente da Assembleia Legislativa
Eduardo Henrique Girão, que administrou o Estado por quase dois meses, tempo
suficiente para reaproximar os Partidos Democrata e Conservador, os quais, mais
uma vez coligados, elegeram para o governo o jurista, advogado e professor José
Carlos de Matos Peixoto (1928-1930). Ligado aos conservadores de Accioly,
Peixoto foi o último governador cearense da República velha, deposto pela
revolução de 30.
governador José Carlos de Matos Peixoto
Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias
Nenhum comentário:
Postar um comentário