sábado, 21 de maio de 2016

Os Fundadores do Ceará - Parte I

A Estrada Velha foi o mais importante e antigo caminho do Ceará seiscentista. Estendia-se como parte de um grande arco, por toda a orla marítima cearense, com extremo Oeste no Rio da Cruz e no lado oposto pela Angra dos Negros. Por esta estrada se chegava ao Maranhão e caminhando em direção oposta, alcançava-se as capitanias vizinhas do Rio Grande, Paraíba e Pernambuco.


A posse de terra pelos colonos era legitimada pelas cartas de Sesmarias – concessões de terras doadas pelo governo para os que tivessem além de posses e bens, família e agregados. Geralmente as terras doadas ficavam próximas dos rios. Datadas a partir dos últimos decênios do século XVIII, as primeiras sesmarias foram distribuídas próximas as praias, seguidas de outras nas zonas interioranas, no roteiro das águas, demarcadas de rio em rio.

 Primeiras Vilas nas bacias hidrográficas do Ceará, 1699-1823


Algumas se tornaram fazendas e currais congregando famílias – as primeiras inscritas na Genealogia Cearense – nos núcleos mais característicos de nossa formação social. As informações genealógicas ligadas a história esclarecem os fatos e fornecem as biografias de homens, segundo Raimundo Girão, coisa indispensável à obtenção da verdade histórica. 


Os núcleos familiares permaneciam sob o comando de um patriarca daquela rude vida coletiva – o rico proprietário – logo mais transformado em chefe político num tempo que o regionalismo significava mais que o nacionalismo. As outras famílias da região ou a ele se submetiam, compondo alianças familiares, ou se tornavam rivais.

Excluindo aquela deixada em abandono por Martim Soares Moreno – o primeiro a efetivar a conquista da Capitania do Ceará – a mais antiga sesmaria cearense, com concessão registrada em documento, pertenceu a Felipe Coelho de Moraes, nas proximidades do forte. Este já se encontrava por ali desde 1662, constituindo a primeira família do Ceará, no início da real dominação portuguesa, após a retirada dos holandeses.

mapa da Capitania do Ceará, dividido pelo campo iluminado de cor. Acervo do Arquivo Histórico do Exército. 

Cem anos depois, no final do século XVIII, a antiga Estrada de Taquara traçada pelos holandeses em direção à Maranguape, foi palmilhada pelo capitão luso Joaquim Lopes de Abreu com família já constituída na Vila de Fortaleza de N.S. Da Assunção. O capitão, obtendo algumas sesmarias, então devolutas, incorporando-as a outras que havia comprado, constituiu em Maranguape uma espécie de feudo para si e sua família.

Essas sesmarias abrangiam Sapupara e Jereraú. Nesta última instalou a sede administrativa de seus vastos domínios. Homem de largos recursos, Lopes de Abreu foi muito influente na Província.  Exerceu as funções de juiz ordinário, juiz de órfãos de Fortaleza, vereador por esta cidade e primeiro gestor do município durante o Império. Compôs a Junta Tríplice que governou o Ceará em 1820, lavrando neste ano, como presidente da Câmara da Vila de Fortaleza, o Termo de Solicitação ao Rei, da elevação desta vila à categoria de cidade. Presidiu e integrou em Fortaleza, a comissão Extraordinária que aclamou o Imperador Pedro II, em 29 de maio de 1831.


Nas terras de Columinjuba, cedidas por Lopes de Abreu ao agricultor de sua confiança João Honório de Abreu, nasceria em 1853, Capistrano de Abreu, o maior historiador brasileiro, neto de João Honório.

No oratório de Jereraú realizaram-se os casamentos dos filhos do Capitão Lopes de Abreu; dois dos seus netos, filhos do Major Agostinho Luiz da Silva, português de Sintra, uniram-se as famílias Mendes Smith de Vasconcelos e Correia de Mello.

Os Correia de Mello e seus parentes Amaral e Sombra desenvolveram a agricultura e industrializaram seus produtos, tornando Maranguape um verdadeiro celeiro para Fortaleza, de vital importância à sua subsistência. O Comendador João Correia de Mello, açoriano da Ilha Terceira e agente-consular de Portugal em Maranguape, pioneiro em 1876, na exportação de laranja para a Europa, favoreceu também o desenvolvimento de Maranguape, trazendo famílias açorianas visando uma melhor utilização de suas terras produtivas.


