domingo, 4 de março de 2012

A Chegada dos Protestantes ao Ceará

Fachada da 1ª Igreja Presbiteriana do Ceará, na esquina das Ruas Sena Madureira com Pedro Borges, no centro de Fortaleza (foto do jornal O Povo)

Ainda no século XIX verificou-se uma pequena expansão do protestantismo no Ceará, provocando a fúria da Igreja católica e de seus fiéis mais radicais, gerando uma disputa não só de fé, mas de espaços de poder. A exemplo do que aconteceu em outros locais do Brasil, os credos protestantes chegaram à província com os viajantes de origem estrangeira, fossem europeus, ou norte-americanos.
Os primeiros protestantes, pelo menos a princípio, não se empenhavam em divulgar o credo ou se manifestar publicamente sobre sua religião, talvez temendo represálias ou prejuízos em suas atividades profissionais, em face da tradição católica do povo cearense.  Possivelmente realizavam seus cultos no espaço doméstico, uma vez que faltavam em Fortaleza templos para aquele fim. Mas a presença protestante era evidente e até considerável, como demonstra a construção de um cemitério de ingleses.
Depois vieram os missionários, com a intenção de mostrar às populações locais outras práticas cristãs, e lógico, angariar seguidores. 


O prédio foi demolido em 1976, depois de ser vendido ao grupo C. Rolim. Hoje tem um edifício no local (arquivo Nirez)

O primeiro a chegar ao Ceará foi o reverendo presbítero De Lacy Wardlan em 1882, num programa missionário promovido pelas igrejas Presbiterianas do sul dos estados Unidos. No mesmo dia da chegada, em um hotel da Praça dos Mártires (Passeio Público), o pastor apresentava o culto aos anfitriões: o capitão do porto e senhora, o chefe dos correios um jornalista recém-convertido e alguns passantes.
Em que pese o culto em língua estrangeira, o americano batizou 13 novos adeptos em julho de 1883. Com isso foi fundada a primeira congregação protestante de Fortaleza, que em 1890, deu origem a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, a mais antiga igreja evangélica da cidade e por muitos anos, a única.
Suas práticas litúrgicas públicas – não fazer culto a santos e a Maria, cantar hinos de louvor em português, difusão da Bíblia e folhetins, artigos na imprensa, comparecimento a enterros –  irritaram os meios católicos, sobretudo porque as leis do império proibiam as demais religiões de se manifestarem publicamente.
Os segmentos católicos usaram de todos os artifícios para intimidar o reverendo, de notas agressivas nos jornais a ameaças e agressões físicas; chamavam-no jocosamente de padre casado ou "amancebado". 
Quando das pregações públicas, não raras vezes, os evangélicos tinham que aguentar insultos, vaias, gritos, piadas e às vezes, até pedradas, sobretudo nas cidades do interior, onde a religiosidade católica era mais exacerbada. Chegou-se a jogar areia no prato de De Lacy quando de sua estada em Baturité. 


Cidade de Baturité (Arquivo Nirez)

Na época, foi aprovada uma lei pela Assembleia Provincial, aumentando escandalosamente os impostos pagos por comerciantes que vendessem livros não católicos. Os protestantes por outro lado, igualmente atacavam/reagiam aos católicos: maridos forçavam esposas e filhos a se converterem, evangélicos quebravam imagens de santos em público e acusavam os católicos de serem fanáticos, ignorantes, supersticiosos.
Apesar de tudo, De Lacy continuou com seu trabalho, voltando para os Estados Unidos apenas em 1901. Em pouco surgiram pela província os primeiros nativos convertidos.

Fontes:
História do Ceará, de Airton de Farias
Revista Fortaleza, fascículo 2

5 comentários:

  1. Lembro-me bem dessa igreja presbiteriana. Quando fui morar no Rio ela estava de pé...um certo dia, estando aqui de férias, vejo um prédio enorme em seu lugar. Ela parecia um templo católico, era bonita.

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  2. eu achava que ali era um igreja católica por causa da arquitetura do templo, era o mesmo padrão dos templos católicos. Mas uma edificação que não sobreviveu ao progresso da cidade. Virou pó.
    abs lúcia

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  3. Bom dia a todos os protestantes que estão em busca dos nossos direitos, que é termos empregos, saúde, estradas adequadas ETC. Os que estão reivindicados o correto! Esses encaixam no ditado, que a voz do povo é a voz de Deus. Gostei do que colocaram para o meu caso que estou desde 2010 com um processo contra o INSS. Onde o que precisa é passar na mão de um Juiz e estão mim enrolando até hoje. Uma hora o Juiz é eleitoral e como era eleição estava 3 meses afastados. Horas dizem que tem um titular que é só para as emergências. Onde escutei que as emergências, são para os que estão presos. Leiam e reflitam o que estou passando: ASSINADO: MARIA SILVANEIDE BEZERRA DOS SANTOS SOUSA. 03/07/2013.

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    1. Silvaneide
      Esses protestantes do post tinham outras metas. Mas ficam registradas suas impressões.
      abs

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  4. Estes desbravadores levarão o evangelho ao interior EM 1897 chega em Baturité-Ceará o evangelho reformado...

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