quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A Independência da Capitania do Siará

Através da Carta Régia de 1799 a Capitania do Siará conquista sua independência administrativa de Pernambuco. A separação, festejada de início, acabou por trazer inquietação aos habitantes locais, pois a capitania continuava submetida a sua própria sorte. Os caminhos traçados pelas boiadas, é que decidirão a ocupação do Ceará. O gado trazido do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, que margeava os rios cearenses em sua caminhada, definirá o surgimento das primeiras cidades. 

 Mapa da costa cearense em 1629, atribuído a Albernaz (com destaque para o forte)

O ciclo do couro venceu o isolamento da capitania cearense, integrando-a ao sistema colonial português.  Segundo historiadores, o couro estava presente em tudo: “de couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro e mais tarde as camas para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas de faca, as broacas e os surrões, a roupa de entrar no mato”.

 Rio Jaguaribe com a ponte Juscelino Kubitschek     

As concessões de terra se deram no Ceará em torno do Rio Jaguaribe. A fazenda, geralmente um pequeno latifúndio, constitui a unidade econômica e social do sertão. O comércio do gado em pé continuava se desenvolvendo e constituindo uma nova elite rural. No entanto, os prejuízos causados por grandes travessias acabaram por diminuir o lucro da atividade, forçando o comerciante a vender carne de boi já salgada sob a forma de mantas que resistiriam a longas viagens. Deste modo as oficinas charqueadas ou feitorias serão responsáveis pelo beneficiamento da carne de gado em carne seca, o charque e o couro tratado e destinado à exportação. Icó, Aracati e Sobral são cidades símbolo da riqueza do ciclo do gado no Ceará.

 Rua de Icó

A comunicação entre as cidades cearenses antes da estrada de ferro era extremamente precária. Em períodos de chuva, a ausência de pontes e os grandes lamaçais tornavam-se grandes empecilhos para a circulação de mercadorias. Somente os carros de boi e os burros darão conta da difícil tarefa.
Vindo pagar as mercadorias adquiridas no ano anterior, ao mesmo tempo em que realizavam novas compras, os interioranos em sua grande maioria não pagavam  em dinheiro, eram dados os mais diversos gêneros como moeda de troca: couro, farinha, animais vivos.
Cada comerciante possuía uma freguesia mais ou menos definida. Ele próprio também era arregimentado pelo patrão da praça. Vinham para Fortaleza e aqui se hospedavam em situação precária, na maioria das vezes no insalubre Hotel do Comércio, onde à custa dos patrões tinham direito a almoço e jantar. Em raríssimas oportunidades sentavam à mesma mesa com a aristocracia comercial, formada pelas grandes casas de importação e exportação, os Boris, os Gradvohl, os Albanos.

 Casa Boris em foto de 1908

Nos períodos de chuva o movimento do comércio diminuía e as lojas que perderem sua finalidade viravam espaços para palestras, discussões políticas, jogos de salão e outros tipos de reuniões. Eram no inverno que o comerciante se dedicava às suas fazendas até a chegada das safras.
Embora cada fazenda possuísse sua lavoura de subsistência, toda sua atividade girava em torno da criação de gado. Cercada de alpendres, espaçosa e hospitaleira, a casa de fazenda continha todos os usos cotidianos do sertão, como a capela para os ofícios religiosos, os currais para ordenha e abate do gado. Das fazendas surgiu a figura do “coronel” e toda a denominação política dela decorrente. 
A partir do século XIX o algodão se torna um dos grandes produtos da economia cearense. A abertura dos portos brasileiros em 1808 favoreceu as primeiras transações com a Inglaterra. A partir do governo de Bernardo de Vasconcelos abrem-se as estradas ligando a capital ao interior e são criadas as casas de inspeção. Com a guerra de independência norte-americana, surgiu uma grande demanda dos comerciantes ingleses pelo algodão cearense. No entanto, a avidez do lucro em detrimento da qualidade do produto, causou a recusa do algodão em rama em Lisboa. 

 Praça da Estação de Baturité

As exportações de algodão advindas principalmente de Fortaleza, Aracati, Baturité, Meruoca, Pereiro e Aratanha representaram 60% das exportações cearenses em meados do século XIX, seguidas de café, couro, açúcar mascavo e dos animais vivos. 

extraído do livro A Memória do Comércio Cearense, 
de Cláudia Leitão 
fotos IBGE e Álbum de vistas do Ceará, 1908

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