quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A Seca de 1979-1984


Entre os anos de 1979 e 1984 o Ceará conheceu a mais longa estiagem do século XX. Uma hecatombe sócio-econômica que arrasou a pecuária e a cotonicultura, que entrou em colapso a partir desse evento. Foi a primeira seca global, pois os novos meios de comunicação deram cores e realismo à situação dos sertanejos, antes só imaginada.
as emissoras de tevê apresentavam ao vivo o sertão cinzento e ensolarado, o gado morto de fome e sede, a população indigente, subnutrida e doente. Pessoas morriam de fome, enquanto outras apresentavam como único alimento diário, água barrenta com açúcar, uma xícara de café com farinhas ou ratos e urubus. 
Houve uma sucessão de saques e invasões em vários municípios cearenses - muitos comerciantes temendo os saques, distribuíam alimentos acalmando os famintos. o País ficou chocado. campanhas foram feitas arrecadando recursos e comida para "salvar" o Nordeste, enquanto milhares de pessoas migravam para Fortaleza, agravando ainda mais o abismo social da capital.

Milhões de cruzeiros (a moeda da época) enviados pelo governo federal e entidades privadas  para socorrer as vítimas, desapareciam nas mãos das elites e intermediários da ajuda. Muitos formaram fortunas, às custas da miséria de milhares de cearenses. 
O bispo de Crateús, Dom Fragoso, lançou em 1983 um documento condenando aquelas campanhas. Segundo o bispo, tais campanhas criam confusão, não chegando a todos que necessitam; com esmolas não se combate a miséria, mas com trabalho, terra e justiça. O documento critica ainda "os ricos da televisão, dos clubes e políticos ...que querem dar esmolas para enganar".

 em todo e qualquer período de estiagem, a providência oficial é sempre a mesma: a contratação de caminhões-pipas para distribuição de água. A medida só ameniza o problema por curtissimo espaço de tempo. A solução para o desabastecimento de água no sertão do Ceará, requer investimentos e vontade política. (imagem do site Crato notícias)

O governo enviou caminhões-pipa para distribuir água no interior e abriu frentes de serviços (construção de açudes, cacimbas, estradas, etc), para atenuar a tensão social e controlar os sertanejos, tentando mantê-los nos lugares de origem. Homens, mulheres e crianças trabalhavam duro, quebrando e carregando pedras sob um sol desolador, submetidos à arbitrariedade e à exploração dos encarregados pelas obras. Muitas pessoas desmaiavam ou passavam mal durante o trabalho. 

Em todo o Nordeste, mais de dois milhões e 600 mil pessoas foram alistadas nessas frentes, cujas obras beneficiavam os proprietários de terra. Os salários eram baixos e os trabalhadores recebiam modestas cestas básicas. O alistamento nas tais frentes era humilhante: multidões em desespero se concentravam nas cidade na esperança de conseguir uma vaga. Não raras vezes surgiam desentendimentos entre os sertanejos e confrontos com a polícia.  

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias  

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