quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Lenda de Jericoacoara


Contam antigas lendas que, sob o serrote de Jericoacoara, ali onde o sertão adentra o mar, numa gruta ornada de tesouros e objetos mágicos,  vive encantada uma princesa moura. Prisioneira de terrível maldição expia a princesa tenebrosa pena, transformada em serpente, com cabeça e pés femininos. Dizem os adivinhos que, no momento em que algum ser natural ou sobrenatural, traçar no dorso da cobra, uma cruz com sangue humano, a princesa desencantará. Reza ainda lenda que, em torno da princesa encerrada na gruta, estende-se oculta uma cidade de muitas gentes. Conhecedor de tão inverossímil história, narra Joaquim Canuto, o contador de trancosos oficial do lugar, que um feiticeiro espanhol de nome Manoel Queiroz decidiu desfazer o encanto.


Corria o ano de 1938, quando o feiticeiro, fascinado pelos encantos da princesa, e querendo arrebatar sua beleza e riqueza, convocou os moradores do pequeno arruado para a empreitada. Em grande romaria, caminharam por sobre maravilhosas dunas de areias  alvas e finíssimas, contornadas por verdes coqueirais, onde o vento tocava uma música mágica, tangendo-lhes as palmas como se fossem cordas de uma sublime harpa.


Beirando a esmeralda cristalina do mar, deram de frente à gigantesca porta da gruta. Acenderam tochas para iluminar a trilha e os mais destemidos já se preparavam para adentrar o misterioso recinto, quando teve início uma grande controvérsia entre os circunstantes. O feiticeiro penhorava o sacrifício de alguém, pois só desse modo poder-se-ia libertar a cidade e desencantar a princesa. Porém, ninguém queria se apresentar como voluntário. Foi quando, após atordoante estrondo, surgiu no portão da gruta a horrenda serpente, na qual a princesa fora encantada. Alguns juram ter ouvido o alarido de animais e gentes da cidade.

Ninguém, entretanto, ousou enfrentar o monstro. O primeiro a fugir foi o feiticeiro, o que causou revolta no povo, que o conduziu a cadeia da vila mais próxima. Antes que a prisão se consumasse, desgostoso e desesperado, o espanhol Manoel Queiroz pulou do alto do penhasco que encima o serrote.

extraído do livro
O Ceará dos anos 90 - censo cultural
fotos de Jericoacoara - Ricardo Vianna

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