terça-feira, 20 de novembro de 2012

Governadores Cearenses entre 1919 e 1930

Palácio da Luz, residência oficial dos governadores do Ceará entre 1809 e 1963 (foto do arquivo Nirez)


Entre 1914 até 1930 nenhuma das oligarquias tradicionais dominou monoliticamente o Ceará. Ao contrário, com a fragilidade estrutural das classes dominantes cearenses, houve um equilíbrio oligárquico, levando à formação constante de alianças e coalizões na escolha da maioria dos governadores desse período. Isso fica evidente na escolha do sucessor de Liberato Barroso (eleito em 1914 para os dois anos restantes do mandato de Franco Rabelo). 
Diante do impasse na indicação de um nome, as diversas facções políticas acabaram por realizar um acordo, escolhendo um governante técnico, sem vínculo direto com nenhum dos grupos políticos, o então pouco conhecido João Tomé Sabóia e Silva (1917-1920), engenheiro, empresário e rico fazendeiro do norte do estado.
Outras vezes, era grande a influência do governo federal na indicação do “candidato de consenso”, como se deu no ano de 1919, quando o presidente Epitácio Pessoa impôs o nome de Justiniano de Serpa, à época deputado federal pelo Pará – tal indicação não foi aceita pelo Partido Marreta, que optou por lançar um candidato de oposição, Belisário Fernandes Távora. 
Essa ação dos Marretas, custou-lhes a demissão imediata de vários dos seus correligionários, funcionários públicos federais e estaduais, numa clara demonstração de que o poder público não admitia quem não seguisse a orientação oficial. 

Governador Justiniano de Serpa

Contando com o apoio da máquina estatal, Justiniano de Serpa (1920-23) venceu tranquilamente a Belisário Távora nas eleições de 1920, a única, aliás, no período pós-sedição de Juazeiro que teve alguma disputa. Novamente houve interferência da do Governo Federal na escolha do sucessor de Justiniano de Serpa, que por motivos de saúde, renunciou em junho de 1923, falecendo um mês mais tarde. O seu vice, Idelfonso Albano, assumiu o poder e cumpriu o restante do mandato. Perante a falta de consenso, entre democratas e conservadores, o presidente Artur Bernardes indicou para o executivo cearense o desembargador José Moreira da Rocha (do Partido Conservador), ficando na vice  Manoelito Moreira (vulgo Mané Onça) político cujo reduto se encontrava em Caucaia e era líder do Partido Democrata, e saindo para o senado, o mesmo João Tomé (Partido Democrata).
Acontecia igualmente das coligações vitoriosas nas urnas não serem mantidas durante o mandato do governador. Caso exemplar disso deu-se na gestão de José Moreira da Rocha (1924-1928), mais conhecido como Desembargador Moreira (Moreirinha para os mais íntimos), uma das mais desastrosas da história cearense. Eleito como candidato de consenso, entregou-se de corpo e alma ao Partido Conservador de José Accioly e promoveu brutal perseguição aos democratas e demais setores oposicionistas.


Inicialmente denominado de Pelotão de Bombeiros, o Corpo de Bombeiros do Ceará foi criado oficialmente em 08 de agosto de 1925 pela Lei no 2.253, pelo então Governador  Desembargador José Moreira da Rocha.


Naquele momento, final dos anos 20, o País todo passava por profundas agitações políticas, com revoltas feitas por jovens militares (tenentes) e manifestações das classes média e populares. Em sua gestão foram rotineiros os espancamentos, assassinatos, saques, incêndios, invasões de domicílios, empastelamento de jornais, demissões arbitrárias de funcionários públicos, além das práticas de nepotismo, clientelismo e corrupção.
Mas como ficar longe do poder e dos cargos da máquina pública era um pesadelo para as oligarquias, não surpreende que as mesmas acabassem se entendendo para as eleições seguintes. Foi o que aconteceu em 1928: em maio daquele ano, o desembargador José Moreira da Rocha, por motivos de saúde, renunciou ao poder e dirigiu-se para a capital da república, falecendo logo depois. 

governador José Carlos de Matos Peixoto

Assumiu interinamente o presidente da Assembleia Legislativa Eduardo Henrique Girão, que administrou o Estado por quase dois meses, tempo suficiente para reaproximar os Partidos Democrata e Conservador, os quais, mais uma vez coligados, elegeram para o governo o jurista, advogado e professor José Carlos de Matos Peixoto (1928-1930). Ligado aos conservadores de Accioly, Peixoto foi o último governador cearense da República velha, deposto pela revolução de 30.  

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias
      

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