quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Herança Cultural Africana

O grande destaque dado à abolição, de certo modo ofuscou a importância dos elementos culturais de origem africana presentes na sociedade cearense, que são mais expressivos do que comumente se pensa.
Alguns municípios cearenses tem sua origem ligada a sítios e comunidades negras, a exemplo de Monsenhor Tabosa, antes chamado de Telha, que teve origem numa fazenda chamada Forquilha, pertencente a uma família de negros, os Teles.
Há o caso da comunidade quilombola de Conceição dos Caetanos, no município de Tururu, surgida em terras adquiridas em 1887 pelo forro Caetano José da Costa, saído de Pacoti – naquela comunidade, por décadas, até os anos 70, os negros casavam entre si, mantendo a tradição. 

 foto: Diário do Nordeste
No vocabulário cearense do dia-a-dia, há várias palavras de origem banto: angu, banguela, batuque, bambo, bunda, cabeça, cachaça, cachimbo, candomblé, moleque, e muitas outras.
Tem-se ainda manifestações artísticas, como o  Maracatu, de origem banto. Outras manifestações culturais negras locais perderam-se ao longo do tempo, como o samba de umbigada e a festa do Congo. No primeiro, os brincantes formavam uma roda, na qual um dançarino ficava a sambar no centro, depois de certo tempo ele se dirigia a um dos componentes da roda, dava uma pancada no umbigo como sinal para que o substituísse. 

 foto do site:http://girosdamocoronga.wordpress.com

A festa do Congo consistia num desfile ou procissão que reunia elementos das tradições de Angola e do Congo com influências ibéricas – entidades dos cultos africanos eram identificadas aos santos do catolicismo (daí  o porquê das festas serem aceitas pela igreja, autoridades e senhores proprietários).   
 Animada por danças, cantos e música, a procissão acabava numa igreja, em geral a da Irmandade de negros de Nossa senhora do Rosário, onde, com a presença de uma corte e seus vassalos, acontecia a cerimônia de coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola – uma personagem da história africana. 
foto Diário do Nordeste

Mais recente são as festas em homenagem a Iemanjá, que reúne milhares de adeptos do candomblé, nas praias, no início do ano. Igualmente importantes são os cultos afro-brasileiros, tratados preconceituosamente até os dias atuais, por certos segmentos cristãos conservadores como macumba, e que por décadas foram reprimidos pela polícia.
Há de se ressaltar o papel de Mãe Júlia, líder de um terreiro no Benfica, em Fortaleza, que nos anos 1950 buscou organizar os adeptos de crenças afro-brasileiras em uma associação e negociou com as autoridades a liberdade de culto.

extraído do livro de Airton de Farias
História do Ceará  

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