Dois irmãos do Comendador, José e Antônio Correia de Mello, casaram-se com as filhas de Domingos da Costa e Silva. O famoso "Domingão de Guaiuba", a quem Gustavo Barroso dedicou um capítulo do seu livro “A Margem da História do Ceará”. Domingão, tio do poeta Juvenal Galeno, pertencia a uma das famílias mais importantes da província. Era irmão da Baronesa de Aratanha e de duas outras casadas na família Justa. Toda essa parentela se entrelaçava com donos de sítios nas serras de Maranguape, Aratanha e Pacatuba. Entre os proprietários de Pacatuba encontravam-se as famílias Pinheiro, Medeiros, Cabral, Correia de Mello, Campos, Spindola, Amaral, Albano, Amora, Coelho, Silveira Gadelha, Fernandes Campos, Lopes, Botelho, Siqueira, Soares e Leite. 


Na Serra de Baturité, iniciou-se o cultivo do café, que adquiriu vulto após 1845, com a fixação da população sertaneja que viera fugida da seca. Uma pequena aristocracia foi se formando entre os cafezais dessas serras. Em Baturité sobressaíram as famílias Linhares, Caracas, Holanda, Ferreira Lima, Queiroz, Sampaio e Dutra.


Mais próximo ao litoral disseminou-se a prole do português Manoel Lopes Cabreira, um dos pioneiros devassadores dessas terras, vinculando-se aos clãs Costa Gadelha, Baima, Lopes, e Queiroz, povoando Aquiraz, Cascavel e mais tarde, o maciço de Baturité. Essa descendência ligou-se as famílias Pimentel, Caracas, Castello Branco, Silveira, Torres e Barros Leal. 


O clã Barbosa Cordeiro, de origem afidalgada, transferiu-se de Baturité para Canindé, residindo na Fazenda São Pedro; também para Canindé foram as famílias Vieira da Costa, Santos Lessa, Pinto de Magalhães, Cruz Saldanha, Cordeiro da Cruz, Alves Ribeiro, Gondim, Rodrigues Campelo e Cordeiro da Rocha. 


 Forte de São Sebastião na Barra do Ceará
Encaminhando-se para o lado ocidental de Fortaleza, em Caucaia, instalaram-se os Rocha Motta, Moreira de Souza e Pereira Façanha. A região de São Luiz do Curu, onde seria fundada a cidade de Imperatriz, hoje Itapipoca, povoou-se com as famílias Pires Chaves, Álvares, Cordeiro, Agrela, Jardim, Telles de Menezes, Tomé Cordeiro, Rodrigues Chaves, Ribeiro da Costa, Castro Vianna, Santos, Barroso, Braga, Pereira Pinto, Escócia de Drummond, Moura Rolim, Teixeira Montenegro e outros, que enriqueceram com o algodão de Uruburetama.

fonte:
Construtores da Terra, do livro Ideal Clube, História de uma Sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira



4 comentários:

  1. Prezada Fátima Garcia, mais um texto que mostra só mais um lado da história do Ceará. A citada "Estrada Antiga" nada mais era do que um caminho/picada indígena usada pelos índuos a muitos séculos antes da chegadas desses colonizadores. A história do Ceará é muito mais dinâmica do que a histórias desses colonizadores/invasores de terras de povos com cultura e história.

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  2. mas foram esses invasores/colonizadores que impulsionaram e viabilizaram o Ceará como Estado. Sem eles, o que seriamos? um bando de indios selvagens, pintados p/guerra, vivendo de caça e pesca? Quanto aos caminhos, não ignoro que vários deles já existiam. Mas so ganharam significado quando foram utilizados pelos desbravadores.

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  3. Pergunto: E ser um bando de indios selvagens, pintados para a guerra, vivendo de caça e pesca, há algo de errado nisso? Onde está o sentimento
    e estudo que nos são transmitidos pela antropologia?

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  4. o que quis dizer é que, primitivamente o Ceará era assim. E só evoluiu por causa dos desbravadores. Quanto aos índios atuais, nem eles querem mais viver desse jeito

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