A cerca de 500
metros do outrora povoado de Jati, no município de Jardim, na região do Cariri,
encontra-se o rio que deu o nome ao referido município, o Açude Quebrado.
Trata-se de um paredão de alvenaria de pedra, com 45 metros de comprimento de
margem a margem, com 12 metros de altura, que as águas, provavelmente numa
cheia antiga, romperam na extensão de 8 metros. Essa construção desafia a
curiosidade de todos os que a visitam e acende nas imaginações as chamas de
muitas lendas.
A curiosa obra de
engenharia é inteiramente construída de rocha, existindo nela pedras que pesam
algumas toneladas. Quanto à argamassa, é desconhecida, acreditando-se que tenha
sido qualquer coisa semelhante ao cimento, porquanto, somente com fortes
alavancas algumas lajotas podem ser arrancadas, mesmo as menores, tal a
resistência encontrada. Alguns sertanejos aludem ao emprego do sangue de boi...
Em torno do Açude
Quebrado, criaram-se várias lendas. Generalizou-se a crença popular que na
velha parede havia botijas, isto é, vasilhas de barro com dinheiro. Foi o bastante para que sobre ela caíssem as picaretas
e alavancas de vários aventureiros, atraídos por essas lendárias notícias de
tesouros escondidos. Por esse motivo, já não existe o lanço de paredes da
margem esquerda, restando o do lado oposto, repleto de escavações. Desse modo o
velho açude ficou reduzido a cerca de 1/3 de sua primitiva grandeza. As suas
ruínas, porém, graças à resistência do material empregado, subsistirão ainda
por muito tempo.
O açude foi
admiravelmente situado. Ali, o rio Jardim corre apertado entre dois longos
serrotes. Essa espécie de desfiladeiro vai desembocar na vasta planura ao norte
de Jati, atravessada pela estrada Transnordestina. Para a estrada deita o
sangradouro do reservatório, como podia ser visto antes da destruição provocada
pelos boatos da existência de tesouros, o que levaria a crer num plano de
irrigação daquelas terras.
Os moradores
daquelas paragens nada sabem a respeito da origem de semelhante obra. Nem os
mais velhos se recordam de qualquer notícia a respeito. Desde tempos remotos
que o arruinado paredão detém parte da correnteza do rio nas épocas de inverno
farto e se ergue entre suas margens como uma interrogação. A necessidade de uma
resposta se manifesta ao sabor da fantasia de cada um. Há quem pense em
trabalho de povos misteriosos, envoltos nas brumas de passado remoto,
anteriores aos índios que habitavam a região, os famosos Cariris.
Segundo dados de
pesquisadores, os primeiros povoadores da zona do antigo Macapá, troncos da família
Vidal, vieram do Rio Grande do Norte, sendo que já encontraram o paredão
partido ao meio. No baixio, onde o açude desaguava, viam-se restos de um
engenho de madeira para moer cana. À margem direita do rio, no ponto mais alto do
morro, em cuja base passa a Transnordestina, na orla de Jati, há uma clareia em
terreno plano, denominada Fazenda Velha. Diz a tradição que a Fazenda Velha era
propriedade do evolucionário Joaquim Pinto Madeira, que ali resistiu a vários
ataques de seus inimigos. A casa era de taipa, com dupla parede.
A existência da
Fazenda Velha encerra pelo menos parte da decifração do enigma do açude
Quebrado. O reservatório deveria ser dependência desse estabelecimento agrícola,
decerto construído após a seca de 1725. No entanto, se torna difícil averiguar
quais os autores dessa notável obra hidráulica, graças a carência de documentos
que cobrem os primeiros tempos históricos da zona do Cariri.
A Vila do Jardim,
em cujo território se situa o açude Quebrado, é fundação de fins do século
XVIII. Foi inaugurada na condição de vila pelo padre João Bandeira, em 1816. Na
época do povoamento das missões caririenses, desabou sobre o Ceará, a grande
seca que durou de 1725 a 1727. Depois veio outra tão terrível quanto aquela, a
de 1790-1793. Com certeza, a dolorosa experiência dessas crises
climáticas, levou os antigos
proprietários da Fazenda Velha à construção de um grande reservatório de água,
para remediar os efeitos de nova ocorrência do fenômeno.
Extraído do livro
À Margem da História do Ceará
autor Gustavo Barroso.
fotos IBGE
À Margem da História do Ceará
autor Gustavo Barroso.
fotos IBGE
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