sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

As Secas como Fenômeno Sócio-Climático



Devido a sua regularidade, as secas eram de grande importância para a compreensão da história do Ceará, influenciando no dia-a-dia dos habitantes, no movimento das populações e mesmo na produção da cultura local. Assim, a seca não é somente um fenômeno climático, mas também social.  A cada final e início de ano, o cearense busca sinais de como será o período chuvoso – o comportamento de certos animais, de insetos, manchas no sol ou no céu, o os ventos, podem ser indicativos de bom inverno ou de mais um período de estiagem.    
No encontro de amigos nas vilas ou nas reuniões nos alpendres das casas sertanejas, o assunto normalmente vem à tona. Nas orações diárias ou nas missas, o pedido aos Santos era pela graça de se ter água em abundância. 
Quando, porém, acabava o mês de março chegava Abril, sem chuvas, as preocupações começavam: como encarar a escassez de alimentos, a perda de safras,  e a falta de pastos para os rebanhos. Diante das grandes distâncias dos sertões, o calor insuportável, a falta de água e alimentos, a seca poderia ser fatal.  
As irregularidades das chuvas já são registradas nos documentos desde os primeiros momentos da conquista do atual território do Ceará. Em 1608, Pero Coelho retirou-se do Siará Grande em sua frustrada tentativa de conquista da terra, em meio à calamitosa estiagem. Nos primeiros séculos da conquista, há referências a diversos períodos de seca. Em todos eles, normalmente ficavam nos sertões um rastro de morte e fome, pois se arruinava a produção agrícola e pecuarista. Não raro ocorriam surtos de doenças como a varíola, afligindo e dizimando a população.  


O fenômeno da seca atinge a todos, ricos e pobres. A falta de água e comida obrigava os sertanejos a se deslocarem, num estratégia de sobrevivência.  Vilas e fazendas ficavam despovoadas ou precariamente habitadas.
Contudo, a maneira como os grandes fazendeiros e comerciantes experimentavam a seca era distinta da forma sentida por pequenos proprietários, escravos, agregados e outros. Como os grandes latifundiários tinham propriedades em regiões diferentes (serras, vilas, etc) tinham mais opções de deslocamento dos rebanhos e dos familiares, não sofrendo os infortúnios e dependendo menos da ajuda de outros.


Já as camadas mais humildes da população buscavam refúgio onde moravam familiares ou amigos. A presença destes era importantíssima, afinal significava facilidade em obter comida, trabalho, teto, ou apoio para recomeçar a vida e reconstruir suas modestas habitações.
Havia casos de os homens partirem na frente, em busca de uma área propícia, deixando a mulher com os filhos para trás – isso para terem mais facilidades nos deslocamentos, e não submeter a família às dificuldades da viagem – muitos  migrantes morriam durante as longas caminhadas. Ao encontrarem uma região com melhores condições, aqueles homens voltavam para buscar a mulher e os filhos. Existiam ocasiões, contudo, dos homens nunca voltarem , ou quando voltaram, encontraram seus parentes mortos.
As regiões cearenses eram atingidas pela seca de maneira distinta. Vilas mais prósperas, situadas em regiões litorâneas ou áreas serranas, a exemplo de Aracati e Crato, resistiram com menos dificuldades ao flagelo, apesar de terem suas populações aumentadas com a migração dos retirantes.

vídeo: musica Triste Partida, de Patativa do Assaré
voz de Luiz Gonzaga
fotos: Folha.Uol.
fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias

2 comentários:

  1. Se houvesse interesses políticos não haveria no nosso sertão fome e miséria.

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    1. Sandra Regina,
      As políticas públicas voltadas para o problema da seca são ineficientes e insuficientes. Falta vontade política e competência também. Além do mais é do interesse desses políticos manter essa população dependente deles, é assim que eles são eleitos, em troca de uma cesta básica, uma bolsa familia, uma dentadura, etc,etc

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